XXXIV - Novidades, fins e recomeços

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No fim daquele primeiro dia de aulas do segundo semestre, os três irmãos Park foram até à cafetaria Music and Chips. Pelo caminho, que fizeram numa algazarra alegre, a falarem um pouco alto, excitados e inconvenientes, debateram as ofertas da ementa que podiam, finalmente, provar, degustar, comer e beber. O almoço daquele dia tinha sido uma experiência muito satisfatória. Enquanto os outros alunos se queixavam da qualidade da refeição, deixavam sobras e faziam caretas a engolir a sopa que achavam insonsa e desnecessária, os irmãos Park elogiavam tudo o que metiam à boca, como se aquele fosse o manjar dos deuses. O Elliot estranhou-lhes o apetite. Avisou-os de que não queria competição, o glutão do Instituto era ele, mas Brad sossegou-o dizendo-lhe, de boca cheia, que eles não almejavam tal distinção. Bastava-lhes comer. Mike e Rob acenaram positivamente com a cabeça, também de boca cheia. Elliot achou que as férias lhes tinham feito muito mal.

– Vocês estão diferentes... – atirou, num tom impreciso, porque não conseguia definir exatamente o que tinha mudado. Era só um prurido, uma comichão ligeira.

– Impressão tua – divergiu Brad.

– Sim. É mesmo impressão tua. Até estou mais magro – completou Mike, a mastigar as pequenas porções que levava solenemente à boca com a ajuda do garfo.

– Deve ser isso. Estão mais magros – concordou Elliot. Ele não queria manter aquela conversa que achava completamente desinteressante. Entre rapazes não se comentavam quilos perdidos.

Como habitualmente, a cafetaria estava bem frequentada. Durante as férias havia uma quebra de clientes, que logo era recuperada assim que as aulas recomeçavam. As mesas estavam todas ocupadas, o balcão preenchido, a pista com gente a dançar, a música a competir com as conversas e as gargalhadas. Os odores enjoativos de fritos e de açúcar, de gordura e de caramelo. Naquela tarde, alguns professores também resolveram visitar o sítio. Juntavam-se numa mesa discreta, ao fundo.

Mike olhou desconsolado para o panorama. Era demasiada barafunda. Se antes ficava incomodado, agora começava a perceber que a mais mínima perturbação do ambiente lhe causava dores de cabeça que o deixavam zangado. Brad serviu-se de Rob para ajudá-los a ultrapassar a momentânea dificuldade da cafetaria lotada. Rob continuava a ser o mais alto dos três, um rapaz com uma estatura acima da média. O pequeno estratagema resultou. O ex-feiticeiro apontou para uma mesa que iria vazar, colada àquela da dos professores. Brad esfregou as mãos de contente, considerou que estavam com sorte, com muita sorte. Chegavam mais pessoas que também procuravam um lugar, que entravam e saíam, que ficavam na rua à espera da sua vez, a mostrar fotografias e novidades nos respetivos telemóveis.

Sentaram-se na disposição habitual. Rob à janela com Mike ao lado, Brad em frente. A empregada veio limpar o tampo, passando rapidamente por este um pano molhado com desinfetante. O gesto, desta vez, não incomodou as narinas de Mike que estava menos sensível a esse tipo de cheiros fortes e destoantes.

Brad desdobrou a ementa com entusiasmo. Olhou por cima da cartolina plastificada e perguntou, subitamente receoso:

– Mike... temos dinheiro?

– Continuamos com o cartão de crédito do mordomo – respondeu ele. – Sim, temos dinheiro.

– E vamos ter dinheiro até quando?

– Até os nossos pais chegarem.

– E depois? O que é que vai acontecer com o cartão de crédito?

– Acho que perde a validade... não entrei em detalhes com a bruxa.

– Era bom que tivéssemos o nosso dinheiro... não achas? Um pé-de-meia secreto – sugeriu Brad, debruçando-se sobre a mesa e falando em tom de confidência.

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