XXVI - Juntos ou separados

13 4 30
                                    


O Brad arrastou-os para o Music and Chips naquela tarde fria de dezembro. Pelos vistos, a escola em peso encontrava-se nesse lugar onde era importante ir para conferir os mexericos. Havia grande burburinho por causa do baile de Natal, quem tinha convidado quem, quem esperava ser convidado e ainda não o fora, quem aceitara o convite para fazer ciúmes e outras histórias sumarentas que o Brad ia desfiando no caminho do Instituto até à cafetaria. O Mike continuava a não estar interessado, o Rob fingia escutá-lo, mas o Brad não se calava.

O vampiro sentia-se também importante por fazer parte da comissão organizadora, exagerando as suas contribuições. Falava das canções, da audição das bandas que iria acontecer no próximo fim-de-semana, dos animadores talentosos que arranjaram e que pareciam DJs profissionais, dos elogios que ele e o Elliot receberam dos professores por terem um gosto musical tão requintado. Tiveram ajuda da mãe do Elliot, que burilara as playlists finais, mas não revelaram esse detalhe que, bem vistas as coisas, não maculava o seu trabalho inicial de escolha da lista que acontecera no quarto novo da sua casa.

A cafetaria estava à cunha. As mesas e os assentos altos do balcão estavam todos ocupados, a jukebox debitava um tema mexido que fazia dançar um grupo de miúdas no pequeno espaço à sua frente, havia um vaivém constante no corredor, nuvens de vapor doce escapavam-se da janela que dava para a cozinha e por onde se aviavam os pedidos ininterruptos que os empregados se esforçavam por atender depressa e sem enganos. O barulho de gargalhadas e de vozearia era praticamente insuportável.

Mike estacou na porta, hesitante se queria mesmo entrar ali. Brad tocou-lhe num braço.

– Anda.

– Para onde? Está cheio.

– O Elliot guardou-nos um lugar. – Levantou um braço e foi respondido por outro braço erguido. – Está ali. Vamos ter com ele.

Contrafeito, de mãos nos bolsos das calças, Mike seguiu os irmãos. Rob observava tudo com uma atenção maravilhada, como se fosse a primeira vez que entrava na cafetaria.

A mesa do Charles Elliot ficava sensivelmente a meio. Mike engoliu os rosnados que lhe apetecia soltar, mas ficou a ronronar para aliviar a pressão que lhe comprimia a garganta e lhe tornava os músculos mais frios. Resolveu alinhar com tudo e não levantar ondas, para ver se aquilo passava mais depressa.

– Só espero não termos encontros inesperados... – resmungou.

O Brad escutou-o. Rob agarrava alegremente na ementa para fazer a sua escolha, como se saboreasse algumas das guloseimas que se vendiam ali. O feiticeiro conseguia ser o mais normal dos três e Mike experimentou uma pequena inveja, que repudiou enojado por ser tão estupidamente fútil no seu caso. Esticou os dedos para também agarrar numa ementa e inventar que escolhia o lanche, mas travou o gesto a meio ao escutar o Brad perguntar ao Elliot:

– Sabes o que aconteceu ao Johnny?

O rapaz, que tentava chamar a atenção de duas miúdas que dançavam, fazendo acenos entre o discreto e o apalhaçado, desistiu de se fazer notado. Endireitou as costas, pousou as mãos na mesa, palmas voltadas para baixo. Abriu muito os olhos e disse, carregando no tom dramático:

– Sei, por acaso sei. Vocês não ouviram falar? Foi a notícia de hoje na escola.

Brad olhou brevemente para Rob e para Mike. Enquanto o primeiro continuava a analisar a ementa como se nunca tivesse lido nada melhor, Mike manteve a expressão ausente e perigosa de um vampiro adormecido.

– Não, não ouvimos falar – disse Brad. – O que há para saber, afinal?

– O Johnny foi transferido para outra escola, na cidade pequena que fica a mais ou menos dez milhas daqui.

Os Irmãos ParkOnde histórias criam vida. Descubra agora