XXX - O baile de inverno

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Faltavam cinco dias para o Natal e a cidade estava toda enfeitada com luzes e árvores decoradas, a lembrar a todos que se estava naquela época especial do ano em que a magia se distribuía por todos, crentes e não crentes.

Rob achava piada ao Natal. Era a única vez em que podia fazer alguns feitiços que deixavam pessoas felizes, especialmente crianças ou desencantados que tinham deixado a criança morrer dentro deles. Andava com a sua varinha no bolso e usava-a disfarçadamente, escondendo sorrisos e as suas generosas ofertas. No fim, ficava muito satisfeito com as suas ações e imbuía-se do espírito natalício, para se esquecer de que as festas humanas eram, de certa forma, proibidas para criaturas como ele. Não contava a ninguém, nem aos irmãos, o que fazia, mas sabia que eles desconfiavam de que alguns acontecimentos improváveis, que até faziam notícia na comunicação social local, seriam sua obra. Em conclusão, Rob adorava o Natal.

Mike e Brad ignoravam a quadra com alguma sobranceria magoada. Tinham os mesmos sentimentos do seu irmão feiticeiro. Lamentavam terem sido arredados das festas e dos feriados que moviam a sociedade que acrescentavam colorido à rotina, que davam um propósito a tantas vidas cinzentas, o sobressalto que eles estavam proibidos de sentir nas suas existências imortais, mas jamais iriam admitir a sua falta.

No entanto, foi com alguma excitação, em parte emulada, em parte genuína, que os três se vestiram para o baile de Natal da escola. Cumpriam o ritual que os igualava aos outros estudantes e apreciaram o momento com sorrisos provocadores. Brad, como era seu costume, mostrava-se o mais empenhado. Tinha ajudado na organização da festa e queria que toda a gente apreciasse o seu trabalho, que se divertisse e que, no final, guardasse daquela noite a melhor das recordações.

– Vai tudo correr bem, Brad – afiançou Rob, julgando que a sua agitação se devia ao receio de que acontecesse algum imprevisto que fosse destruir a sua reputação de organizador do evento.

– Eu sei que vai correr bem. Tenho certeza de que vai correr bem! – retrucou Brad, eufórico. – Vai ser magnífico, meus irmãos. Garanto-vos o melhor baile de sempre! A organização esmerou-se e, comigo a fazer parte desta, certifiquei-me de que não faltou nenhum pormenor. Tratei da parte da animação musical com o Elliot e o nosso grupo, mas também fui verificando um ou outro detalhe da parte que competia aos outros grupos. Houve até quem me achasse incansável.

– Na verdade, tu nunca te cansas – concordou Mike ajeitando o laço ao pescoço, ajustando as pontas com os seus dedos sensíveis, uma vez que não podia fazer isso a um espelho. Naquela noite estava também a usar a sua capa, escovada, lavada e engomada. – Acabas por ser um excelente elemento para organizar o que quer que seja. Acredito que a festa será excelente, apenas porque tu, Brad Park, fizeste parte da comissão que preparou tudo.

– Muito obrigado, senhor Mike Park – agradeceu Brad, fazendo uma vénia zombeteira. – Muito obrigado. A tua confiança em mim e os teus elogios são deveras motivadores.

– Esse palavreado não condiz contigo – brincou Mike, largando o laço que considerava estar perfeito. – Temos de nos mostrar mais adolescentes e menos... imortais.

– O Brad está apenas feliz – disse Rob.

Os dois vampiros olharam para o feiticeiro ao mesmo tempo. Rob usava um fato espampanante em tons de verde e vermelho, com uma gravata garrida com desenhos natalícios – bolas, velas, azevinho, estrelas, bengalas doces. Qualquer traje que usasse teria de ter as inevitáveis estrelas, eram uma imagem de marca. Enquanto Brad usava um casaco num tom escuro e uma gravata da mesma cor, que combinavam com umas calças um pouco mais arrojadas num padrão escocês, Mike optara pelo fraque clássico, laço e a sua capa imponente, que lhe davam o ar distinto de um cavalheiro vindo diretamente do século romântico. Estavam todos muito elegantes.

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