XXI - Cautelas necessárias

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O Johnny levou a sério a ameaça que foi proferida em frente a toda a escola e afastou-se completamente. A humilhação, muito provavelmente, foi mais do que aquilo que podia admitir e recolheu-se a lamber as feridas do seu orgulho espezinhado.

Mike ficou aliviado. A determinada altura julgou que seria mais complicado convencer o Johnny de que ele estava determinado em enfrentá-lo e derrotá-lo, em qualquer campo onde escolhessem lutar. Isso deixava-o muito apreensivo, pois não iria perder num confronto direto com o valentão. Não admitia perder. Mas essa resolução implicava revelar parcialmente os seus poderes. Pelos vistos, acabou por ser muito simples. Um espetáculo no corredor com uma boa plateia de alunos bastou para o Johnny se encolher.

Embora a vitória fosse sua, Mike não ficou descansado nos primeiros dias. Espreitava continuamente as sombras, apurava a sua audição já de si muito sensível e andava pela escola com a atenção redobrada. Esperava que o Johnny o fosse atacar a qualquer momento para se vingar do que lhe tinha feito. Não era normal que tivesse conseguido dobrar o rapaz mais temível da escola com aquela facilidade. Havia algum detalhe que lhe escapara e um pressentimento indefinido surgia para o avisar e deixar incomodado. O reino de terror do Johnny já vinha de anos anteriores e Mike acreditava que algumas das suas anteriores vítimas tinham feito o mesmo que ele. Levantaram a voz, insurgiram-se, confrontaram o valentão, tiveram testemunhas. Então, por que motivo o Johnny continuava a escolher caloiros para atormentar? Uma das possíveis respostas era de que não tinha medo de ninguém. Podiam avisá-lo, que ele haveria de repetir os seus comportamentos abusivos, protegido por uma muralha de silêncio dos outros alunos que se tornavam coniventes desde que se escapassem ao radar do Johnny. Em conclusão, Mike teria de se mover com cuidado para não ser traído pelo excesso de confiança.

Os dias passaram e deu-se conta da total ausência do Johnny que nunca mais cruzara o seu caminho – nem ele, nem o seu par de guarda-costas. Mike percebeu que tinha ganhado. A vitória daquela primeira batalha pertencia-lhe. Podia não significar vencer a guerra, mas aquele resultado era promissor. Passou a andar mais descontraído e varreu o mau pressentimento das suas impressões.

Aquela não era a primeira vez que enfrentava um rapaz que se julgava o dono da escola. Ele tinha frequentado várias vezes o ensino secundário e tinha se cruzado com alguns rapazes imbecis que adoravam espezinhar os mais fracos. Sempre resolvera as situações com maior ou menor dificuldade. Comparando o Johnny com os outros, podia dizer, com alguma sobranceria, que nem fora dos mais complicados.

O Brad assumiu o feito como parte da lenda dos irmãos Park. Ele vira qualquer coisa de perigoso no Johnny, Mike não quis esclarecer o que seria, e vangloriava-se daquilo que o irmão tinha alcançado. Nos intervalos, Brad fazia-se rodear de outros alunos, na maioria os mais novos, mas também se juntavam mais velhos, dos últimos anos, e recontava a história com contornos de saga nórdica. Nas suas palavras, o Johnny era um deus-demónio que atormentava um vilarejo, Mike era o herói improvável que enfrentava o monstro e que mais tarde se tornava chefe da comunidade, em reconhecimento da sua bravura. Havia algo de campanha eleitoral e Mike avisava Brad de que não pretendia candidatar-se à associação de estudantes. Nunca o fizera, não seria agora que iria resolver destacar-se como dirigente estudantil.

– Podia ser uma possibilidade! – entusiasmava-se Brad. Essa hipótese não lhe tinha passado pela cabeça, percebia Mike que revirava os olhos por ter mencionado a ideia. – Mike, tu és o líder da nossa família, podias aplicar os teus dotes na organização dos alunos do Instituto. Safavas-te muito bem!

– Nem penses, Brad. Não me vou meter numa coisa dessas. Isso levar-me-ia num caminho muito longo onde podia perder o controlo... e eu detesto perder o controlo.

Os Irmãos ParkOnde histórias criam vida. Descubra agora