Vigilant Shit

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     Estamos no salão para o café da manhã. Jim está sorrindo porque está apaixonada por uma menina da Bolívia, uma indígena muito bonita chamada Auli'i Cravalho. Ela é uma menina que jogava no clube de bexigas.
     Yuki está comendo a comida em modo automático. Parece que não vive mais entre nós. Até mesmo o fantasma da doida que sangra pelos olhos que fica com enigmas para cima de mim tem mais vida do que a pobre Yuki.
      Por falar naquela doida, nunca mais fui enviar uma carta, o que me fez não ir vê-la no urutaual. Se bem que depois da encheção de saco dela, eu ando preferindo ir ao urubuzal mesmo. Melhor, vou até o gaviãoual. Vou pegar um carcará e enviar para a minha avó. Ela certamente achará que será algo robusto demais vindo de mim. Até porque é de família as mulheres jogarem nas Gaviões. Não temos mais campeonato, mas temos o amor pelas Gaviões.
      — Bom dia a todos. — Goyle está parado de frente para todos com os professores atrás. — Devidos às últimas leis da magia assinadas pelos presidentes de todos os países, Castelobruxo não tolerará mais pessoas homossexuais. Não importa quantos foram capturados por animais como a pererecaranha! Calados! Não importa! Há curandeiros do Governo Bruxo da América do Sul, o GOBS, apenas para fazer a cura dessa doença terrível que acomete alguns alunos. A partir de amanhã, todos os alunos que tiveram contato com tais animais deverão passar por uma consulta e seguir para a ala hospitalar do hospital Silva Barroso de Melo que fica em Manaus. Estarão todos de quarentena. Após a quarentena, terão retorno imediato.
     Todos os alunos homossexuais se olham com olhos arregalados. O medo é evidente em seus olhos. Eu engulo em seco, pensando como foi bom Mon e eu não termos assumido nada publicamente. Eu me passo por heterossexual...
     — Mais uma coisa... Qualquer um que tenha tido o sexo mudado, deverá me acompanhar até minha sala agora. — Goyle fala com um olhar duro.
     O menino trans amigo de Tabby e Bela se levanta. Nem sei como ele sobreviveu a tudo o que aconteceu até agora. O olhar dele é de puro medo. Todos sabem o que acontece com quem vai para a sala do Rodolfo... Mas quando se vai para a sala do diretor é pior ainda.
     Uma parte do nosso time se foi naquele atentado, mas a que mais me deixou saudades foi a Tabby. Com as loucuras que aconteceram, mal tive tempo de sentir saudades da minha amiga. Quem diria que logo eu sentiria saudades de uma trouxa? Queria que ela estivesse aqui falando sobre o mundo trouxa e sobre o irmão autista que logo virá para Castelobruxo. Espero que quando ele vier, as coisas estejam melhores. Ou ele morrerá assim que pisar para fora do barco.
      — Que leis são essas? — Jim fala sem acreditar.
     — Não dá para saber. Não recebemos mais corujas. — Suspiro.
     — O que vamos fazer? — Tatum suspira.
     — Você também é, né? — Eu nem sei o que dizer.
     — Sim, minha namorada morreu na explosão. — Ela dá de ombros.
     — Quem? — Nunca parei para pensar sobre isso.
     — Não importa mais. Sabe como são as jogadoras, né? Nós não resistimos ao amor feminino. — Ela sorri sem graça.
     — Verdade, sei como é. — Concordo.
     — Você também tem uma namorada? — As duas ficam surpresas.
     — Devo ter... — Dou de ombros.
     — As regras do grupo são muito exigentes com a gente. — Jim suspira.
     — Mesmo assim você tem sempre a permissão para namorar. Você deveria tomar cuidado, Jim. Seu nome deve estar na lista. — Tatum olha para a Jim com preocupação.
     — Eu vou sobreviver. Eles não vão tirar de mim o meu amor. — Jim revira os olhos.
     — Do jeito que a Yuki está, não seja tão confiante. — Tatum revira os olhos. — Eu ainda suspeito de que tem algo além de tudo acontecendo. Tem algo que estamos deixando passar.
     — O que? — Pergunto.
     — Eu quase morri, a Whitney morreu. Alguns dos jogadores nem foram acertados. Alguns sofreram poucos ferimentos... Parece que a explosão só acertou alguns e todos em posições diferentes do campo. Andei pensando, as mortes foram uma aqui, outra alí, sempre em ziguezague. Isso é coordenado demais. Uma explosão deveria ter um centro definido, mas parece que eles queriam matar pessoas específicas. Sei que Mon me salvou porque a ideia era a de que eu morresse junto com o meu amor. — Tatum estreita os olhos.
     — Você já falou com a Mon sobre isso? — Jim pergunta.
     — Lógico, mas ela tem andando tão estranha, confiante demais. Ela sabe de alguma coisa que não sabemos. — Tatum estreita ainda mais os olhos.
