Trustfall Baby

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Bom, obrigada a quem permaneceu até aqui. Essa é uma fic violenta, sei disso, mas aborda coisas importantes. Os indígenas são apagados de nossa sociedade. Tenho certeza de que se muitos políticos pudessem, fariam como a Dao Hom. E quis abordar a o roubo da cultura indígena com a Kade, uma não indígena, que usa da cultura indígena para conquistar coisas. Também quis mostrar como deficientes, trans e homossexuais seriam tratados em um mundo bruxo onde a ideia de perfeição e impurezas apagariam essas pessoas. Não é bonito o que esses grupos faziam. A Sam fala isso muitas vezes. Ela paga pelos atos dela. Ela não tem paz por isso. E é algo que a mudou tanto que a faz sofrer pelo próximo, se importar com as pessoas. Uma flor para cada que chegou aqui.

    Olho para o lado e vejo a menina que me passou a maldição. É a primeira vez que a vejo por inteira, além dos olhos que me observam vinte e quatro horas por dia. Os olhos negros me encaram com aquele olhar que arrepia as costelas. A postura do corpo está torta, inclinada para o lado, mas me encarando fixamente. Os cabelos lisos soltos, caídos e o uniforme de Mahoutokoro.
      — Sam, nós nada temos a ver com as mortes daqui. A sua dívida conosco será eterna. Nós nunca a mataremos, tampouco iremos embora. Seu arrependimento não nos traz de volta. Nossa justiça é te fazer lembrar em todos os dias de sua vida que seus atos possuem consequências. Nós estaremos sempre olhando para você. Fixamente. — Ela some e todos os olhos aparecem diante de minha vista, o que me faz engolir em seco.
    — Você veio aqui para que, Fon? — A avó da Mon olha para a minha avó com os olhos estreitos.
    — Como você perdeu tanto o juízo? Matou milhares de alunos por nada! — Minha avó balança a cabeça.
    — Olha quem diz... — Dao Hom gargalha, enquanto vejo as explosões dos feitiços de Mon e Kade, e de Tatum e Tee. — Você é a responsável pela morte de trouxas. Qual a sua diferença para mim? Nós cremos na mesma coisa.
    — E você não é a responsável? A nossa diferença é que nunca causei massacres de sangue mágico apenas para provar meu ponto. A luta não consiste em fazer massacres a troco de nada. — Minha avó olha a ministra com um olhar de nojo. — Como pôde decair tanto? A garota que conheci, nunca chegaria a tanto. E olhe que ela chegou a muito pelo poder!
    — Como pode dizer isso? Você me traiu! Cravou uma faca nas minhas costas após dizer que me amava! — A ministra parece sentir raiva.
    — Se cansou dos discursos, de falar como uma política toda centrada, e agora fica se vitimizando, Dao Hom? Políticos sendo políticos... Você escolheu bem a sua profissão. — Minha avó é fria.
     Dao Hom, parecendo estar em fúria, começa a lançar muitos feitiços, um atrás do outro, para cima da minha avó. Mas eles batem no escudo que minha avó colocou. Ela conhece muitos feitiços escudos. Me ensinou alguns, mas eu nunca vou ter a experiência e conhecimento dela. Ela lutou em campo muitas vezes.
     — Pare de ser uma covarde, Fon! Lute como uma mulher! — Olho para o lado e vejo que Tatum está lutando cheia de fúria contra Tee, enquanto Mon e Kade ficam se provocando o tempo todo como duas doidas.
     — Muito bem! Então, vamos ver quem vence aqui. — Minha avó faz um movimento e desfaz o escudo.
    De repente, me vejo em uma cena estranha e louca de feitiços voando. Como se eu fosse uma telespectadora de várias cores voando, explodindo, fazendo como os foguetes da China fazem no Ano Novo Chinês em Mahoutokoro. Sim, há a comemoração para todos os anos novos de todos os povos, que são diferentes. Lá, é como se fossem vários anos novos. E aqui, parece que estou vendo os fogos de três anos novos de uma vez.
     Ali está Tatum e Tee duelando, enquanto jatos verdes voam e explodem no ar. Do outro lado, Kade e Mon parecem brincar uma com a outra e ficam lançando feitiços e rindo da cara uma da outra quando não acertam a outra. De lá, tem minha avó e a avó da Mon fazendo voar feitiços de várias cores, explodindo uns contra os outros. Elas são habilidosas e cuidadosas. São duas senhoras que devem ter feito muitos duelos.
     Eu deveria mesmo explicar o motivo de não entrar no meio dos duelos? Quero evitar a fadiga! Mentira... Sinto que entrar nas batalhas pessoais delas só irá atrapalhar. São coisas que elas precisam lidar. Se precisar, eu lutarei. Minha avó e a avó da Mon têm uma história, assim como a Mon com a Kade e a Tatum quer se vingar da morte da amada que Tee causou. Não são minhas batalhas. São delas.
      Os feitiços da minha avó e da avó da Mon parecem os foguetes da China, eu já disse. Se você estivesse aqui, veria. Os idosos parecem ser tão frágeis, tão incapazes de fazer algo além de uma faísca. Nós nunca imaginamos que o poder aumenta com o tempo, não o contrário. O poder da magia vem do conhecimento e o conhecimento vem dos anos de experiência.
     Você vê as quatro alunas duelando. Duas duelam com tanta intensidade que os jatos verdes explodem após ficarem um tempo ligados. É uma queda de braço. As outras duas duelam se provocando, rindo uma da cara da outra. Os feitiços explodem aqui e ali nesse processo. Mas as duas idosas...
     Elas analisam uma a outra, parecem conhecer os feitiços só de olhar a cor. Feitiços possuem cores diferentes. E então, lançam o feitiço que barra o outro feitiço. Parece que é fácil para elas. Olhou a cor, lançou o feitiço para barrar. Não é apenas Avada Kedavra... Há outros feitiços de mortes em outras culturas e elas parecem conhecer tanto o feitiço quanto o contra-feitiço.
     Você já viu algo que alguém fazia e parecia ser tão fácil, tentou fazer e viu que era difícil pra caralho? É isso o que elas me fazem sentir. Que é fácil duelar. Se eu não soubesse que é difícil, pensaria que poderia fazer todos aqueles feitiços de uma vez. Quem dera... Eu não possuo tanto conhecimento assim.
     Kade é maluca por dizer que sou a mais inteligente do mundo. Acho que ela só me quis porque a Rissa me odiava porque sentia inveja. A inveja passa. É como uma doença contagiosa. Tanto que a Misty também sentia. Só que eu passei esse ano só me ferrando, sendo tudo menos inteligente. Mas elas me viam assim. Eu não sou. Talvez a minha única inteligência foi amar as minhas amigas e o meu amor.
     E aqui estão todas as pessoas que me restaram vivas. Os meus amores. Mas sou apenas a telespectadora de seus respectivos duelos. Eu não posso tentar salvar nenhuma delas. Só posso olhar. Tatum tão focada em vingar a morte de seu amor. Minha avó tão concentrada em matar seu antigo amor. E o meu amor tendo a oportunidade de realizar o maior desejo que teve...
     Ah, Krum e Goyle? Eu lá quero saber deles! Quem estava se lembrando deles? Estão ali duelando, quem quer saber? Quem quer saber de batalha de homem? Vai lá ler a história de Voldemort e Harry Potter. Tá cheia de batalha de homens! Todos os duelos são de homens contra homens. Exceto a da Bellatrix com a mãe da Gina. Não leia a biografia da vida de Harry Potter, se você é feminista. Só há batalha de homens! E o livro é escrito por uma mulher! Pobre Hermione, nunca teve uma grande batalha. Grande! Ela só era o livro ambulante para dar as informações para o amigo homem duelar! Mas chega!
