Sombras falante

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Eu acho que vomitei mais do que deveria, e agora estou alucinando.
 
Fiquei paralisada, meus músculos estavam como pedras, nem mesmo piscava os meus olhos. Esperando para ouvir outra vez Sombras falar comigo.
 
Quando passou tempo o suficiente para eu achar que realmente tinha sido coisa da minha cabeça ele disse.
 
- Syra comeu sua língua de baixo da agua? – Sombras perguntou com irônia.
 
Pai
Amado
 
- você... – eu divaguei perplexa apontando o dele para ele. – você fala?
 
Meu tom era tanto acusatório quanto duvidoso.
 
- não, sou apenas uma mera ilusão da sua mente. – ele disse sarcástico.
 
Minha mão se abaixou, mas ainda estava em choque. E claramente ele via isso estampado em meu rosto.
 
- mas você não fala. – eu disse sentindo meu rosto se contorcer de indignação.
 
 Esse arrombado podia falar esse tempo todo?
 
- eu estou falando neste exato momento. – de repente, sombras deixou de ser mais sombras do que humano, para mais humano do que sombras. Eu conseguia ver seus olhos negros, suas bochechas, sobrancelhas, sua boca bem desenhada. Apesar de ainda ser feito de sombras, Sombras agora era bem melhor visto.
 
Senti meu queixo quase beijar o chão com  sua transformação.
 
Ele suspirou meio cansado dessa lenga lenga.
 
 
- só estava esperando você ficar sozinha para te mostrar. – ele disse dando ombros. – mas você não consegue ficar cinco segundos longe daquele vampiro idoso.
 
Vampiro idoso?!?!
 
Abri ainda mais a minha boca pela audácia dele.
 
- primeiro, ele não é uma vampiro mais, e sim um cavaleiro. – eu disse colocando a minha mão direita na cintura, fazendo uma pose de indignada.
 
- ah, claro. Desculpe. – ele disse estendendo as mãos como sinal de rendição .  – corrigindo então. Cavaleiro idoso.
 
 Mais que filha da-
 
- eu deveria ignorar você, mas meu elo não é idoso. – eu parecia uma criança de quatro anos batendo o pé no chão.
 
Neste momento, agradeço a Deus... ou melhor, ao Lúcifer. Por eu não ser pequena como antes.
 
- ele tem milênios de anos, algo me diz que jovem ele já deixou de ser. – Sombras disse como quem não quer nada, enquanto olhava para as suas “unhas".
 
Grunhi irritada.
 
- gostava mais quando você era mudo. – eu disse com os dentes cerrados.
 
Sombras riu me olhando de volta.
 
Decidi apenas ignorar ele e o fato dele falar. Sua voz era muito bonita, sensual e suave. Mas ainda sim masculina.
 
Bufei seguindo meu caminho para voltar para casa.
 
E logo sentindo sombras me seguir, bem atrás de mim.
 
- desde quando você fala? – eu perguntei depois de alguns minutos de silêncio.
 
Sombras de repente se materializou bem na minha frente, me fazendo parar no meio do caminho.
 
- desde que você subiu ao trono. – ele disse abrindo um sorriso. Ah, ele tem dentes agora.
Brancos e irritantemente perfeitos.
 
- e só agora você veio falar comigo? – eu perguntei incrédula. – eu precisei da sua ajuda a algumas horas atrás.
 
Eu estava irritada, e minha voz transparência isso.
 
- é o seu dever. – ele disse como se eu fosse uma criança mal educada. – e além disso, não posso machucar outro ser do submundo, já que também sou de certa forma.
 
Eu suspirei assentindo para ele.
 
Não vou jogar o furacão de sentimentos no primeiro ser que brotar na minha frente.
 
Frustração.
 
Felicidade.
 
Raiva.
 
Mágoa.
 
Ansiedade.
 
É tudo junto, muito intenso para aguentar só comigo.
 
Voltei a andar, mas desta vez Sombras andou ao meu lado. Ele parecia notar que eu estava irritada, e não iria puxar mais papo.
 
Em qualquer outro momento estaria feliz, estranhando a situação, mas feliz.
 
Mas agora eu nem conseguia me sentir assim, não neste momento.
 
Flora é a maior culpada de tudo de ruim que sinto agora, ainda dói como o inferno. Mas Syra conseguiu amenizar isso.
 
Enquanto eu andava, notei que o céu estava mais claro, branco para ser exata. A floresta parecia mais iluminada, mas não o suficiente para ela deixar de dar arrepios.
 
Assim que vi o final da floresta, ondem obtinham árvores como um escudo, escondendo como toda a floresta para quem estava de fora.
 
Apressei meus passos indo até lá, ansiosa para encontrar com Damon.
 
Escutei Sombras bufar atrás de mim. – O velhote já está por aqui.
Olhei para trás confusa, mas Sombras da havia evaporado.
 
Dei ombros voltando a seguir o meu caminho para fora da floresta. Assim que passei por dentre as árvores, estava fora da floresta.
 
