waves crash to the shore

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O quarto se mantinha em completo silêncio.

Coraline era, pela primeira vez em muito tempo, minha única companhia. Estava sentada no chão, encostada na sua cama. Os cabelos ruivos presos em um coque, as bochechas vermelhas e seus olhos fazendo o possível para me evitar.

Eram em torno das nove da noite. O vento gelado passava pela janela, nenhuma com coragem de levantar para fecha-lá.

Eu não sabia o que dizer. Eu não sabia se sequer tinha algo a dizer, nesse ponto.

Cora parecia querer o mesmo.

Depois que deixei Billie em seu quarto, lhe dando um beijo caloroso e acompanhando minha amiga assustada até seu dormitório, encontro a ruiva naquela posição.

Era notável que estava chorando alguns minutos atrás.

Rolei meus olhos quando percebi isso, mas algo no meu coração não me permitiu ser tão fria em relação aos seus sentimentos.

Resolvi que seria a pessoa a trazer o assunto — o problema era criar coragem.

Mordi o lábio inferior, reparando nos dedos ágeis da ruiva ao mexer no celular.

— Coraline — chamo.

Passam-se alguns segundos. Quando sinto que não vai me responder, seus olhos verdes finalmente me encaram de volta.

— Agora não — diz. Parece abalada de verdade, os pulsos apertam enquanto fala.

— Não quero passar dos seus limites — continuo — Mas Cora, isso tem que acabar. Eu quero resolver essa...inimizade.

Ela vira o rosto, me impedindo de ver sua reação completa, e fica em silêncio.

Depois de alguns minutos noto que a conversa não deve acontecer, e me levanto para arrumar a cama antes de dormir.

Puxo a coberta, ajeitando o lençol bagunçado que apenas escondi de manhã.

— Amélia — sua voz soa, absorvo o nervosismo e percebo que talvez ela precise de um empurrão para continuar.

— Eu não te odeio, Cora — explico — Eu não aprovo algumas escolhas, mas tudo bem.

— Talvez você deva me odiar — responde — E a Billie também.

Me viro, vendo lágrimas frescas descerem pelas suas bochechas. Meu coração aperta, e me sinto inútil naquele momento. Conflitada, não sabendo se deveria abraça-la ou ignorar seu sofrimento.

— Por que diz isso? — pergunto — Você e a Billie não conversaram sobre tudo?

— Não tudo — conta.

Acabo deixando o coração vencer, e me aproximo devagar. Ajoelho em sua frente, vendo de perto o quanto estava magoada.

Coraline era forte, destemida, ousada. Era estranho vê-la pequena, triste, como uma garotinha com medo dos trovões lá fora.

— Ela te ama muito — ressalvo — Eu te garanto que qualquer coisa que contar, ela vai entender. Sinceramente, eu não sei se te perdoaria se fosse comigo, mas é a Billie que estamos falando aqui. O coração dela é grande demais, você sabe.

Seus lábios tremem, e abra a boca algumas vezes antes de realmente começar a falar.

— Eu recebi uma mensagem anos atrás, quando entrei nesse colégio — respira fundo, engolindo o choro para continuar — Acabei conversando com essa pessoa por alguns meses, me dizia para me aproximar de Billie. Me contou que eram muito amigas.

Minhas mãos tremem ao tocar nela. A pele macia estava gelada, tremendo, mas logo se interligou a minha mão.

Balancei a cabeça, pedindo para que prosseguisse.

trinity // billie eilishOnde histórias criam vida. Descubra agora