X - Uma espécie de lanche

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O final daquele dia mostrava-se luminoso. Os raios oblíquos do sol a declinar no céu coavam-se entre os objetos e realçavam os contornos, tornando a tarde bonita, apesar de ligeiramente fria. Depois das aulas, Mike, Brad e Rob deixaram partir o autocarro escolar e resolveram descobrir onde se situava esse famoso Music and Chips para responder ao convite inesperado do Charles Elliot.

Mike não queria usar os seus poderes sobrenaturais, opôs-se determinantemente à ideia do Brad com um daqueles discursos veementes em que sibilava as palavras para que não escutassem a sua discussão. A sua sugestão era seguirem algum grupo de alunos que eventualmente se dirigisse para a cafetaria para descobrirem sozinhos o caminho. Deviam portar-se sempre como rapazes normais, até fora da escola, mas não seria necessário interagirem demasiado. No meio desse discurso, Rob apontou para o cruzamento do fundo, onde o autocarro escolar voltava à direita depois de o semáforo ter mudado para verde, e disse:

– É por ali. Temos também de virar à direita.

– Uau... afinal há quem use os seus poderes sem pedir autorização – ironizou Brad, semicerrando os olhos. – Se calhar é melhor assim, para não escutar o sermão habitual do senhor Mike.

– Os meus sermões...

– Chega, Mike – pediu Brad erguendo a mão. – Vamos lá conhecer esse lugar famoso. Pedimos uns batidos, fingimos que bebemos enquanto trincamos as palhinhas e observamos o ambiente.

– Estou curioso para saber como será essa cafetaria – disse Rob.

Os ombros de Mike murcharam e, dando-se por vencido, pôs-se a seguir os dois irmãos. Enfiou as mãos nos bolsos das calças e foi pontapeando pedrinhas que encontrava pelo caminho. Gostavam de o ter como líder, para depois despachá-lo do posto se ele se mostrasse demasiado exigente. Não compreendia a dualidade dos irmãos, fazia-lhe confusão que fossem tão exigentes para umas coisas e noutras serem tão descontraídos.

A cafetaria ficava perto da escola, como o Charles tinha indicado. Chegava-se lá em cerca de dez minutos. Situava-se num bairro comercial entre armazéns, uma loja comunitária de troca de roupas e um supermercado, e destacava-se devido ao pequeno tumulto benigno que enchia o seu parque de estacionamento.

Funcionava num edifício atarracado e servia refeições rápidas, refrescos, bebidas diversas, café e bolos. A frente era uma enorme montra que mostrava os assentos e as mesas, costas com costas, ao estilo de um vagão de comboio. A porta era de batente duplo de vidro, com caixilhos e puxadores em metal branco, no extremo esquerdo. Por cima da montra estava um letreiro luminoso que piscava em vermelho e azul com o nome, Music and Chips, rodeado por uma moldura prateada permanentemente acesa, decorado com estrelas e um microfone estilizado em lâmpadas finas de néon. As laterais da casa estavam desimpedidas, rodeadas por um gradeamento também branco que delimitava uma passagem que levava até às traseiras, onde estavam os caixotes do lixo e um segundo parque de estacionamento, utilizado pelos funcionários e para cargas e descargas.

Enxames de alunos ocupavam o piso cimentado à frente da cafetaria onde estacionavam alguns automóveis que Mike reconheceu do parque da escola e que pertenciam aos meninos ricos que se deslocavam em carro próprio. Ele parou a observar o ambiente. Brad e Rob fizeram o mesmo. Um coro de gargalhadas e de boa-disposição animava o recinto e chamava mais clientes.

– E agora? – sussurrou o feiticeiro, num nível tão baixo que Mike só percebeu a pergunta porque recebera-a também telepaticamente.

– Agora, vamos entrar. Ocupamos uma mesa, fazemos o nosso pedido e ficamos durante algum tempo.

– Parece divertido! – exclamou Brad.

– Para ti tudo é divertido – disse Mike, mas fê-lo num registo ligeiro e o irmão abraçou-o pelos ombros. – Ok, vai ser como na escola... Se estivermos descontraídos corre bem.

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