XIV - O tabuleiro do jogo

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Na segunda-feira, Mike, Brad e Rob estavam de regresso à escola e era como se fosse novamente o primeiro dia. Estavam determinados em cumprir com o plano que tinham delineado no sábado, depois de terem saído, humilhados, da casa e da festa do Charles Elliot.

Se tivessem de hipotecar aquele primeiro semestre para terem paz nos semestres seguintes até ao fim do secundário, quatro anos depois, fá-lo-iam de bom grado. O tempo estava sempre a seu favor. Eles tinham a possibilidade de esperar e de esperar infinitamente. A única baliza que os condicionava era a sua própria vontade. No presente caso, eles queriam ficar naquela cidade e desejavam completar os seus estudos no Instituto para o Ensino e Ciências Castle of Glass. Era nesse equilíbrio entre o poder e a submissão que eles, normalmente, existiam.

Mike apertou o ombro do Brad, depois de ter acenado a Rob com a cabeça. Não disseram nada e seguiram para a primeira aula, que era Inglês. Entraram juntos e foram dos primeiros alunos a ocupar as respetivas cadeiras. Brad notou que duas moças comentavam qualquer coisa aos segredinhos depois de terem acompanhado Mike com os olhos. Teriam estado na festa ou o que acontecera com o Johnny já era notícia corrente na escola.

Ignorou os comentários – que podia ter escutado, bastando ter ativado a sua audição apurada. Abriu os livros e os cadernos, dispôs os lápis e as esferográficas, levantou-se quando o professor entrou na sala, sentou-se depois de receber a indicação de que o podia fazer. Escutou a aula toda, do princípio ao fim com toda a sua atenção.

Na segunda aula, iriam separar-se. Estiveram no pátio a aproveitar o intervalo, mas sem dizerem nada uns aos outros. O Elliot apareceu, esbaforido, correndo na direção deles. Mike encarou Brad e ele negou com a cabeça. Não o tinha chamado, nem sequer o tinha visto. Estavam no início da manhã. Tiveram a aula de Inglês e mais nada, estiveram sempre juntos. O que um sabia, sabiam os outros dois.

– Ei, Mike! Estás aí! Como estás? Está tudo bem contigo? – perguntou o Elliot de rajada, quando parou junto dos irmãos.

Rob passou o peso de uma perna para a outra. Brad espetou o queixo e Mike percebeu que fora um pouco rude com toda aquela desconfiança e censura.

– Sim, está tudo bem comigo – Mike pigarreou, porque a sua voz soava seca e rude.

– Já não tens as marcas na cara... ainda bem. Ficaste muito maltratado? Queria pedir-te desculpa, meu. O que aconteceu contigo foi muito chato... Não quero que fiques a pensar que as minhas festas são violentas. Não são, está bem?

O outro estava nervoso. Mike disse-lhe, sério e contraído:

– Tudo bem, Charles Elliot. Acredito que nas tuas festas não acontecem cenas como a do passado sábado.

– Os meus convidados não costumam ser sovados. Trato muito bem os meus amigos. Isso é um facto verdadeiro e comprovado.

– Fico feliz com isso.

– A sério? A sério que está mesmo tudo bem, Mike?

– Sim. Está tudo bem.

Mas falava num tom tão monocórdico, a sua atitude mantinha-se tão rígida e distante, que o Elliot tinha dificuldade em acalmar-se ou crer na sinceridade das suas palavras. A campainha tocou, a chamar os alunos para a próxima aula. O Elliot sobressaltou-se.

Brad deu-lhe uma palmada nas costas.

– Está mesmo tudo bem. Sem ressentimentos. O Mike não ficou zangado.

– Não ficou? – quis o Elliot assegurar-se.

– Pelo menos, não ficou zangado contigo. Com o Johnny é outra história...

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