XIII - Definições importantes

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Fizeram o percurso de regresso à sua casa também a pé.

Mike ia um pouco mais à frente de Rob e de Brad, encolhido, embrulhado na sua capa, com um passo incerto que tanto acelerava, como se suspendia, parava, hesitava, pairava e até se arrastava. As ruas estavam silenciosas e frias, mergulhadas em sombras quietas. Eles atravessavam o cenário como se o furassem e o invadissem, como se não pertencessem ali. Estavam tão sozinhos quanto as ruas. Desajustados. Nunca se tinham sentido assim naqueles anos todos de irmandade.

– Mike?

Ele não respondeu ao chamamento de Brad. Rob fez que não com a cabeça e encolheu os ombros, mas Brad não desistiu:

– Mike? O que foi que aconteceu ali dentro? Era impossível o Johnny deixar-te magoado. Tu podes parti-lo ao meio com uma mão atrás das costas. Aliás, não sei porque motivo não partiste já o Johnny ao meio para ver se ele aprende que não se deve meter com um vampiro com mais de duzentos anos. Já são cenas a mais... no refeitório, na cafetaria, agora na festa do Elliot...

Mike parou repentinamente. No mesmo movimento rápido, aproximou-se dos irmãos. Pararam os três e ficaram a entreolhar-se. As manchas arroxeadas no rosto do Mike permaneciam. Ele mantinha-as como uma espécie de lembrança, de troféu, uma forma de ter a raiva a cozinhar em lume brando dentro de si.

– Nada de violência – rosnou.

– Está bem, nada de violência. Mas temos de resolver o problema do Johnny. Ele não pode continuar a perseguir-te e a... a agredir-te. Como foi que ele te fez isso? Tu viste, Rob?

– Não, Brad. Não vi nada.

Mike endireitou as costas. Ficou hirto, direito como uma coluna. Ele costumava adotar essa posição quando se desligava do mundo, ou quando estava inquieto e antecipava, deste modo, as possibilidades de um ataque. Brad percebeu.

– Mike... nós, desde o primeiro momento, que só queremos ajudar-te.

– Eu sei – murmurou. – Eu sei. O Johnny esteve sossegado nestas semanas, julguei que se tivesse esquecido de mim. Depois apareceu no Music and Chips. Devia ter percebido os sinais. O que ele disse... Ele não me vai deixar em paz.

– Não és só tu, somos também nós. Nós todos somos o alvo do Johnny – emendou Rob, sério, apoiado no bordão que agarrava com as duas mãos, parecendo velho e vergado, como um mago antigo.

– O Rob tem razão, Mike – concordou Brad. – Depois de o Johnny se cansar de brincar contigo virá atrás de nós. Temos de fazer qualquer coisa... juntos! Na escola têm de perceber que quem se mete com um, mete-se com todos. Iremos reagir em conjunto. Fizemos a demonstração na festa do Elliot. Fomos em teu auxílio. Até agora temos estado sempre à espera, na defensiva. Está na altura de passarmos à ação. E que aconteça já neste primeiro semestre, antes da pausa do inverno, porque senão vamos ter um ano completamente estragado, do princípio ao fim. E não podemos... não devemos permitir que nos estraguem o nosso ano escolar.

Mike suspirou longamente, como se ainda pudesse guardar ar nos pulmões.

– Não pude reagir ao ataque do Johnny – começou a explicar. – Ela interferiu... se reagisse, ela acabaria prejudicada. Deixei-me apanhar, deixei que o Johnny me batesse, deixei-o pensar que me podia atingir. Esse pequeno teatro foi necessário. Desculpem se vos assustei. Claro que o Johnny não me magoou. Bem, se contarem com o orgulho ferido... então sim, o Johnny magoou-me e o seu golpe foi bem fundo. – Rangeu os dentes, o corpo estremeceu pronunciadamente. – Para mim, foi definido um limite. Chega! Passemos à ação! Admito que fui bastante ingénuo nesta questão. Julguei que o Johnny se tinha esquecido de mim e da sua implicância comigo. Passaram-se duas semanas e estava tudo tão tranquilo... Não devia ter baixado a guarda. Deixei-me enganar, deixei-me amolecer...

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