Sonhos cruéis

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Estava frio.

A brisa gelada passava sobre a minha pele como um leve beijo da noite. Eu já estava dormindo, provavelmente eu tirei a minha coberta sem querer e com isso trazendo o frio de Ligonier comigo.

Abri meus olhos vendo que eu de fato estava certa.

Não tinha cobertor comigo e a sacada estava aberta.

Suspirei sonolenta virando meu corpo para o outro lado da cama enquanto procurava a minha coberta. Mas não havia nada, na verdade, a cama estava fazia, não havia lençol, travesseiro e muito menos coberta.

Apenas o meu colchão me fazia companhia.

Olhei ao redor sem entender nada.

- Você me deixou.

Uma voz bonita, mas triste e sofrida surgiu em meu quarto.

Eu conhecia aquela voz.

Procurei em volta atrás da dona da voz.

- Quem está aí? – Eu perguntei baixo enquanto me sentava na cama, pronta para me levantar.

Quando meus olhos se adaptaram a escuridão do meu quarto, pude ver uma silhueta não canto do meu quarto.

- Sou eu, meu doce. – Assim que ouvi o apelido, consegui ligar uma coisa à outra. Era a minha mãe.

Ela estava aqui por mim, ela voltou.

- Mamãe? – Eu quase exclamei me levantando da cama com os olhos arregalados em sua sombra.

- Você... eu fiz tudo por você. Fiz tudo para te proteger... – ela dizia com uma voz triste e amargurada. – E você nem se quer se importou comigo, eu fiquei sofrendo por dias, enquanto você vivia bem entre outras pessoas.

A dor atingiu meu coração como flecha, as suas palavras pareciam me apunhalar com força. Senti as lagrimas que antes surgiram de felicidade agora escorregavam sobre as minhas bochechas pela dor. A culpa me invadindo com tudo.

- E-eu não queria, eu não sabia. – Eu dizia dando dois passos até ela.

- Não chegue perto de mim. – Ela praticamente gritou, me fazendo parar. – Você me enoja.

O soluço saltou da minha boca, e as lágrimas não paravam de descer.

- Por favor, mamãe... eu te amo. – Eu disse chorosa, minha voz estava arranhada pelo choro.

Mesmo ela gritando para eu não me aproximar dela, não poderia perder ela de novo. Então eu fui com passos largos e rápidos até ela, mas quando cheguei no canto do quarto. Ela havia sumido.

Olhei em volta para procura-la. Mas tudo tinha sumido.

Meu quarto, minha mãe e minha casa. Não estava mais no mesmo lugar, estava em um lugar escuro. Não era frio, eu diria abafado.

Eu reconhecia bem o cheiro deste lugar.

- Eu voltei para você. – Uma voz fraca e sofrida surgiu, mas dessa vez era uma voz masculina. Olhei em volta, mas eu não conseguia ver nada.

Então, como se ouvisse meus pensamentos, uma luz fraca foi acessa.

E agora eu sabia bem onde eu estava.

Na cela em que minha mãe morreu.

Mas não era isso que me assombrava, e sim o dono da voz.

Agelos.

Vivo. Bem em minha frente, atrás das celas em que eu estava. Eu vi ele morrer, vi com os meus próprios olhos.

- Você não achou que seria fácil fugir de mim, não é? – Agelos perguntou com um sorriso nojento em seu rosto.

Falando no Diabo - Elo do submundo (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora