skeletons shake

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O teto branco em cima de mim parecia estar se aproximando a cada minuto. Abria e fechava os olhos várias vezes afim da sensação que sentia no meu peito parasse.

O vidro gelado da cerveja na minha mão ardia, mas não conseguia levantar a cabeça para poder tomar outro gole e me livrar da garrafa.

Sendo uma aluna exemplar e dedicando todo o meu tempo a vida acadêmica, as poucas vezes que bebia acabavam sendo regradas. Como trouxe a vitória hoje, as duas garrafas que bebi já estavam surtindo efeito.

O cheiro daquela galpão era terrível.

— Eu acho que gosto dela — admito, ainda fitando o teto.

Lilian solta uma risada gostosa, claramente mais sóbria que eu, e faz um pequeno carinho na minha perna.

— A bebida entra e a verdade sai, não é mesmo? — brinca.

— Que porra eu faço agora? — murmurro, sentindo vontade chorar — Ela me odeia.

Nunca antes poderia se encontrar uma Amélia tão devastada quanto hoje. Eu sempre fui muito resiliente, e me incomodava não conseguir lidar com esses sentimentos que acumulavam em mim.

Eu fiz o gol vencedor no primeiro jogo do campeonato. Deveria estar pulando de alegria, gritando pelos corredores da escola.

Mas eu só pensava nela. Todo minuto. Cada segundo. Minha mente vagava pelas memórias que contínhamos juntas, do seu corpo grudado no meu e o sorriso sarcástico que eu tive o prazer de ver se formando no seu rosto quando me provocava.

— Conversa com ela — reforça — Eu sei que parece besteira, mas acho que ela volta atrás com esse negócio da monitoria...

Não vê-la todos os dias seria a pior coisa que poderia acontecer entre nós. A proximidade forçada era o que, infelizmente, mantinha nosso relacionamento. Mesmo que seja discutindo uma com a outra o tempo todo.

— Talvez seja para melhor — enrolo um pouco as palavras — Eu nunca curti patricinhas mesmo, né?

— Lia, você precisa aprender a lidar melhor com os seus sentimentos — desdenha da minha fala — Decide o que quer fazer e faça. Entende?

Torço a boca, não compreendendo o queria dizer por inteiro.
— Ela claramente não quer falar comigo. Vou deixar isso para lá...

Lilian se força em cima do puff em que eu estava esparramada, apoiando seus cotovelos enquanto me encarava com seus olhos verdes.

— Para com isso! — briga — Você deve pelo menos um pedido de desculpas à ela! Ou esqueceu as besteiras que falou?

Reviro os olhos, concordando. Precisava de uma serenata e mil rosas vermelhas para convencê-la de sequer me perdoar, imagina admitir que sinto algo por ela.

Levantei com dificuldade, empurrando minha amiga junto comigo. Pisquei algumas vezes na intenção que aquele galpão fechado parasse de girar.

— Eu vou até o dormitório dela, então — explico para Líli, tentando a fazer entender por cima da música alta.

Sabia que a loira não estava nem um pouco sóbria, apenas mais que eu. Em qualquer circunstância, não me permitiria ir nesse estado pedir perdão a sua nova amiga.

Mas devido aos seus três copos de bebida, apenas balança a cabeça em concordância, deitado seu corpo no puff que eu estava antes.

Caminho lentamente, não sentindo firmeza nos meus passos. As luzes piscando me incomodavam, os olhares comemorativos em minha direção também.

trinity // billie eilishOnde histórias criam vida. Descubra agora