Brad estava na biblioteca a estudar para o projeto de ciências. No fim do primeiro semestre os alunos tinham de apresentar um trabalho prático que demonstrasse a matéria que estavam a aprender e que contava para a nota final da disciplina. Fazia parte da avaliação contínua daquela área que era muito exigente. Brad percebeu a tempo que não se podia desleixar, confiando nas suas capacidades e em todo o conhecimento que tinha adquirido ao longo dos anos, por repetir algumas vezes o secundário. Tinha mesmo de apresentar trabalho feito e de puxar dos seus galões, mostrando-se como o bom aluno que ele sabia que era.
Escolheu fazer um projeto em química, com apresentações mensais dos seus progressos. Era uma matéria complicada e difícil, mas que lhe espicaçava o intelecto. Tratava-se também de um desafio interessante, em que podia misturar o que já sabia com o que estivesse a aprender atualmente. Teria de moderar o seu entusiasmo e de aparentar estar a aprender o que ele já tinha aprendido, com outros professores, noutras escolas, mas não iria refrear-se na altura de sobressair. Ele adorava as luzes da ribalta – algo contraditório para um vampiro que devia movimentar-se, supostamente, nas sombras. Adorava também o reconhecimento, os elogios, o espanto que causava nos outros. No fundo, adorava impressionar.
Falou com o professor da disciplina e apresentou-lhe a ideia. Criar uma solução para resíduos tóxicos no sistema de canalização do Instituto, purificando a água que saía das torneiras. O professor achou um projeto demasiado ambicioso e sorriu–lhe com condescendência. Por outras palavras, achava um trabalho difícil, para não dizer completamente impossível, para um aluno de dezasseis anos que estava a começar o secundário. Tentou demovê-lo e apresentar-lhe outras possibilidades menos complicadas, mais adequadas à sua idade e conhecimentos. Brad, no início, assustou-se ligeiramente, temendo ter-se desmascarado. Mas depois percebeu que ser arrojado dava-lhe pontos suplementares junto do professor que apreciava alunos inventivos e insistiu. Seria um projeto trabalhoso, mas ele não pretendia apresentar um sistema definitivo, de aplicação imediata, até porque o conselho diretivo da escola é que tinha de tomar a decisão se aprovaria ou não uma alteração na estrutura dos edifícios. Serviria, como objetivo final, explicou Brad, para que ele pudesse lançar as bases para um sistema que levasse a uma alteração da qualidade da água fornecida pela escola. Essa explicação convenceu o professor que o avisou que teria de fazer a maior parte das etapas do projeto sozinho, encontrando as soluções que depois seriam validadas. Brad apertou a mão ao professor e aceitou as condições.
Contou ao Mike naquilo em que se tinha metido. O seu irmão assobiou, impressionado. Era, realmente, um projeto bastante elaborado que lhe iria ocupar a maior parte do tempo livre. Brad não se importou muito. Gostava de aprender, de fazer pesquisas, de ler, de estar ocupado com alguma coisa que consumisse o tempo absurdamente longo que tinha para gastar em cada dia. Se era alguém que não dormia, podia fazer serões. Para mais, o Rob estava empenhado em todas as modalidades desportivas em que se tinha inscrito. A mudança de atitude acontecera depois de ter sido muito elogiado após a prestação na aula de futebol em que enfrentara o Johnny em campo e determinara, orgulhoso, que passara a adorar a área de desporto. O Mike, por seu turno, fazia parte de um grupo que iria apresentar os gráficos para um videojogo no final daquele ano letivo. Estavam ocupados e ele também precisava de se ocupar, de esgotar energias, de se distrair, de se embrenhar numa tarefa que o absorvesse completamente.
Brad começou por passar as horas vagas, proporcionadas pelos furos do horário, na biblioteca da escola. Iria recolher a informação de que precisava. Iria também reforçar conceitos que já tinha usado em tempos, noutras aulas de química. Levava um bloco de notas e tirava apontamentos, à antiga, tudo manuscrito. Podia usar o telemóvel e tirar fotografias das páginas mais interessantes, para depois transcrevê-las num processador de texto onde compilaria o que ia obtendo, mas gostava mais de fazer tudo à mão. Era mais lento, mas absorvia a matéria com outro vagar. Consolidava o que aprendia com outra facilidade.
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Os Irmãos Park
FantasyTrês irmãos adolescentes mudam constantemente de cidade para proteger o seu segredo - eles são dois vampiros e um feiticeiro. Apesar do seu estatuto de criaturas sobrenaturais, o trio sente a necessidade de mostrar que são ainda rapazes normais, igu...