O fim do semestre chegou mais depressa do que estavam à espera.
De repente, já tinham metade do primeiro ano do secundário passado e havia que prestar provas. Apresentar trabalhos perante a plateia das respetivas turmas e fazer os exames a todas as disciplinas.
Brad, por estudar na área das ciências, era o mais ocupado. Tinha muitos testes e era obrigatório terminar o seu projeto de química. O professor estava a pedir resultados com uma exigência quase descabida, a irritar-se com os mais atrasados, a carregar naqueles que tinha escolhido como os seus preferidos. Naquela fase, parecia que nada estava bem e Brad ressentia-se. Ele funcionava melhor com palmadinhas nas costas do que com chicotadas no lombo. No entanto, acatava tudo sem um queixume. Estudava pela noite dentro, na véspera dos exames, resolvia o enunciado da prova antes do tempo, ficava a ajudar os seus colegas passando-lhes as respostas e ganhava mais alguns amigos fiéis. Não se esgotava, mas por vezes sentia-se drenado. Quando se fartava, transformava-se em morcego e voava por cima dos telhados da cidade noturna, passando pelos bairros e pelas casas dos outros alunos da sua turma para conferir se estavam a estudar ou não. Espantava-se com alguns que efetivamente se dedicavam aos livros e ficava estupefacto por ver que a maioria não ligava nenhuma às suas obrigações. Jogavam jogos eletrónicos, viam televisão, ouviam música, perdiam-se nas redes sociais, namoravam. Quando regressava a casa, vinha arrasado, doente e mole. A seguir, resmungava contra a sua curiosidade e a sua boa índole, que o fazia tão crédulo das pessoas, em geral. Ele iria continuar a ajudá-las, mesmo sabendo que não mereciam o seu esforço. E estudava muito. Por ele e pelos outros.
Mike também sofria. Precisava de apresentar um trabalho que envolvia desenho e programação informática relacionado com o protótipo de um videojogo, e passava os serões na escola, até ao fecho das salas de computadores, a orientar o grupo do qual fazia parte. Era ele e mais dois rapazes que se juntaram a ele para conseguirem safar-se à disciplina. Eram maus alunos, preguiçosos e desatentos, fizeram parte da ala mais jovem do bando do Johnny e tinham ainda a fama de ambicionarem candidatar-se ao lugar deixado vazio pelo valentão. Mas também queriam passar de ano e sossegar os ânimos em casa – os pais deviam estar preocupados com o seu rendimento escolar –, e para aquele trabalho que iria decidir a nota final da disciplina juntaram-se a Mike. Bajularam-no até à náusea para que ele os aceitasse no seu grupo. Não chegaram a implorar porque Mike não deixou, cansado dos seus argumentos. Estava bem ciente de quem eram eles, de como no início das aulas andaram a fornecer informações ao Johnny sobre os seus passos, mas como eram águas passadas, o Johnny já não era nenhum problema e o rancor era inútil no caso de um vampiro que já tinha lastro emocional suficiente por causa da sua imortalidade, Mike aceitou-os. Com uma condição, porém. Ele seria o chefe do grupo. Ele liderava. Em caso de disputa, a sua palavra seria a definitiva. O par não se opôs. De resto, não podia contestar nada. O pior foi que Mike teve de fazer o trabalho todo, por ele e pelos outros dois. Ele tinha capacidade para isso, claro, mas acabava por lhe consumir muito tempo.
Rob mantinha-se calado, a suportar as suas agruras naquele silêncio típico dos feiticeiros angustiados. Os seus exames eram, na sua maioria, físicos e exigiam que estivesse concentrado, bem nutrido e forte. Ele não devia ter problemas com isso, já que podia controlar o seu físico como quisesse, utilizá-lo com todas as suas capacidades únicas e atingir todos os objetivos que lhe eram propostos. Mas, por vezes, tropeçava dentro dos limites que impunha para que a sua excecionalidade passasse despercebida. Na ânsia de parecer e de agir normal, cometia erros infantis e embaraçosos. Naquele período de avaliação, não raras vezes recebeu gritos e advertências dos seus professores e treinadores, que juravam que não o estavam a reconhecer. Acanhado, Rob prometia esforçar-se mais. E depois passava para o outro extremo. Fazia tudo tão bem e com uma técnica tão irrepreensível, que deixava toda a gente admirada. Choviam sobre si os adjetivos mais exagerados, queriam propô-lo de imediato para uma universidade para estudar aí com uma bolsa de estudo desportiva, iriam chamar os caça-talentos de vários clubes profissionais de futebol, tencionavam apresentar-lhe um contrato válido para jogar à experiência no campeonato estadual e toda uma série de impossibilidades que o faziam fugir do excesso de atenção e de euforia. No dia seguinte, voltava a ser o Rob pachorrento e recatado, o adolescente de quinze anos que só queria sobreviver aos exames e completar o semestre.
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Os Irmãos Park
FantasyTrês irmãos adolescentes mudam constantemente de cidade para proteger o seu segredo - eles são dois vampiros e um feiticeiro. Apesar do seu estatuto de criaturas sobrenaturais, o trio sente a necessidade de mostrar que são ainda rapazes normais, igu...