prologue: hating game

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A hora passava extremamente devagar.

Anotava desleixada a matéria no quadro, vendo que o Professor O'Connell observava a classe inteira com cuidado, procurando sua próxima vítima para jogar uma pergunta difícil.

Eu batia o pé freneticamente no chão, sentindo o ronco da minha barriga e revirando os olhos. Claro que a banana que mal mastiguei no café da manhã não seria o suficiente para me sustentar até o primeiro intervalo.

Tentava ao máximo prestar atenção mesmo assim. Não uma tarefa fácil dado ao quadro lotado de equações químicas, e muito menos ao olhar preocupado que o professor me lançava de vez em quando.

Essa era a pior parte de ter uma reputação e buscar excelência acadêmica. Fora ser imigrante, ter que aprender a língua com apenas onze anos e aguentar os coleguinhas zombando de você quando ouvia seu sotaque. Eu poderia dizer que já estava devidamente adaptada, mas as vezes ficava com tantas saudades e tinha vontade de largar tudo.

Claro que essa opção não existia, vendo que a Amélia que deu duro para conseguir uma bolsa no melhor internato do país me mataria. Era uma pressão absurda, mas me levaria ao uma faculdade de elite da américa do norte e eu seria a melhor advogada possível.

Fechei os olhos por alguns segundos, me lembrando todos os dias que era meu último ano. É só isso que preciso. Lembrar que é a última vez que tenho que aguentar uma escola só de meninas e posso voltar a sociedade normal.

— Consegue responder essa equação no quadro, Ferrer? — ouço o professor pedir, direcionando a atenção da sala à mim.

Analisei suas expressões, tentando lhe passar meu desespero e cansaço, pensando que talvez tivesse compaixão comigo.

Pelo jeito não.

Antes que pudesse responder qualquer coisa, vejo de canto de olho alguém com a mão levantada.

— Sim, Eilish?

— NaOH + H2 — Billie responde, e meu olhos reviraram tão para trás que poderiam ficar presos no meu cérebro.

Fechei o punho, bufando baixo para que ninguém escute. O professor O'Connell contava ponto para cada pergunta correta de um aluno, e é claro que ficou para aquela loira oxigenada. Tinha que ser ela.

Billie Eilish.

A queridinha da Trinity.

Eu sabia que existia uma competição invisível entre nós duas. As duas melhores alunas do internato. Eu não conversava com ela, só trocávamos provocações e olhares de raiva cada vez que alguma recebia uma vantagem acadêmica.

Eu não suportava patricinhas. Não aguentava seu cabelo loiro sempre preso com algum adereço, sua mania de balançar a franja a cada cinco minutos, as unhas sempre feitas, e a saia quadriculada do uniforme sempre um pouco mais para cima do que necessário.

Mas eu sabia que a loira me odiava também. Olhar não mente.

Eu preciso comer. Assim não perco meu réu primário com ela.

Sinal do intervalo toca alto, e meu estômago me agradece. Levanto tão rápido que sinto tontura, e recolho meus livros com pressa.

— Ferrer — ouço a voz do meu professor antes de sair — Diretora quer te ver no término das aulas.

Balancei a cabeça, aliviada que não levei uma bronca por não estar prestando atenção e falhar em responder a pergunta.

Agradeci e fui praticamente correndo para o meu armário, enfiando os livros tão bruta que parecia uma criminosa.

trinity // billie eilishOnde histórias criam vida. Descubra agora