- III - Lino

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Lino estava sentado ao computador, havia se cansado de ler pseudociências sobre telepatia, percepção extrassensorial e afins.

Olhava para o teclado com os braços cruzados quando uma ideia irrompeu ainda sutil em sua mente. Ele se lembrou de algo que nunca viveu, da sensação de sentir o chão abaixo de si, desaparecer e reaparecer novamente. A sensação da sua visão piscar preto por uma fração de segundo, como se sua consciência tivesse se apagado e voltado a vida. Ele não sabia como. Simplesmente se lembrava.

Então, ele começou a unir o que havia aprendido nos últimos meses da faculdade com o que seu subconsciente lhe enviava em um estado de fluxo de pensamento. Ele imaginava em uma forte contenção magnética, como uma máquina de ressonância. Imaginou os átomos de hidrogênio se movimentando e liberando radiação para formar as imagens. Lembrou-se de certa vez em uma sala na faculdade diferente daquela que costumava frequentar com seu orientador.

Haviam outras pessoas. Sim, ele se lembrava. Mas o que teria ido fazer lá? Era uma sala reservada, apenas para reuniões de coordenadores e era conectada ao gabinete do reitor, então ele imaginou que deveria ter sido para algo importante, mas ele não conseguia se lembrar o quê.

Deixou para lá.

Desenhos de circuitos elétricos surgiam em sua mente. Embora ele sentisse que cada pensamento intuitivo que lhe ocorria eram de extrema importância, não sabia o que faria com cada um deles, nem onde eles poderiam o levar. Abriu um programa e montou um circuito elétrico. Sentia uma voz o guiando, a voz de uma pessoa muito próxima, um aliado. Instruções chegavam a sua mente como se ele estivesse sendo guiado por uma divindade superior, embora ele achasse essa ideia uma grande bobagem.

Seu mouse travou enquanto ele lia um dos menus de dispositivos que poderia incluir no circuito. Ele não conseguia mover o ponteiro, embora movesse sua mão agitando o mouse para os lados. Entendeu ser um sinal. Clicou sobre o elemento em que estava o ponteiro e ele foi selecionado. A partir daí, ele já sabia exatamente o que deveria fazer com o dispositivo. Colocou dois transistores em paralelo com a fonte e em série com dois indutores. Reiniciou a simulação. Fechou a chave. A corrente fluiu da fonte e carregou o indutor. Em seguida ele resolveu abrir novamente o circuito. E assim o fez. Esperou durante poucos e insuficientes segundos para que a magia se revelasse. Sem obter resultados rápidos, desistiu e fechou o programa.

Foi se deitar.

No dia seguinte, acordou mais cedo que o normal. Ligou o computador pensando em alterar alguma coisa. Montou o mesmo circuito da noite anterior, fechou a chave e a corrente fluiu. Ele esperou que o indutor se carregasse completamente. Abriu a chave, sentindo ser o que deveria fazer. E então esperou, esperou... após quinze segundos olhando aquele circuito parado, a magia aconteceu. A energia represada de um lado transferiu-se para o outro como se a carga do capacitor que ele havia adicionado — ele se deu conta, por engano, fluiu no sentido contrário ao convencional do transistor e armazenou-se no outro indutor.

Ele ainda não sabia o que aquilo significava, mas achou deveras interessante o que pôde testemunhar com apenas quinze segundos de espera. Decidiu que criaria o circuito em sua casa. As instruções misteriosas chegavam como pensamentos dizendo que ele estava no caminho certo, que ele deveria prosseguir autorizando aqueles pensamentos dos quais ele não sabia de onde estavam vindo. Trocou de roupa, pegou algum dinheiro para o equipamento e foi comprar tudo que precisaria.

Enquanto seguia no carro, lhe ocorreu um pensamento que não havia se dado conta até então. Ele pensou que poderia colocar algo no primeiro indutor, um objeto metálico, para que ele interagisse com o campo magnético do indutor e em seguida transferisse a energia para o segundo indutor. Ele tinha convicção de que aquilo daria certo. Começou a pesquisar o que precisaria para montar um indutor, já que o que ele buscava precisaria ser mais potente que um indutor simples, e precisaria comportar um objeto. Ele havia pensado em uma moeda.

COMANDO SUPERIOR: A Ascensão de Drak NazarOnde histórias criam vida. Descubra agora