- IV - Inimigos em comum

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Já passavam das duas da tarde. O carro guiado pelo pai de dois filhos seguia pelas estradas próximas ao rio Yalu, com suas duas crianças no banco traseiro. Eles chegaram à subida da ponte onde três caminhões estavam estacionados para fazer a mesma travessia da ponte da amizade.

Ao perceber a demora do grupo de caminhões, Yeong-gi decidiu ultrapassá-los. Ele acelerou cortando o terceiro caminhão, porém, quando estava ao lado do segundo, o primeiro caminhão partiu. O motorista do segundo caminhão sinalizou dando permissão de passagem para Yeong-gi.

- Vai, pai. - disse o filho mais velho.

Ele seguiu atrás do primeiro caminhão. Os outros dois vinham logo atrás dele, seguidos por outros carros.

- Olha, filha. Vamos passar na ponte. - ele falou tentando animá-la dessa vez.

Nabí, de seis anos, ficava amedrontada e se deitava no banco do carro para esconder seu rosto quando passava sobre aquele rio. Seung, sabendo do medo da irmã, fazia cafuné na cabeça dela para que aquilo pudesse a confortar.

O carro estava no meio da ponte, quando Seung viu através da janela uma nébula branca e, logo atrás, um ponto preto maior que uma ave surgir ao longe, quase imperceptível no céu.

- Pai, aquilo é um pássaro?

- Onde? - Yeong-gi perguntou, olhando para o lado errado do céu.

Seung viu o ponto crescer e se aproximar na direção da ponte em alta velocidade, antes que seu pai conseguisse enxergar. Enquanto isso, um rastro como o deixado por um avião riscou o céu acima da ponte e desapareceu do lado esquerdo.

- Nossa, ele é muito rápido.

- Onde, filho? Não estou vendo. - ele falou olhando para os dois lados à procura do pássaro.

O que parecia ser um grande pássaro depois do rastro branco começou a deixar um rastro de fumaça preta.

- Caramba, parece que está pegando fogo. - Yeong-gi falou, após finalmente avistar a coisa sem conseguir identificar o que era.

- Você viu?! - Seung falou excitado.

O rastro negro que poderia ser de um míssil aproximou-se tomando o aspecto de um vulto. Cada vez maior. Àquela altura, pessoas em uma passarela de pedestres ao lado já apontavam para o céu. Até que uma marola no rio cresceu e foi aumentando gradualmente.

A ventania que provocou a marola atingiu a ponte e entrou pelas janelas dos carros. Yeong-gi percebeu ser um vento mais forte que o normal.

O vulto negro dissipou-se, deixando apenas seu rastro no ar. Novas rajadas de vento chegaram até a ponte, que a fizeram sacudir. As águas do rio agitaram-se.

Seung deitou-se no banco traseiro tão assustado quanto sua irmã. O primeiro caminhão, descontrolado pelo balançar da ponte, bateu no guarda-corpo. O carro da família e os que vinham atrás ficaram impedidos de prosseguir.

A grande ponte da amizade curvou-se vertiginosamente para o lado, retornou à posição normal, e em seguida um impulso a fez pender para o outro lado. Os carros batiam contra a lateral da ponte e chocavam-se uns contra os outros. Chineses e norte-coreanos dentro deles tomados pelo desespero. A ponte curvou-se novamente movida por uma força maior que as anteriores e despedaçou-se, afundando no rio.

O carro da família afundava. Yeong-gi foi até o banco de trás. Seung conseguiu soltar seu próprio cinto. A água começou a entrar. Nabí gritou, todos estavam apavorados. A frente do carro já estava submersa, a água cobria os vidros frontais. O pai tentou soltar o cinto de Nabí, sem sucesso. Ele sabia que se abrisse a porta, a água entraria e faria o carro afundar mais rapidamente.

Quando a água havia preenchido a maioria do carro e os três começaram a se afogar, Yeong-gi abriu a porta de Seung. A água entrou cobrindo todos. O filho mais velho saiu do carro enquanto Yeong-gi e Nabí ficaram sem ar, mas o pai não desistia de desatar o cinto que prendia a filha.

A criança mais velha nadou até finalmente chegar à superfície. Perto dele, havia pedaços de escombros que flutuavam. Ele nadou para a margem mais próxima antes que ficasse exausto. Bebeu água e continuava bebendo vez ou outra, já que não era tão bom nadador. Estava se cansando. Parava e olhava para trás à procura de seu pai e sua irmã. Percebia que eles não emergiriam mais. A vontade de chorar era grande, mas seus pés ainda não tocavam o chão, então ele precisava continuar nadando.

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