     — O que tanto pensa? — Levo um susto quando ouço a voz da Rissa.
     — O que faz aqui? — Pergunto e volto a olhar as batalhas.
     — Eu tentei evitar tudo isso de se acontecer. Kade não era a pessoa que eu pensava. — Ela suspira.
     — E você era a que eu pensei? — Continuo olhando a batalha, vendo os duelos continuarem no mesmo ritmo.
     — Sei que não era. Eu vim pedir desculpas pelo... — Ela começa a falar, mas para quando olho para ela.
     — Obrigada, Rissa. Você me tirou da minha vida de merda e me deu a oportunidade de conhecer amigas que se importam comigo de verdade. E ainda me deu a oportunidade de viver o amor. Eu só tenho a agradecer. — Sorrio de verdade, pois não odeio a Rissa.
     — Tudo bem. — Ela sorri de volta e eu volto a olhar para a batalha. — A sua amiga Jim está lá em cima ainda.
     — Pensei que... — Paro e olho para ela.    
     — Não foi a Noa que enfeitiçou ela. O feitiço ainda está nela. — Ela suspira.
     — Como não? E como sabe? — Fico sem entender.
     — Nós, os fantasmas de Castelobruxo, sabemos bem mais do que dizemos. — Ela sorri de uma forma que parece que ela sabe de coisas demais.
     — Por que está dizendo isso, se não vai me contar? — Acho graça.
     — Você precisa saber todas as respostas sobre Castelobruxo? — Ela sorri mais ainda.
     — Acho que não quero, não. — Começo a rir.
     — Pensei que não. — Ela também ri e penso que é a primeira vez que rimos sem haver uma falsidade da parte dela.
     — Tenha paz em sua vida após a morte, Rissa. — Volto a olhar para a batalha e vejo quando Tatum consegue atingir Tee com o feitiço verde em um movimento bem estranho.
     — Tenho que ir, querida. Tenha uma boa vida também. Se decidir permanecer após a morte, não fique em Mahoutokoro. Aqui é bem mais divertido. — Ela sorri e desaparece.
     — Nossa, aquela lá me deu mais trabalho do que imaginei. — Tatum revira os olhos.
     — Percebi. Onde estão os outros membros dos Portare Tod que estavam causando tudo isso? — Pergunto porque imagino que ela saiba.
     — Eles foram covardes. Mataram todos os nossos em ataques certeiros. Quando cheguei na sala de Krum, só deu tempo de ele me mandar correr e fazer o possível para receber a sua avó porque ela viria com a ajuda. Sam, Mon e sua avó sempre estiveram com tudo planejado. Krum sabia. Com Mon enfeitiçando Tee, puderam ter mais informações, mas não se sabia tudo. Kade percebeu que Tee estava com Imperius. O resto, foi apenas tentar minimizar os atos do que eles fariam. Mas precisava ser segredo para não vazar a informação. — Ela balança a cabeça e toca meu ombro.
     — Só eu que não sabia de nada... — Suspiro sem saber como me sentir.
     — Eu também não sabia. — Ela sorri como se falasse que nós duas somos iguais.
     — Duas desinformadas. Por isso, colocaram nós duas juntas. — Solto um sorriso.
     — Certeza. Mas quem diria que a Dao Hom, uma das maiores de nossa história, estava planejando tudo isso... Ela colocou um grupo contra o outro para enfraquecer os dois e juntar os dois num só e ela ser a líder suprema. — Ela faz uma careta.
      — Loucura... Pior é saber que Mon seria quem iria lutar contra a avó. — Dou de ombros quando mais explosões de feitiços acontecem.
     — Eu disse... Ela ama mais os Purgare do que tudo. Ela jamais fugiria. Não a Mon! Ela é a líder por um motivo. Se ela não quis que a gente soubesse, motivos ela tinha. Talvez ela quisesse te poupar. Ela gosta de você. — Tatum suspira.
