VII - Ao entardecer

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Combinou telepaticamente com o Rob encontrarem-se no centro comercial para comprarem o que precisavam para as suas aulas específicas. No caso dele, tinha uma lista exaustiva com diverso material de desenho, pintura e modelagem. No caso de Rob eram equipamentos para a prática desportiva, desde roupa a calçado, passando por acessórios como toalhas e sacos.

Os três irmãos Park conseguiam comunicar-se através do pensamento, o que era muito prático e conveniente. Tinham um telemóvel nas suas mochilas, mas nunca o usavam e estava permanente desligado, sem aplicações instaladas. Era só um adereço para que os outros rapazes da mesma idade os vissem como alguém igual a eles. Por vezes brincavam com os aparelhos como se estivessem a jogar ou a navegar nas redes sociais, mas era tudo um elaborado teatro. Quando queriam falar uns com os outros, usavam o canal telepático.

Mike sentia-se esgotado e só queria ir para casa, esconder-se no seu quarto cheio de teias de aranha e deixar-se ficar aí, encolhido no canto onde houvesse mais pó. Ficou muito aborrecido com o caso do Johnny no refeitório, admitia-o, desejara enfiar um soco na cara do rapaz, mas não queria responder com violência a um ato violento. Julgou que tinha sido um caso isolado, que não seria mais incomodado, e eis que o Johnny foi esperá-lo à porta da sua sala de artes gráficas e avisá-lo de que passaria a ser o seu saco de pancada, a sua diversão para aquele ano letivo. Podia novamente resolver aquilo com um soco bem colocado, mas depois quem ficaria mal era ele. E isso não seria nenhuma solução. Apenas desataria uma guerra que só tenderia a piorar.

Em consequência, sentia-se exausto. Não lhe apetecia ir às compras, mas não se podia esquivar. No dia seguinte já teria de levar o bloco de desenho, o portefólio e os lápis de cor acerados. E o Rob já tinha um primeiro treino na equipa de beisebol, tinha de levar um taco e uma luva, para além de um conjunto de bolas para partilhar com a equipa.

Aguardou indiferente na porta de entrada do centro comercial. Por dentro, estava a ferver e a uivar, impaciente e irritado, a alimentar o seu cansaço psicológico. Imaginou um primeiro dia de aulas normal, sem outras questões adicionais, e agora teria de lidar com um perseguidor, sabendo que não devia provocar demasiado a sorte ou seria ele o perdedor, a todos os níveis.

Descobriu Rob do outro lado da estrada, a preparar-se para atravessar na passadeira. Só estava à espera de que o sinal do semáforo passasse a verde. Levantou um braço e acenou. O feiticeiro também levantou um braço, indicando que o vira.

No meio da pequena multidão, que cruzava a enorme porta envidraçada escancarada que dava acesso ao centro da comercial, surgiu Rob sorridente. Enfiava os polegares nas duas alças da mochila que tinha às costas e estava tão descontraído que Mike desfez parcialmente a sua apreensão.

– E o Brad?

– O Brad não tem nada para comprar, para já – contou Rob, passando o peso de uma perna para a outra. – Diz que só vai precisar de uns reagentes, um bloco de notas com separadores, uma bata e material de proteção individual mais para a frente, quando tiver de preparar o seu projeto de ciências a apresentar antes da pausa de inverno.

– O Brad costuma ser leviano e não levar nada a sério, fazer tudo à última hora. Ele tem a certeza de que não precisa de comprar nada? – admirou-se Mike.

– Foi o Brad que o disse.

– Sim, mas ele é leviano.

– Mike, nem tu, nem eu, estivemos nas aulas do Brad para comprovarmos que é assim. Logo, vamos ter de confiar na palavra do Brad.

– Tens razão. Estou a ser um idiota.

– Sim, estás a ser um idiota, Mike. Desde que o dia começou. Oh, vejo que resolveste colocar novamente a tua capa...

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