Mas antes que eu pudesse sequer olhar em minha volta, um corpo forte me agarrou me abraçando com força.
 
O cheiro amadeirado de Damon cercou todos os meus sentidos, me fazendo relaxar instantaneamente sobre seus braços fortes.
 
- anjo. – ele disse como se meu nome fosse uma oração.
 
Abracei Damon de volta, sentindo o aconchego do seu corpo, eu amo tanto esse homem que m cabe no peito.
 
Rapidamente Damon se afastou minimamente de mim, e me tomou um beijo. Tão feroz, repleto de devoção.
Eu o beijei de volta, sentindo a necessidade dele.
 
Quando Damon parou de me beijar, pude sentir meus lábios mais inchados e quentes. Damon colocou sua testa sobre a minha, sua respiração estava rápida como se ele estivesse correndo.
 
- pensei que tinha perdido você. – Ele disse me olhando atentamente, como se fosse aparecer a qualquer momento alguma ferida em mim.
 
Eu neguei com a cabeça, colocando as minhas mãos sobre seu rosto.
 
- está tudo bem, meu amor. – eu disse suavemente olhando intensamente para os seus olhos que eram verdes. Agora estavam escuros, assombrados pelo medo.  – eu estou bem.
 
Sua respiração se acalmou, seus olhos se suavizaram e quando pensei que tudo iria ficar bem outra vez. Damon me olhou furioso.
 
- vai me contar o porque de eu não conseguir te sentir pelo elo? – ele perguntou com um olhar perigoso.
 
Sei que não era para mim o perigo. Ele temia que alguém tivesse feito isso.
 
- sim... eu... – eu me embaralhei nas palavras, tropeçando nelas me sentindo envergonhada. – eu fiz uma porção para anular o elo por um dia.
 
- você  o que? – ele perguntou incrédulo
 
- amor, eu só –
 
Damon me soltou antes que eu pudesse falar mais alguma coisa. Ele passou os dedos sobre os cabelos loiros, a indignação tomava conta de suas feições.
 
- Eloise você tem noção do perigo que você passou. – A flechada de dor ao ouvir meu nome sair de sua boca, com tamanha decepção foi alarmante. Ele estava chateado. – você tem noção que eu não sentia o elo.
 
Porra, eu acabei de sair do meio da floresta, estou ensopada, e ele nem perguntou ou se perguntou o que aconteceu comigo.
 
- eu sei, eu só não queria que você sentisse o medo em mim. – eu disse sentindo a minha voz mais alterada do que deveria. – não queria que você achasse que eu era uma donzela indefesa.
 
A raiva e decepção brilhou nos olhos de Damon.
 
- eu pensei que você estivesse morta, Eloise. – Ele disse frio como o gelo.
 
Pisquei meus olhos chocada. Chocada pelo tom de voz dele, chocada pelas palavras.
 
- eu... – eu tentei dizer, mas não conseguia sequer pensar. Não tinha pensando nesse lado, o fato de Damon não estar sentindo o elo, poderia significar que eu estivesse morta. Estava com tanto medo dele sentir meu medo, que não pensei em como ele se sentiria. – eu não pensei nisso.
 
Eu disse agora com a voz repleta de desânimo.
 
Damon suspirou esfregando as mãos nos olhos, mas logo olhou para mim de novo.
 
- me desculpa, eu não pensei nessa lado.  – eu disse sentindo a amargura em minha voz. – eu sinto muito.
 
O arrependimento tomava conta da minha voz e do meu peito.
 
Damon suspirou de novo, dessa vez mais calmo. Seus olhos não estavam mais chateados.
 
- prometa que não fará de novo. – ele exigiu se aproximando de mim mais uma vez.
 
Eu assenti sentindo meu corpo voltar a se acalmar com a sua aproximação, e com a calma de volta em sua voz.
 
- eu prometo. – eu falei me aproximando dele também, encostando a minha testa em seu peitoral. E logo seus braços estavam me abraçando de novo.
 
.
 
Enquanto eu e Damon estávamos passando pela ponte, comecei a pensar em como iria lidar com as pessoas. Todos estavam tão ansioso para que eu resolvesse sobre Flora, mas sequer cheguei perto de tal coisa.
 
Ainda nem havia aberto a boca para contar as coisas para Damon. O clima entre nós estava estável de novo, mas a minha mente estava cheia demais para entrar neste assunto.
 
Agora estou com medo, de como olharei cara a cara com o meu povo, e de mãos abanando.
 
Quando cheguei onde o povo morava, ainda aflita. Observei uma pequena comoção logo a frente. As pessoas estavam reunidas perto de algo.
 
Eu não conseguia ver com clareza o que era, pois todo estavam atrapalhando a minha visão. Damon me lançou um ar questionador, e eu o devolvi um que dizia o quanto eu não fazia ideia do que era.
 
Começamos a andar em direção a comoção, imaginei que seria uma briga ou talvez um rebelião. Até mesmo contra mim. Mas diferente do que eu esperava, as pessoas não pareciam raivosas e muito menos tristes.
 
As risadas preencheram meus ouvidos, os risos alegres e anestesiados foram detectados por mim. Me fazendo olhar ainda mais curiosa para eles.
 
Quando me aproximei, uma das pessoas que estavam ali, olhou para trás me vendo e assim que seus olhos brilhantes de alegria pousaram em mim. A senhora de talvez cinquenta anos sorriu mais abertamente, vindo correndo em minha direção.
 
- A água! – ela gritou correndo até mim. – Você conseguiu trazer a água boa!
 
 
Paralisei por um segundo deixando a informação adentrar meus ouvidos.
 
Como assim? Não pedi nada a Syra.
 
A mulher segurou meu braços me puxando até a multidão, olhei para Damon confusa, e ele tinha consigo um sorriso orgulhos em seu rosto.
 
Pisquei mais uma vez sem acreditar, quando eu e ela paramos na multidão, ela me soltou, e logo eu comecei a passar pelas pessoas para ver de fato o que era.
 
Quando cheguei ao meio, me deparei com uma grande fonte de água, aquela que já tinha visto. Havia uma estátua minha muito antiga, as minhas mãos estavam unidas como se fosse eu jogando agua pela fonte. Mas não era essa a surpresa, nem de longe. A surpresa er a água que descia agora.
 
 
Não era suja e escura como antes, era cristalina.
 
Um azul claro brilhante.
 
Literalmente brilhante.
 
Me agachei para olhar de perto a água, eu ainda não conseguia acreditar.
 
Eu não precisava pedir Syra nada, bastava conseguir sua confiança.
 
Enfiei as minhas mãos dentro da água, juntando para poder pegar uma boa quantia de agua. Levei as mãos cheias de água até os meus lábios. E assim que senti o gosto maravilhoso de água meu peito se inchou de orgulho e felicidade.
 
Eu sabia que água não tinha gosto, mas essa era pura.
 
Todos ao meu redor comemoravam, alguns me parabenizavam, outros olhavam como se não fosse grande coisa. Mas eu podia sentir que estava conquistando a todos. O céu já não estava cinza claro, e sim um branco. Não era o melhor que tínhamos, mas era o melhor até agora.
 
Eu senti a esperança florescer em meu peito, a segurança voltou. Eu podia, eu vou cuidar de tudo.
 
Conquistei Syra, agora falta Flora e Animy.
 

 Assim que pisei meus pés no castelo, eu fui surpreendida pelos demônios da terra

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Assim que pisei meus pés no castelo, eu fui surpreendida pelos demônios da terra. Eles geralmente me ignoravam, mas hoje eles não faziam tal coisa.
 
A maioria sorria me parabenizando, dizendo que agora eu iria ao grande passo. Outros nem sequer sorriam, apenas assentiam com a cabeça.
 
Mas ninguém podia tirar o sorriso do meu rosto. Absolutamente ninguém.
 
A primeira pessoa que eu conhecia que eu vi, foi Kilton.
 
Ele tinha um sorriso feliz no rosto, estava tão alegre e era tão genuíno. Ele me abraçou forte sem nem me deixar falar.
 
- eu sabia que iria conseguir, eu sempre soube. – sua voz delicada e doce foi quase como músicas para os meus ouvidos.
 
Eu sorri para ele ainda o abraçando.
 
Zyndor veio depois, ele estava mais frio que Kilton.  Eu não pude deixar de observar o olhar que ele dirigiu a ele. Mas não iria estragar esse momento com isso. Pelo menos não agora.
 
Assim que Zyndor parou em minha frente, ele deu um sorriso bem discreto para mim.
 
- fico muito feliz e ver que conseguiu, Majestade. – ele disse e se curvou. Não pude deixar de sorrir vendo seu jeito tão certinho. Quando Zyndor levantou o rosto, o seu sorriso já havia ido, e preocupação tomara conta de suas feições. – Mas temo que a senhora terá de comemorar mais tarde.
 
Damon parou ou meu lado segurando a minha mão de volta. Olhou para Zyndor com tanta cautela quanto eu.
 
- o que foi desta vez? – Damon perguntou impaciente.
 
Zyndor engoliu o seco vendo o semblante de Damon.
 
- alguns dos filhos de Lúcifer vieram lhe visitar.
 

 Olá, meus queridos leitores!

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Olá, meus queridos leitores!

Gente, sei que esse cap foi bem curto, infelizmente meu pocket em formato de notebook está MAIS UMA VEZ no concerto. Da ultima vez eu deixei lá dizendo para apenas dar um jeitinho, pq queria estudar e escrever logo.

Mas logo voltou a dar problema ( como foi avisado que iria acontecer ) então decidi deixar lá por tempo necessário.

Agora estou em semana de prova, e escrevendo pelo celular.

Então perdoem a autora de vocês.

Enfim, fiz esse cap com muito amor, espero que tenham gostado.

Continuem comentando, me incentiva demais!

Amo vocês meus seres temerosos, beijos do fundo do coração.

Até segunda!!

Falando no Diabo - Elo do submundo (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora