XXIX - Vitória e um final feliz

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Primeiro tiveram de arranjar maneira de chegarem à povoação vizinha sem darem muito nas vistas. A melhor hipótese seria irem transformados em lobos, para poderem transportar o Rob às cavalitas, mas o Mike negou-se a utilizar as suas capacidades naquela fase inicial do plano de resgate, e proibiu os irmãos de quaisquer transformações em animais ou outros feitiços aumentadores de potência, força ou energia. Tinham de ser discretos até chegarem ao local onde, teoricamente, o Johnny mantinha a Anna prisioneira.

A teoria, porém, ganhava muito depressa contornos de certeza. Se no início decidiram que teriam primeiro de comprovar a história do Charles Elliot, à medida que discutiam a parte prática da empresa o Mike convenceu-os de que o Johnny tinha mesmo raptado a Anna e que teria de apanhar o susto que ele lhe devia desde que, no primeiro dia de aulas, lhe passara uma rasteira no refeitório. Brad acabou por alinhar com o Mike e o Rob deu-se por vencido, votando igualmente a favor de um resgate espalhafatoso. A Anna já sabia o que eles eram, e o Johnny merecia uma boa lição, para ver se os deixava em paz de uma vez por todas.

Resolveram estudar, com a ajuda da internet, as carreiras de transportes públicos e descobriram que havia um autocarro que saía da cidade dali a dez minutos, o último do dia que tinha como última paragem a tal cidadezinha. Depois, só podiam regressar na manhã seguinte. Mas com a Anna salva, o Mike propôs regressarem com a ajuda dos seus poderes e evitar pernoitarem longe de casa. Ninguém o rebateu.

Correram como loucos até ao terminal e conseguiram embarcar no derradeiro segundo. As portas do autocarro já tinham fechado, mas Brad voltou a ser dramático. Espalmou-se contra o vidro, às palmadas e aos berros, a implorar ao motorista que os deixasse entrar. O homem concedeu em vender-lhe os bilhetes e permitir-lhes entrar no autocarro que ia muito vazio. Estranhou a capa comprida de Mike, o chapéu ornamentado de estrelas de Rob, as calças rasgadas de Brad, mas limitou-se a fazer uma carranca e a resmungar sons ininteligíveis.

Eles sentaram-se de costas muito direitas no último assento e foram, calados e bem-comportados, até ao seu destino, sem importunarem os poucos passageiros ou o condutor que, de vez em quando, espreitava-os através do espelho retrovisor a conferir se não os tinha de expulsar.

A povoação estava deserta, fechada em si mesma, as pessoas todas em casa. Consistia numa rua principal, uma avenida larga em linha reta que subia até ao outro extremo da localidade, com lojas de um lado e do outro. Para a esquerda ficava o lago e as mansões ricas que serviam de retiro de férias aos endinheirados da região. Para a direita ficavam os bairros residenciais e uma zona de serviços, que tinha hospital, cinema, os bombeiros, a esquadra da polícia e uma escola. Por ser dezembro e por ser perto do Natal viam-se, aqui e ali, algumas iluminações alusivas à quadra, que piscavam tristemente no ar parado.

– E agora, Brad? – perguntou Mike, olhando em volta.

O autocarro acabava de partir de regresso à cidade, depois de ter despejado os seus passageiros. Na pequena paragem, coberta com uma pala acrílica onde se acumulavam milhares de gotículas provindas da humidade que permeava o ar, ficaram apenas os três irmãos, insensíveis ao frio noturno.

– Trouxe o telemóvel com a localização da casa onde está o Johnny. O Elliot deu-me as coordenadas e coloquei-as numa daquelas aplicações de mapas...

– Precisamos do telemóvel? – perguntou o feiticeiro.

Rob sacou da sua varinha mágica, um ramo de salgueiro, curto e retorcido, cujas manchas escuras atestavam a sua antiguidade e autenticidade.

– Vais fazer um feitiço, Rob? – admirou-se Brad que retirava o telemóvel do bolso do casaco. – Vais deixar que o Rob faça um feitiço, Mike?

– Não me importo. Só quero chegar depressa à Anna – respondeu Mike reagindo cautelosamente aos estímulos que conseguia captar em redor deles.

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