Dias se passaram desde que descobri sobre Eva.Naquele mesmo dia, liguei em desespero para minha mãe. Eu sempre fui próxima da minha família, talvez por ter origem latina, mas nunca tive o costume de contar sobre minha vida amorosa. Me peguei lhe dando detalhes, expondo meu relacionamento com a Billie e o conflito que senti ao encontrar o par de olhos azuis que achei que veria pela última vez na infância.
Apenas lembro da frase que me diz antes de desligar: — Eu não posso te dizer o que fazer, minha filha. A única coisa que posso é torcer para que você abra seus olhos e veja quem realmente gosta de você.
Talvez eu não tenha explicado da maneira correta, mas nunca ouvi essas palavras saírem da boca de Billie. Eu percebia na intensidade dos seus beijos, na maneira que seus olhos não desgrudavam de mim quando dividimos um cômodo, e mesmo assim, nunca a ouvi admitir.
Então era extremamente difícil me convencer por completo dos seus sentimentos por mim.
Minha melhor amiga, em compensação, me encarou com a boca aberta em choque por pelo menos dois minutos quando lhe contei. A conversa após foi se transformando gradualmente em uma discussão, algo que eu não esperava de maneira alguma naquele momento, e demorei para processar o porquê.
No fundo, eu sabia que isso eventualmente aconteceria no momento que vi as duas na quadra e descobri que se tornaram amigas. Não me leve a mal, sei que sua lealdade sempre foi comigo, mas o fato de estar questionando meus sentimentos pela Eva ao defender Billie me machucou bastante.
Então afundei nos meus antigos e certamente tóxicos hábitos, mesmo tentando focar ao máximo nos estudos. Ignorando as duas mulheres que estavam perturbando meu coração; e seguindo a minha vida da maneira que conseguia processar. Pedi com muito afinco para professora me dar um tempo da monitoria, só até que me recuperar.
Me encontrava pela terceira vez naquele dia sentada na pequena mesa de pedra que ficava escondida em uma parte do colégio. Meus ataques de ansiedade estavam mais frequentes, e não conseguia mais usar a única coisa que me acalmava porque a via andando pelos corredores como se não tivesse sido apenas um fragmento da minha memória por muitos anos.
Abri a pequena caixa de metal que trouxe, tirando o dichavador.
— De novo, Lia? — levanto a olhar, vendo Lilian encostada na parede.
Balancei a cabeça, não tendo vontade de iniciar uma conversa. Já fizemos as "pazes", a ouvi pedir desculpas por ter considerado mais o lado de Billie do que o meu, e eu a perdoei. Mas meu humor não estava cooperativo no momento.
— Se você veio me dar sermão, saiba que não estou com paciência — reclamo.
A loira caminha, se sentando ao meu lado. Apenas naquele momento noto que havia outra pessoa em sua companhia. Ultimamente não tenho prestado muita atenção em nada.
Sarah se junta a nós, encarando minhas mãos trabalhando em montar o cigarro. Fiz tudo com grosseria, desperdiçando mais erva do que conseguia raciocinar naquele momento.
— Deixa que eu termino para você — Lilian pede, puxando a lata de metal para o seu colo.
Bufei alto, querendo que as coisas simplesmente estivessem prontas para eu não ter que fazer esforço. Meu rosto estava vermelho, eu não cuidava da minha pele como deveria nos últimos dias. Meu estado era honestamente vergonhoso.
— Você está com uma cara péssima, Amélia — Sarah diz, honesta — Ainda não é por causa daquela menina, né?
É claro que ela precisa me lembrar do que venho tentando esquecer.
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trinity // billie eilish
Roman d'amourSer forçada a trabalhar com a menina que mais odiava em todo o internato não estava nos planos do último ano escolar de Amélia.