Brad puxou Rob de lado. Enfiaram-se num recanto formado por uma fileira de cacifos que coincidia com uma esquina. Estavam protegidos pelas sombras daquele esconderijo improvisado, mas tinham de ser rápidos. Tocara para o próximo bloco de aulas e os alunos entravam nas respetivas salas, vazando os corredores.
– O que foi, Brad? Não podemos estar aqui. Já deu o toque...
– Vamos à procura do Mike.
– Agora? Não podemos... temos de ir para as aulas e já estamos atrasados.
– Se faltarmos à próxima aula...
– Não podemos faltar! – tornou o feiticeiro a interromper. – O Mike não vai querer isso e muito menos vai gostar que estejamos a planear faltar às aulas por causa dele.
– Ele vai ficar furioso. Eu sei, eu sei. Mas é que... – Brad baixou os olhos, torceu as mãos.
– Achas que ele está a precisar de ajuda por causa do que aconteceu no refeitório? – perguntou Rob, num raro momento de preocupação. Ele costumava ser bastante distraído e nunca levava nada a sério. – Logo falamos em casa. Acho até que vamos falar desta questão. Para quê antecipá-la?
– Sim, acho que o Mike está a precisar de ajuda e que está à nossa espera para conversarmos. Ele também vai faltar à próxima aula. Queres uma aposta? Não vai querer esperar que cheguemos em casa no fim do dia.
– O Mike não precisa de ajuda. Ele enfrentou o tipo com muita coragem. E não estou a ver o Mike a faltar às aulas no primeiro dia.
– Rob... Estás com medo do Mike?
– Sim! – admitiu o feiticeiro, ruborizado. – Sim, estou com medo da reação do Mike se formos falar com ele por causa daquela humilhação descabida no refeitório, em frente a toda a escola. Eu ainda quis fazer um feitiço, ele percebeu e mandou-me ficar quieto. Portanto, o Mike não quis a minha ajuda no meio da confusão, muito menos agora que já está tudo esquecido. Ou que devia estar tudo esquecido.
Brad considerou aquela resposta. Fingiu um suspiro.
– Eu conheço o Mike, Rob. Ele não vai esquecer nada. E tenho informações importantes. Um tipo chamado Charles Elliot falou comigo sobre o rapaz que atacou o Mike. As coisas não vão ficar só por aquilo que aconteceu hoje, no refeitório. Se não se fizer nada, o Mike vai estar metido num grande problema, nós vamos ser arrastados para dentro da tempestade e os três seremos atingidos. Percebe isto, Rob... O Mike quer ficar nesta cidade, quer ficar nesta escola. Ele vai fazer qualquer coisa para ficar, e se o tipo de hoje se meter no nosso caminho, pois... Imagina o que vem aí!
– O Mike vai querer enfrentar o tipo? – estranhou o feiticeiro. – Mas para não darmos nas vistas devemos deixar os valentões em paz, ignorá-los, tentar que eles nos ignorem também. Já resultou no passado. O Mike vai querer aplicar a mesma fórmula.
– Não vai resultar com este valentão, acredita em mim. O melhor que temos de fazer é tentar resolver esta situação já. E que seja a bem, antes de tentarmos resolver a mal. Precisamos de conversar com o Mike. Imediatamente!
Rob viu lógica no ponto de vista do vampiro. No entanto, como não queria faltar às aulas, impôs a condição de se encontrarem com o Mike no próximo intervalo, no lugar que achassem melhor. Seria o mais ajuizado. Brad acabou por concordar. Mostrou-lhe um polegar para cima. Deu meia-volta e correu corredor afora até à sua sala, a última porta. Passou pelo senhor Eastman que patrulhava aquela ala e que o olhou carrancudo. Brad fez por desviar-se dele, mantendo a cabeça baixa. Se fingisse que o homem não estava ali, não seria interpelado. E não foi mesmo.
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Os Irmãos Park
FantasiaTrês irmãos adolescentes mudam constantemente de cidade para proteger o seu segredo - eles são dois vampiros e um feiticeiro. Apesar do seu estatuto de criaturas sobrenaturais, o trio sente a necessidade de mostrar que são ainda rapazes normais, igu...