XXII - O vermelho é a cor do sangue

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Brad percebeu que o humor de Mike azedou repentinamente. Não fazia qualquer sentido, já que tinham afastado o Johnny possivelmente para sempre. Mesmo que o valentão chumbasse de ano, não voltaria a importuná-los com medo de, por causa de outro confronto com os irmãos, voltar a chumbar e hipotecar ainda mais o seu futuro como jogador de futebol americano. O Johnny era o seu principal obstáculo no Instituto e no seu objetivo de ficarem na cidade por aqueles quatro anos. Removido esse pedregulho do caminho, a estrada ficara agradavelmente desimpedida.

Então, o que podia ter acontecido para deixar o Mike daquela maneira?

O Johnny continuava doente e sem aparecer, o Elliot confirmara isso. Não adiantara muito em relação à doença. Pelos vistos, nem o maior detetive da escola conseguira informação sobre o assunto e Brad não quis insistir.

Então, o que era?

Foi falar com o Rob.

Brad estava junto ao campo de jogos, a estudar os mapas da canalização do edifício principal, no âmbito do seu projeto de ciências que estava muito bem encaminhado. O professor verificava cada etapa do projeto e introduzia algumas alterações que lhe corrigiam o rumo, para que no fim apresentasse um trabalho impecável. Por vezes, Brad tinha que travar a fundo e revia alguns conceitos, riscando-os por serem demasiado rebuscados para um rapaz de dezasseis anos. O sinal de que devia recuar era o espanto do professor. Se fosse demasiado pronunciado, Brad compreendia que estava a exagerar e moderava o seu génio a contragosto. O projeto tinha de ser credível ou o professor acabaria por julgar que ele tinha ajuda externa e desclassificava-o. Ter uma negativa por causa de um descuido era inaceitável.

O jogo de futebol terminara havia pouco tempo. Rob era um dos suplentes que saíra do banco para virar o resultado a favor da sua equipa, que perdia por três a um e acabou a vencer por cinco a três. Brad desconfiava que Rob usara algum feitiço para marcar o golo do empate, mas se lhe perguntasse ele iria negar tudo com um ar ofendido e coibiu-se de fazer a pergunta. Normalmente, Rob não usava truques nas aulas, a não ser que fosse absolutamente necessário. Mas o absolutamente necessário de Rob variava consoante a ocasião...

Brad enrolou o mapa, prendeu o rolo com um elástico e colocou-o debaixo do braço. No outro ombro pendurou a mochila murcha por se encontrar praticamente vazia, com um caderno, um par de esferográficas e pouco mais. Trotou pela escadaria da bancada até atingir a orla do relvado que rodeava o campo de jogos e que estava mais maltratado do que o retângulo verde onde os alunos praticavam os desportos ao ar livre. Podia ser pisoteado à vontade. Os professores de educação física eram muito exigentes no respeito pelos limites dos campos.

Rob limpava o pescoço com uma toalha e agarrava no seu saco com a mão esquerda, pronto para seguir para os balneários, atrás dos seus outros colegas. O professor recolhia as bolas num enorme saco de rede. O feiticeiro parou ao ver Brad aproximar-se. Crispou ligeiramente a testa.

– Olá, Brad – disse num cumprimento educado.

– Olá, Rob.

– O que queres saber que não pode ser falado em casa?

Brad passou a língua pelos dentes. A perspicácia de Rob era desarmante. Mesmo depois de tantos anos de convívio ele continuava sem poder antecipar a sageza do irmão.

– É sobre o Mike.

– Está tudo bem com o Mike.

Brad irritou-se com aquela resposta. Detestava ser arredado da dinâmica da irmandade com segredinhos partilhados pelos outros, como se ele não fosse confiável. O Rob tinha uma sabedoria própria, milenar e prática, muito típica das criaturas que usavam a magia, mas nalguns aspetos continuava tão obtuso como um miúdo de quinze anos.

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