     — Acho que sim. Jim está viva na sala de herbologia. Eu não posso ir até lá. Pode ir até lá e fazer algo por ela? — Suspiro.
     — Certo. Você fica aqui. Vou tentar fazer algo por ela. — Ela dá um tapinha no meu ombro e sai correndo.
     Suspiro e vejo quando Krum consegue matar Goyle em um feitiço que o faz virar vários pedaços. Krum levanta o braço como se mostrasse o pomo de ouro, assim como ele fazia quando era um jogador e se vira para o meu lado. Pela primeira vez, eu o vejo dando um meio sorriso. Apenas uma metadinha... Krum é fechado demais para sorrir por inteiro. Depois começa a andar encurvado, enquanto observa os feitiços das batalhas para evitar que algum o atinja. Até que sai pela porta e vai para algum lugar. Talvez ver como andam as coisas lá fora.
      — Olha que gracinha, a Monmon não consegue acertar a sua amiga burrinha! Imagina só se fosse a maior inteligência... — Kade continua a debochar, mas arregala os olhos e explode.
      — Chega, já me diverti demais! — Mon dá um sorriso de canto como se estivesse brincando com a presa o tempo todo até comê-la.
      — Amor... — Corro até ela, olhando se algum feitiço da batalha da minha avó desvia até mim.
     — Kade pensou mesmo que só ela poderia brincar de explodir as pessoas. — Mon me olha como se achasse graça. — Eu deveria ter explodido essa desgraça quando ela explodiu todos os times. Mas me mandaram esperar porque queriam capturar a minha avó.
     — Amor... Cala a boca! — Abraço-a porque fiquei preocupada.
     — Não vou ganhar um beijo pela minha vitória? — Ela me olha daquele jeito dela.
     — Não está merecendo. Escondeu tudo de mim. — Faço bico e volto a olhar a cena da luta.
     — Prefere ver luta de velhas do que beijar a sua garota? — Ela se faz de ofendida e eu coloco a mão na testa.
     — Sua avó mandou te matar. Isso não te deixa triste? — Pergunto.
     — Tristeza maior seria não receber a herança dela e ir tudo para a Kade, a favorita dela. Quando descobri a ligação entre ela e a Kade, ela morreu para mim. Ainda mais que descobri que foi ela quem mandou que eu ficasse com a Kade porque a Kade me vigiaria. Aquela velha vigarista jamais confiou em mim. — Ela fala em um tom frio.
     — Sinto muito. — Olho para ela com simpatia.
     — Não precisa sentir. Agora, a sua avó é minha. — Ela sorri.
     — Roubou a minha avó, foi? — Acho graça.
     — Somos casadas. O que é seu, é meu. Assim como vamos viver na nossa ilha você, eu e nosso cachorro chamado ChamCham. — Ela dá um selinho nos meus lábios.
     — É? — Acho mais graça. — E o que mais?
     — Hum... Nunca me chamou para a sua ilha, dona moça. Quando me chamaria? — Ela sorri quando um feitiço da minha avó passa perto da cabeça da avó dela.
     — Quando você merecer, eu te chamo. Tem que ser boazinha. — Sorrio.
     — Vou tentar ser bem boazinha, então... — Ela sorri mais ainda.
     — Você não presta, Mon! Sorte sua que te amo. — Reviro os olhos.
     — Claro que ama! Só eu que sei comer a minha menina! — Ela levanta a sobrancelha.
     — Certamente que sim. — Começo a rir.
     — Hum... Bom mesmo! — Ela coloca a mão na minha cintura. — Só minha!
     Bem nessa hora, a avó da Mon cai dura. Mas minha avó não parece confiar que ela morreu. Ela vai de forma cautelosa até o corpo, sempre olhando desconfiada.
     — Vovó tem a mania de ser teatral. — Mon suspira. — Mas capotou mesmo, olha lá. Sua avó está sorrindo.

Lover (REPOSTAGEM REVISADA E MELHORADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora