XXIII - A verdade

13 4 26
                                    


Rob estava a sair dos balneários quando apanhou um susto. A Anna Hillinger estava à sua espera. Encostava-se à parede contígua à porta aberta dos vestiários masculinos, afastada da zona dos duches e com uma via de fuga, mas ainda assim estava num local proibido a mulheres. Se fosse apanhada ali teria uma advertência, ou podia até ser suspensa por alguns dias.

Hesitou sobre os motivos que levaram a Anna ali. Olhou em volta e não viu ninguém que pudesse ser do interesse dela a não ser... ele próprio. Já lhe tinha constado que a moça andava de namoro com um dos rapazes da equipa de futebol americano, mas ao ter investigado mais a fundo esse boato descobriu que não passava disso mesmo. De falatório na escola sobre as paixões mais ou menos escondidas, mais ou menos assumidas dos alunos do Instituto. Portanto, a Anna não estava nos vestiários masculinos à procura do seu suposto namorado – que não era namorado nenhum.

Aproximou-se. Mike não chegara a fazer as pazes com ela, depois de o Brad lhe ter dado esse conselho, pois apanhara-a com o suposto namorado – que continuava a não ser namorado nenhum. Curiosamente, o humor do Mike melhorara. Não ficara completamente feliz, nem recuperara totalmente a sua maneira de ser, mas deixou de implicar com os irmãos. No exterior, parecia igual ao Mike que eles conheciam desde sempre, mas por dentro havia uma mágoa, semelhante a uma mancha escura, que o deixava apático em determinadas ocasiões, tão ínfimas que passavam despercebidas.

Agora, ele tinha que ver o que a Anna pretendia, se isso podia ajudá-lo a curar a mágoa de Mike. Duas noites antes, o Brad pedira-lhe para ver o futuro e ele escusara-se, porque sabia que o objetivo do irmão vampiro era saber se havia ainda uma hipótese de reconciliação entre o Mike e a Anna. Ele, simplesmente, não queria ser contaminado pelo sofrimento do outro irmão vampiro.

Rob era incrivelmente romântico, embora ocultasse essa faceta sob uma capa de indiferença e até de alguma preguiça emocional. Preferia manter-se equidistante de qualquer perturbação que lhe pudesse macular o equilíbrio da sua imortalidade. Ele, ao contrário dos vampiros, podia sentir e podia sofrer. O seu coração, tão morto e parado quanto o das outras criaturas sobrenaturais, conservava ainda a teimosia da vida. Já não bombeava sangue, mas tinha impregnado, nas fibras dos seus tecidos moles, uma espécie de recordação do que era o amor e a amizade, que o deixava muitas vezes enfermo e prostrado. Rob era muito frágil e precisava de ser protegido. O Mike e o Brad sabiam disso e tentavam subtraí-lo às desilusões mundanas. Ele, contudo, expunha-se e muitas vezes retraía-se quando já era tarde.

Mordeu os lábios para evitar um suspiro. Esperava que a Anna não o deixasse demasiado ferido, contaminando-o com qualquer sentimento forte que pudesse despejar e que ele iria, invariavelmente, entranhar. No entanto, não se podia esquivar, compreendeu, ao que ela tinha vindo buscar ali. Os olhos grandes da Anna que fixavam cada passo que dava, lentamente, na direção dela, já o tinham capturado na rede invisível da obrigação de ser valente e de ser sincero.

– Olá, Rob – começou ela num cumprimento vacilante. – Desculpa ter vindo até aqui, mas precisava de te encontrar sem que os teus irmãos estivessem por perto... eh... não te importas?

– Olá, Anna. Não. Não me importo. Vamos sair dos vestiários masculinos, é melhor – propôs.

– Sim, é melhor – concordou a moça, colocando uma pequena madeixa do seu cabelo preto atrás da orelha. – Não devia estar neste lugar, mas... era a única garantia que tinha de que o Mike ou o Brad não estavam contigo.

– Porque o Mike e o Brad não têm aulas de desporto.

– Sim. Não te importas? – voltou a perguntar.

Ele, finalmente, percebeu o retraimento dela, os gestos nervosos que tentava disfarçar.

– Se me importo por quereres falar comigo sem que os meus irmãos saibam?

Os Irmãos ParkOnde histórias criam vida. Descubra agora