XXV - A próxima festa

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Um enorme cartaz exibia-se num tripé metálico no corredor principal da escola. Anunciava o baile de Natal daquele ano que marcava o fim do primeiro semestre de aulas e a pausa de inverno, que se prolongava até depois do ano novo. O segundo semestre começava em fevereiro.

Mike, Brad e Rob pararam em frente ao cartaz colorido, impresso em papel brilhante que depois fora colado sobre um cartão grosso. Devido à sua localização, todos os alunos do Instituto conseguiam vê-lo assim que entravam no edifício principal. Faziam o mesmo que os irmãos. Paravam, liam as frases principais, absorviam a informação genérica do anúncio. Baile. Dezembro. Fim do semestre.

– As cores não combinam umas com as outras. Que grafismo horrível... Isto é um trabalho amador – criticou Mike, ácido, em voz baixa.

Brad e Rob não comentaram nada. Nos últimos dias era um milagre que conseguissem comunicar normalmente com o Mike, depois daquela explosão quando ele soubera que a Anna estava ao corrente do seu segredo. Não deviam espicaçar ainda mais os nervos do vampiro e resolveram agir como sempre tinham agido, para retirar importância à cena e ao eventual perigo que os rodeava. Mike tinha, obviamente, amuado e tornara-se mais arredio. Ia com eles para as aulas, entravam em casa juntos, mas, para além disso, isolava-se no seu quarto. Saíra algumas noites, transformado em morcego. Nem Brad, nem Rob o incomodaram, exigiram-lhe satisfações ou pediram-lhe que mudasse de atitude. Se insistissem, iria acontecer uma discussão e nenhum dos três queria zangar-se por causa daquele assunto.

No tempo que passavam juntos, portavam-se com muito cuidado e eram corteses uns com os outros. Até acontecia que passaram a entreajudar-se mais no estudo e encontravam-se, no fim das atividades letivas, na tal loja do centro comercial para jogarem nas consolas disponíveis. Era só em casa que se separavam. O Brad andava entusiasmado com o quarto, que ia decorando aos poucos. O Rob entrava nas suas meditações, distraía-se com as suas visões e nas viagens que fazia pelo mundo oculto. Mike remoía o seu azedume e disciplinava-se para não exigir, outra vez, que se fossem embora da cidade. Brad suspeitava que Mike estava a elaborar um plano que os convencesse a segui-lo, mas deixava que fosse apenas um pressentimento, para não se aborrecer por algo que ainda estava por vir. Ou que talvez nunca acontecesse, e essa era a melhor das possibilidades.

Rob ajeitou a mochila no ombro direito, deslocou o peso do corpo de uma perna para a outra.

– Bom, para o ano, desenhas tu o cartaz para o baile de Natal – sugeriu. – De certeza que ficará bastante melhor do que este.

– Sim, de certeza – concordou Mike, a ruminar as palavras.

Brad ocultou sabiamente a alegria que sentiu por Mike considerar estar no Instituto no próximo ano. Significava que não se tinham ido embora.

– Por enquanto, temos que nos contentar com este... – observou ele. – OK, está visto. Já sabemos que vamos ter baile no fim do semestre.

Os alunos acumulavam-se em redor deles que estavam de frente para o cartaz. Comentavam a novidade com palavras breves. Risinhos e suspiros enlevados das meninas. Piadas e remoques ácidos dos rapazes. Era evidente que o baile iria criar uma cisão na escola. Havia quem apreciasse a ideia, que se enraizava na tradição do estabelecimento; havia quem desdenhasse da necessidade de manter o evento, quando havia outras possibilidades de se assinalar a mudança de semestres. Os dois vampiros captaram uma miríade de opiniões naqueles breves segundos. O Rob parecia, como habitualmente, distraído.

– Sim, está visto. Vamos para as aulas – disse Mike.

Contornou o cartaz posto no tripé e avançou pelo corredor, na direção da escadaria. Brad estugou o passo para o acompanhar, mas Rob manteve a sua velocidade normal e foi ficando para trás.

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