IX - Aulas normais

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Passou uma semana e os acontecimentos do primeiro dia de aulas pareciam um caso isolado. Tornaram-se demasiado distantes para merecerem sequer um apontamento de pé de página na sua preocupação e acabaram por esquecer o incidente com o Johnny. Reduziram a sua importância e foram à sua vida, como sempre o tinham feito. Estavam no Instituto para o Ensino e Ciências Castle of Glass para estudar e fazer o ensino secundário. Esse era o seu principal objetivo e era nisso que concentravam todas as suas energias.

Mike, Brad e Rob eram alunos razoavelmente empenhados quando entravam em qualquer escola – e já tinham conhecido várias. Focavam-se nas tarefas que lhes eram atribuídas, se havia trabalhos de grupo juntavam-se aos outros alunos e participavam ativamente e com a maior naturalidade que lhes era possível. Eram bastante sociáveis e davam-se bem com os outros. Conseguiam essa proeza sem se mostrarem demasiado amistosos ou com uma confiança exagerada. Não invadiam o espaço pessoal dos colegas e os colegas, vendo-os reservados, também não invadiam o deles, porque os tinham como simpáticos e prestáveis. Começavam por montar um perímetro à base do respeito e essa estratégia dava sempre bons resultados.

O Johnny, entretanto, tinha-se afastado, ou acabara assoberbado pela exigência das aulas e deixara de ter tempo para outras questões, Mike não sabia precisar o que tinha sido. De qualquer modo, deixou de se preocupar com o brutamontes.

Mesmo com as coisas aparentemente mais calmas, Mike encarregou Brad de fazer um inquérito exaustivo ao seu novo amigo, o Charles Elliot. Então, ficou a saber que o Johnny era um aluno medíocre, filho do presidente do município, apenas tolerado pelos professores que não gostavam dele e das suas maneiras brutas e ofensivas. Mas faziam vista grossa àqueles maus modos porque ele tinha uma bolsa de estudos que lhe pagava a propina e o pai fazia generosas contribuições monetárias para o fundo financeiro da escola. Era o capitão da equipa de futebol americano e gostava de trocar de namorada todos os meses. Escolhia-as da claque que seguia a equipa e os jogadores nos treinos e nos jogos para o campeonato entre as escolas do distrito.

Mike acreditava que o aparente desaparecimento do Johnny não se relacionava diretamente com o facto de eles, a partir do segundo dia, terem passado a vir para a escola juntos. O brutamontes simplesmente estava ocupado e já se teria esquecido que escolhera o Mike como alvo para aquele ano letivo. Talvez tivesse sido só uma mania que lhe passou pelo cérebro atrofiado naquele primeiro dia de aulas. Encontrara o Mike no refeitório e fizera-lhe mal numa base puramente aleatória.

Bem, o certo era que eles foram deixados em paz e até agradeceram serem ignorados, esgotada a novidade dos alunos caloiros do Instituto – para além deles havia cerca de duas dezenas de outros alunos que ingressavam nas turmas da escola pela primeira vez. Mais ou menos cinco dias depois já ninguém olhava para eles de uma maneira escrutinadora e curiosa, apontando-lhes dedos e cochichando entre si. Isso também facilitou que eles se sentissem bem em assumir que eram irmãos.

Se houve alguém que achou estranho verem-nos juntos, não se aperceberam. Quando estavam na escola, Mike e Brad eliminavam a sua super-audição e Rob bloqueava os feitiços que o faziam aumentar os sentidos para não se depararem com informações desnecessárias e embaraçosas. Deixavam de ter uma abrangência sobre o meio ambiente que os rodeava e que podia ser teoricamente hostil, mas fazia parte do processo de integração tentarem ser como os rapazes da sua idade que, obviamente, não possuíam as suas capacidades extraordinárias.

Dos três, Mike era o mais apreensivo em relação àquela decisão. Ele sempre agira como o líder da irmandade, sempre se dedicara a eliminar ameaças e a protegê-los, parte instinto, parte obrigação. Ter de reconfigurar as suas opções, que costumavam ser bastante intransigentes para o início de cada ano letivo numa escola nova, era uma tarefa árdua que implicava uma grande força de vontade da sua parte. Podia ser visto como um pequeno drama desnecessário. Afinal era só uma mudança insignificante, mas qualquer mudança para Mike era complicada. Requeria preparação, ajuste, dedicação.

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