Syra

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Flora?"

O ser pequeno e magro olhou para mim com os olhos completamente negro e redondo. Flora ficou de pé assim que me viu, me fazendo notar como ela era pequena, eu chutaria um metro e quarenta para a sua altura.

Flora tombou sua cabeça para o lado me observando com curiosidade, suas pétalas que pousavam encima de sua cabeça, curvaram levemente para o mesmo lado onde ela tombou a cabeça.

Algo floresceu em meu peito, exatamente no momento que a vi, era como se eu encontrasse uma peça do meu quebra cabeça. Um que estava escondido por tempo demais, e finalmente eu encontrei.

Eu sorriso puxou os cantos dos meus lábios enquanto eu observava a coisinha tão bonita e pequena olhando com os olhos brilhantes de curiosidade.

Eu a conheço, mas não apenas isso. Ela faz parte de mim.

Dei um passo para frente querendo toca-la, mas assim que fiz tal coisa Flora se assustou.

Seus olhos negros se arregalaram, e seu semblante tomou por susto.

- está tudo bem? - eu perguntei com tamanha delicadeza.

Flora ficou ainda mais surpresa ao ouvir minha voz, de repente ela se aproximou e tocou meu braço com sua mão delicada. E assim que me tocou, ela se afastou, me fazendo olha-la com confusão.

Algo diferente cobriu seus olhos, mas antes que eu pudesse entender o que era, Flora se virou rapidamente, ficando de costas para mim.

Suas mãos estavam como punhos raivosos, apertando as suas unhas na palma de suas mãos. Mostrando algo como raiva.

Assim que pensei nisso, senti outro aperto no peito, uma vontade de ajuda-la, de conforta-la. Eu não me lembro dela, mas eu sei que ela faz parte de mim. É como o elo de Damon, forte e intenso. Além de gritante.

Mas não era quente como o elo, era algo mais suave, como penas sobre a pele, mas doce ao toque.

Algo mais familiar.

Dei outro passo em sua direção, pensando no que eu iria dizer para entender o que estava acontecendo. Ela tinha raiva de mim?

A dor que apertou meu peito com esse pensamento foi afastada, eu tinha que resolver.

- você pode falar comigo? - eu perguntei suavemente.

Levantei a minha mão levando até seu ombro, afim de conforta-la.

Mas antes que eu fizesse isso, ela se virou de novo, rápido como antes. Não havia raiva em seu olhar, nem curiosidade. Ela parecia... feliz?

Ela tinha um sorriso no rosto, seu sorriso era doce como tudo em sua aparência, seus dentes eram pequenos, e sua boca acompanhava tal coisa.

Ela abriu a boca falando algo, eu entendi de cara.

"estou contente que esteja de volta."

Ela disse, mas a som que saia de sua boca, não era voz como os humanos, eram como sinos pequenos.

Lembrando a sininho que Peter Pan.

Abri um sorriso nostálgico ao pensar nisso.

- eu também estou feliz que estou de volta. - eu respondi sorrindo tão feliz, que talvez fosse rasgar meu rosto.

Um movimento delicado chamou a minha atenção, me fazendo olhar para cima, onde os galhos da arvore com vida em abundancia estava.

Quando olhei, pude perceber que as folhas não só eram com cores vivas, mas tinham vida. Olhinhos adoráveis, boca minúscula com um sorriso lateral.

Não tinha nariz ou dentes. E seus olhos eram apenas o delinear do olho humano. Mas ainda conseguia ver a forma como seus olhos sorriam, como suas pequenas bocas eram puxadas como se estivessem felizes.

As folhas dançam para lá e para cá, todas sorrindo para mim.

Eu olhei para aquilo maravilhada, tenho certeza que meus olhos estão brilhando de deslumbre.

Era tudo tão perfeito.

Eu dei um risada animada enquanto observa as folhas, uma por uma.

- isso é lindo. - eu disse ainda observando.

Olhei de volta para Flora que me olhava com certa cautela.

- foi você quem fez, eu apenas trago a vida a elas. - ela disse com o som de sininhos em ritmo.

Eu suspirei contente olhando para ela e depois virando meus olhos a arvore. Logo ficando surpresa ao observar uma fruta da cor azul, semelhante a pera.

Meus olhos cresceram ao ver tal coisa, e logo olhei para Flora curiosa.

- as frutas são como presentes das folhas, elas gostam de você. - ela disse.

Meu sorriso de alargou olhando para a fruta. Fiquei sobre a ponta dos pés para conseguir alcança-la erguendo meus braços para cima. Assim que arranquei do galho. Olhei para Flora mais uma vez como pergunta.

Ela assentiu me incentivando a comer a fruta peculiar e bonita.

Aproximei a fruta trazendo ela até a minha boca, dando uma boa mordida na mesma.

Antes que eu pudesse mastiga-la, eu olhei para a fruta e logo um sensação de enjoo profundo tomou conta do meu estomago.

A fruta estava coberta por larvas, não existia a fruta em sí ali, apenas larvas agitadas por mais algo para comer.

Cuspi o pedaço que tinha em minha boca, sentindo ânsia de vomito me possuir. cuspi tudo que podia, tudo que tinha e não tinha em minha boca.

Joguei a fruta no chão ao notar que ainda a segurava, e quando direcionei meu olhar para flora, ela não era mais a mesma.

Algo feio possuiu seus olhos, seus sorriso pareceu apenas uma lembrança da minha cabeça. Ela estava irritada, não, ela estava furiosa.

As folhas das arvores morreram em uma melodia triste e irritada. A grama apodreceu formando apenas aquela terra úmida e nojenta. Até mesmo a cor das pétalas de Flora perderam toda a magia.

- como se sente? - ela perguntou agora, e não havia sininho em sua voz. A voz humana e raivosa saiu de seus lábios. Fazendo meus olhos se arregalarem. - se sente traída? Enganada? Passada para trás?

Ela perguntou dando passos lentos em minha direção.

Meus olhos se encheram de lagrimas, a dor martelava meu peito.

Martelava a minha alma.

- eu sei bem como é isso, majestade. - ela disse com os dentes cerrados, olhos negros e raivosos.

- flora, eu sinto muito. - eu disse. e logo senti raiva de mim mesma por minha voz ter ficado tremula e completamente machucada. - eu não sou mais aquela pessoa, eu nem me lembro do meu eu do passado.

Eu me expliquei, esperançosa para que ela me desse uma chance, apenas uma maldita chance de me redimir.

Ela riu sem um pingo de humor. - você se foi, prometeu que jamais iria, e você se foi.

As lagrimas transbordaram em meus olhos, indo por todo meu rosto.

Por que dói tanto?

É como se meu coração estivesse sendo arrancado de mim.

- por favor, deixe-me mostrar, eu vou provar que seja lá quem eu era, eu não serei mais assim. - eu disse implorando Flora. - eu não sou aquela pessoa.

Ela rosnou com nojo. - você já nos traiu uma vez, como não faria de novo?

Ela questionou mostrando o ódio em sua voz.

- esqueça o que aconteceu, eu não sou aquela pessoa. - eu disse, mesmo sem nem saber quem eu era de fato.

Mas se a minha eu antiga abandou meu povo e trindade, eu sei que não sou a mesma. Pois me dói o peito se quer pensar nisso.

- eu vi a sua outra face, e pretendo jamais esquece-la. - Flora disse e se virou seguindo o escuro da floresta.

A luz que pertencia ao único lugar onde Flora estava, se foi. Dando lugar para aquele neblina negra que já era da floresta.

Falando no Diabo - Elo do submundo (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora