Capítulo Quatro - I - Lembranças desta e de outras vidas

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Lino precisava de uma fonte ultra potente de energia, e sabia do reator que fornecia energia para a cidade universitária e era controlado pela UFRJ. Imaginou que contactando alguém do Instituto de Engenharia Nuclear (IEN), poderia se identificar como aluno e apresentar seu projeto para conseguir uma cota da energia gerada ali e utilizá-la em seus experimentos. Conversou com Eduardo, que se prontificou a fazer uma carta de recomendação e entrar, ele mesmo, em contato com o IEN.

— Eduardo? — Alessandra atendeu ao telefone.

— Acho que Lino recuperou parte de suas memórias, porque ele me mandou um e-mail falando sobre um projeto que está desenvolvendo sozinho em casa e, pelo que vi, ele está há poucos passos de consumar um teleporte bem-sucedido.

— Entendi. Mas ele mudou de ideia? De qualquer forma, não vejo como o medicamento poderia ter falhado, ele parecia ter esquecido da reunião. Tenta descobrir se ele lembra de algo. É arriscado deixar ele prosseguir tendo essas memórias. Talvez possamos falar com Estevão e com a psicóloga da Abin para que eles analisem se ele está sendo sincero. — Alessandra orientou.

— Como ele poderia não estar sendo sincero?

— Naquele dia ele parecia determinado em recusar a oferta. Se ele teve lapsos de memória que o fizeram querer desenvolver algo assim, precisamos analisar traços indesejáveis, ele pode querer fazer algo que não é exatamente o que ofertamos a ele. — ela explicou.

— Você diz sobre fazer algo contra nós? Se vingar e expor o que fizemos? — Eduardo foi mais afundo.

— Sim. Isso seria desastroso. A profissional da Abin saberá avaliar se ele está apresentando traços de psicopatia, ou tendências vingativas para combater o que fizemos. — disse Alessandra.

Eduardo foi apressado pelo corredor da faculdade em direção a sala do reitor. Ele chegou lá e percebeu que Abraão não estava.

— Eduardo? — Abraão atendeu a ligação celular.

— Acesso aos arquivos do Lino. Pode liberar?

— É pra já. — o reitor respondeu. — Solicita aí.

Eduardo digitou um código que enviava para o celular de Abraão uma solicitação de acesso.

— Aceitei.

Eduardo colocou o dedo sobre o leitor de digitais da porta e teve seu acesso liberado. Se despediu do reitor com um obrigado.

Quando removeu a pasta de Lino do arquivo, percebeu que lá havia novidades sobre anotações que ele fazia em casa. Elas eram enviadas sem que ele soubesse para que a Abin e, ocasionalmente, algum dos mentores de Lino monitorassem o que ele elaborava. Tinham o objetivo de subtrair dali algum conhecimento do seu inconsciente que despertasse.

Eduardo percebeu que Lino descobriu uma forma de fazer a moeda original desaparecer, mantendo apenas a nova moeda criada. Ele havia feito testes com pequenos insetos e com alguns ratos. Com bastante ratos, Eduardo percebeu.

Anotações anteriores sem nota fiscal constatavam a compra de quantidades menores depois que ele comprou o primeiro rato. Ele virou a página e leu uma nota fiscal anexada onde exibia a compra de oitenta ratos.

Continuou folheando e percebeu que ele colocava um rato de cada vez em uma bobina, e que eles eram duplicados para a segunda. Mas o segundo sempre surgia já morto, enquanto o primeiro rato desaparecia.

Lino tentou transferir o rato morto de volta para a bobina inicial, e por vezes, após ter duplicado inúmeros ratos mortos, conseguiu teleportar de volta para a bobina inicial, mas os ratos sempre voltavam sem vida.

Ele estava na sala de Eduardo, onde costumava ser chamado para receber orientações sobre as disciplinas que pretendia se inscrever, e possíveis alternativas para suas dificuldades.

— Lino, você me conhece? — A psicóloga da Abin perguntou, se passando por uma funcionária do Instituto de Engenharia Nuclear.

— Não. — respondeu Lino.

— Nunca me viu por aqui? — Ela queria ter certeza, mas perguntou de forma descontraída.

— Sou bom com rostos, provavelmente eu me lembraria. Com certeza eu não te vi aqui antes.

— Tudo bem. O que te motivou a desenvolver esse projeto? — Marisa perguntou de forma mais íntima.

Estavam na sala somente os dois.

— Foi uma loucura, esses pensamentos começaram a chegar, eu tinha uma intuição do que deveria fazer. Quando consegui projetar a imagem da moeda usando o transformador ligado na tomada, pensei que algo mais potente poderia produzir resultados ainda melhores.

— Entendo. O que você sente quando pensa nesse circuito e no que conseguiu fazer?

— Quero a chance de descobrir uma utilidade para isso. Se eu conseguisse manter as duas imagens após desligar o circuito, eu teria uma clonagem.

A psicóloga tentou disfarçar sua surpresa.

— Clonagem? — ela o indagou, sem realmente saber como isso seria possível.

— Multiplicação de objetos e, quem sabe, seres vivos.

— Eu sei que você entende de física, então você deve saber bem que existem leis que proíbem certas coisas, como geradores de energia infinita, ou produzir mais matéria além da que já existe no universo.

— Sim, mas podemos converter energia em matéria. A energia de um circuito carregado pode ser usada, moldando o campo magnético no mesmo formato que o objeto que desejamos clonar, depois você aplica uma variação, capta as ondas liberadas como em uma máquina de ressonância, e projeta esse sinal na outra bobina, então a energia é convertida. — Lino falou empolgado. — Por isso eu preciso de bastante energia. Entendeu?

A psicóloga Marisa tinha um conhecimento básico do circuito do teleporte, que realmente funcionava com uma bobina e um painel solar, ou fotovoltaico. Mas nunca havia sabido da possibilidade de clonar objetos, então anotou tudo e decidiu que levaria aquilo à Abin.

Ela solicitou que Lino gravasse um vídeo com o circuito em funcionamento mostrando a clonagem da moeda. Ela e o físico presente na reunião inicial de oferta a Lino exibiam o vídeo para Estevão.

— O que você acha?

Estevão ficou plenamente surpreso.

— Eu nunca vi nada do tipo. — Estevão explicou quase boquiaberto, mas mantendo sua dureza costumeira no jeito de falar. — Talvez seja porque o nosso circuito acaba desligando a energia da primeira bobina milésimos de segundo após a imagem ser projetada na segunda bobina, então nunca tivemos a chance de observar isso.

— Você acha que seria producente deixá-lo analisar esse processo de forma sigilosa usando o reator da UFRJ, já que ele possui um vínculo com o local, que é frequentado por pesquisadores, um lugar onde a presença dele passaria despercebida. Ou poderíamos provisionar o acesso dele a um reator em um dos laboratórios da Abin, sem ele saber do que se trata. — O físico propunha.

— Dessa forma teríamos mais controle sobre as descobertas que ele está fazendo e evitaríamos possíveis vazamentos.

— Vamos analisar com cuidado, registrar todas essas informações. Os oficiais podem se interessar. — Marisa sugeriu. — Teresa pode se interessar. — ela completou de forma ardilosa.

COMANDO SUPERIOR: A Ascensão de Drak NazarOnde histórias criam vida. Descubra agora