Lino foi convocado para ir à sala de reuniões da faculdade, ele se dirigia até lá se perguntando por que seu orientador teria escolhido aquele local em vez de sua própria sala, onde ocasionalmente costumava ser chamado.
Antes que ele chegasse lá, um debate era travado no interior do ambiente reservado. Três representantes da Abin estavam presentes: a mulher era Marisa, psicóloga. O homem mais novo era Caio Rodrigues, um físico. O mais velho dos três era um diplomata. Tomás havia servido ao governo e resolveu entrar para a agência, pois durante sua carreira tomou consciência de que os debates relevantes estavam ocorrendo em outro lugar que não o Itamaraty.
Apesar de muitos funcionários que assessoravam o presidente perceberem cumprir funções figurativas, poucos eram os que viam na Abin um lugar onde conseguiriam mais poder.
O que se falava entre os entendedores era que o Brasil sempre investiu pouco em inteligência. Um renomado jornalista escreveu que os trezentos milhões que a Abin usava para pagar seus funcionários não eram nada perto dos investimentos declarados pelas agências dos grandes países.
Isso porque ele certamente não sabia dos bilhões que estavam passando como orçamento não declarado para desviar urânio dos centros de enriquecimento. É claro que eles usaram o limite que suas usinas supostamente conseguiriam consumir para projetar a quantidade de urânio que estava sendo produzido no país, mas isso não era nem um centésimo do que estava sendo de fato minerado e enriquecido.
— O estado das memórias de Lino é preocupante. Estamos chegando em um ponto em que ele inevitavelmente retomará algumas lembranças, e não sabemos quais podem ser. — falou a psicóloga. — Os efeitos do... do procedimento feito em Lino estão ficando cada vez mais ineficazes.
— O efeito vai decaindo com o tempo, como um elemento radioativo. — explicou o físico.
Do lado oposto da mesa ao dos três agentes, estava o orientador de Lino, a coordenadora do curso em que Lino estava matriculado e um homem bigodudo de boina.
— Esse é o motivo da oferta, precisamos ganhar sua confiança. — disse o diplomata Tomás. — Pensem no que ele tem guardado no fundo de sua mente, pensem no que ele pode ter presenciado no plano em que viveu, as tecnologias que ele conhece, suas qualidades, experiências, ambições de um Líder galáctico. — Ele passou a olhar fixamente para o reitor. — Pense no que poderíamos fazer se tivéssemos ele ao nosso lado.
— Ele já está ao nosso lado. — o reitor Abraão afirmou da ponta da mesa, se desviando daquela conversa.
— Será que ele estará ao nosso lado quando retomar suas memórias? — provocou Tomás.
Abraão se sentiu subestimado. Por fim, acenou afirmativamente com a cabeça.
— Estamos acertados, você também terá seu mérito. Todos aqui terão seus papéis reconhecidos. — o físico falou olhando inicialmente para o homem de boina que estava sentado na sua frente.
Lino bateu à porta.
— Olá, Lino. Pode se sentar. — falou a coordenadora do curso, indicando a cadeira vaga do lado dela na mesa.
— Olá! — ele disse enquanto caminhava, em seguida se sentou encolhendo-se na cadeira com certa timidez diante dos desconhecidos.
— Nós te chamamos aqui porque temos algumas coisas que gostaríamos de conversar com você. — começou Alessandra. — Mas antes, como você está se sentindo?
Lino não esperava aquela pergunta.
— Eu, bem... Estou bem. Muito bem, na verdade. E você? — Lino fez a pergunta automaticamente por educação, sem se dar conta de que talvez não coubesse.
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COMANDO SUPERIOR: A Ascensão de Drak Nazar
Science-FictionO desaparecimento de agentes da Abin no ano de 2070 levanta suspeitas e conspirações envolvendo segredos guardados pelo governo brasileiro. Um líder da inteligência internacional começa a investigar, enquanto todo o mundo se vê diante de uma ameaça...