      — Você pensa que ela está envolvida nisso? — Jim fica chocada com o pensamento da Tatum, enquanto eu penso que não fui a única que percebeu isso.
     — Não penso. Mon ama mais tudo aquilo do que a própria vida. Mas ela deve saber algo que não quer falar. Espero que ela não queira ser a heroína de tudo sozinha e acabe morrendo como uma suicida burra. — Tatum suspira, enquanto fico pensativa.
      — O que será de nós? — Jim suspira.
      — Sua amiga aí não está ouvindo nada, né? — Tatum olha Yuki com olhos de águia.
      — Fique tranquila, eu lancei um feitiço nela e ela não está ouvindo nada. Ela ouve todos conversando, menos nós. — Dou de ombros.
     — Você vai se entregar? — Tatum pergunta para a Jim.
     — Se não fizer, será pior. — Ela dá de ombros.
     — Está certa... — Tatum suspira.
     — Penso que chegou a nossa hora de agir. — Mon aparece.
     — Agir? — Nós perguntamos sem entender.
     — Eles não vão me levar para essa merda de hospital. Não vou fazer quarentena nenhuma. — Mon parece estar irritada além do normal.
     — O que... — Eu começo a perguntar.
     — Nossa, gatinhas, acho que vou ter que ir para a quarentena, mas não quero isso não. — Kade aparece.
     — O que pensa em fazer, Kedma Pereira Prado, vulgo Kade? — Mon levanta a sobrancelha, enquanto mastiga um chiclete.
     — A gente deveria se rebelar contra o sistema, amiga. — Kade sorri e Mon assopra uma bolinha com o chiclete que explode fazendo um pop.
     — Sei lá, a inteligência elevada aqui é a sua! — Kade dá de ombros e pela primeira vez noto como ela odeia a Mon.
     — A inteligência é a minha? — Mon sorri pelo canto. — Você me lisonjeia, amiga. Mas não sei o que fazer. O que você pensa que poderemos fazer?
     — Fugir. — Ela dá de ombros, enquanto Mon continua a sorrir e mastigar o chiclete.
     — Fugir é uma ideia... O que acham, meninas? — Mon continua com a forma de agir.
     — Fugir é complicado. A gente não sabe o que tem além das caiporas. — Tatum suspira.
     — Não sabe? — Kade sorri de canto.
     — Você sabe? — Tatum sorri na mesma intensidade de deboche.
     — Talvez eu saiba bem menos do que você. — Kade continua e meu alerta liga.
     — O que está querendo dizer? — Tatum se levanta.
     — Vamos acalmar os ânimos por aqui. Nós temos problemas maiores. — Mon revira os olhos como se estivesse entediada.
     — Que problemas? — Tatum olha para Mon com nítida desconfiança.
     — Sei lá, garota! O céu deve ser muito azul! — Mon revira os olhos e Tatum fica olhando para ela bem séria, depois se senta.
     — Foda-se! Tô zero a fim de ter treta por aqui. — Ela me olha com um olhar enigmático e abaixa a cabeça.
     — Precisamos fazer algo. — Mon volta a falar.
     — Todas nós? — Jim fica meio assim. — Não vou fazer nada com ela.
     — Eu vou... — Mon sorri de lado.
     — Sinto que estou no meio da loucurada, gatinha. — Kade sorri para mim e eu fico com aquela cara de é, pois é...
     — Todas estamos, Kade. Você é conhecida por trair a Jim com uma defunta. Eu sou conhecida por pegar meninas da torcida... A Jim aquí... Né... A Tatum está... E a Tee... — Mon fica pensativa.
     — O que tem a Tee? — Kade olha para ela sem entender.
     — Vocês andam muito próximas, né? Ela é sua namorada? — Mon continua mascando o chiclete.
     — Lógico que não! — Ela fica consternada.
     — Se for, você deveria dizer. Assim a gente pode incluir ela no plano. — Mon continua e isso me deixa mais desconfiada ainda.
     — Já disse que não! — Kade emburra.
     — Hum... Ela deveria estar aqui. — Jim fica pensativa. — Onde ela está?
     — Não sei... — Nós respondemos.
     — Vocês estão estranhas... — Coço a minha cabeça.
     — Vamos fazer o seguinte, amanhã nós lidamos com isso após os exames. Ok? — Mon sorri e dá um tapinha no ombro da Kade. — Vamos lá, amiga. Temos aula. Tchau, meninas.
     — Tchau. — Elas saem e nós ficamos nos olhando.
     — Eu disse que a Mon anda estranha. — Tatum olha para Mon indo embora com os olhos estreitos.
     — É... Mas ela sabe o que faz e está tentando entrar nos caras. Isso deve ser plano dela. — Jim suspira.
     — É... Deve ser... — Tatum também suspira e me olha. — O que você tem?
    — Nada... — Dou de ombros...
   
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Lover (REPOSTAGEM REVISADA E MELHORADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora