XV - Um desafio

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No final daquela semana o plano para fazer frente ao valentão do Instituto estava delineado. O Brad tinha demorado dois dias a recolher todas as informações pertinentes sobre o pai famoso do Johnny, porque o Charles Elliot fora mais difícil de convencer do que o Brian Hilton a revelar o que sabia. Primeiro assustara-se com a curiosidade de Brad; depois esquivara-se às perguntas; a seguir fizera um teatro exagerado como se aquela matéria fosse um segredo de Estado e que os dois teriam de ser eliminados por andarem a trocar informação sensível ou algo parecido; por fim, lá contara sobre como o pai do Johnny era alguém venerado na cidade. Fora essa a palavra. Venerado. Uma admiração global que perpassava por todos e que não deixava ninguém indiferente. Não havia pessoa mais idónea, honesta, admirável, isenta e maravilhosa do que o pai do Johnny e era esse o motivo porque ele ia já no quarto mandato enquanto presidente do município. O homem era inatacável.

A família do Johnny era muito rica e as suas propriedades, a par de uma história extensa de várias gerações que tinham contribuído ativamente para o desenvolvimento da cidade, davam-lhe um estatuto tão elevado, tão magnífico, que parecia impossível que existissem defeitos, ou forma de penetrar em tão robusta fortaleza. Brad contou ao Mike que para derrubarem o Johnny era quase preciso chamarem um exército e forçarem uma revolução nas ruas. O Mike acalmou-o. Ninguém resistia eternamente, nem mesmo eles que eram imortais, e algum ponto fraco o pai do Johnny teria.

– Não. Sem um único ponto fraco – reforçou Brad. – Ele é perfeito e é amado pelas pessoas da cidade. O pai do Johnny apoia as artes, a educação, reforça os orçamentos das forças policiais para que as taxas de crime sejam as mais baixas da província, faz voluntariado em hospitais e em lares de idosos, participa nas festas dos infantários e das creches, oferece prendas generosas aos amigos e costuma ser bastante altruísta com desconhecidos. Toda a gente o conhece como um homem bom.

– Então o Johnny, com a sua maneira de agir, é o maior ponto fraco do seu pai! – determinou o Mike.

– Pode ser colocado nessa perspetiva.

– Se o pai é um homem bom, o filho é claramente uma pessoa má. Só as pessoas más fazem o que o Johnny faz... atacar os fracos, troçar deles, pregar-lhes sustos, infundir-lhes um medo paralisante, bater, magoar e maltratar.

– Nesse ponto, tens razão.

– Claro que tenho razão, Brad! Porque é que estás com essa atitude?

– Tenho dezasseis anos. É suposto ter esta atitude.

– Tu não tens dezasseis anos, tens dezasseis anos vezes não sei quantos ciclos que é o tempo que nós... Ah!, não quero discutir contigo. Este conflito com o Johnny não deverá afetar a forma como nos damos uns com os outros. Somos irmãos, amigos e companheiros.

– Acho bem. Porque se me vais ter como inimigo... alio-me ao Johnny!

– Estás a brincar.

– Pois estou...

A tarefa de espionagem do Rob, por outro lado, foi mais simples. O Mike desconfiou que o Rob utilizou alguns feitiços. Naquela ocasião fechou os olhos ao deslize, que não fora bem um deslize. O Rob sabia muito bem o que fazia, os meios justificavam os fins. Se ninguém se apercebera na escola de que um feiticeiro andava a distribuir magia, se ele se mantivera discreto, então o Mike não se iria pôr com recriminações. Eles precisavam do plano contra o Johnny fechado de uma vez por todas.

As aulas das turmas de desporto aconteciam na sua maioria no campo de jogos, no ginásio ou em salas no pavilhão que se colava ao campo de jogos. Só nas aulas genéricas e específicas, como Matemática ou Inglês, os alunos de desporto apareciam no edifício principal. Então, para o Rob – com ou sem feitiços – foi muito simples espiar os passos do Johnny porque eles estavam quase sempre juntos, ou perto o suficiente para que Rob tirasse todos os apontamentos para fazer o seu relatório a um Mike impaciente e exigente.

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