lips like tangerines

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Billie sussurava algo que passava por um ouvido e saia por outro. Encarava aquela foto como se tivesse em uma crise alucinógena.

Analisei o canto do porta retrato, observei todas as outras crianças que tinham na foto, prestei atenção em cada detalhe da fantasia de zumbi que eu usava.

Pisquei repetidamente. Estou delirando. Aquilo vai sumir assim que abrir os olhos de novo.

— Amélia? — ouço me chamar, sua mão direita subindo para balançar meu braço.

Quando percebi que não sumiria da minha frente, levantei com cuidado, ainda com medo de me aproximar do quadro e o mesmo desaparecer.

Passei o indicador pelo vidro, contornando a imagem que continha eu e Eva.

— Eu estava falando com você, Amélia — se aproxima — O que tem o quadro?

Olhei para seus olhos azuis, questionando a familiaridade daquela cor, formato, brilho, os cílios pretos grandes contrastando.

Os fios loiros enquadrando seu rosto, o sorriso que ela me dava quando notava minhas piadas mal feitas. Era tudo familiar.

— Eu estou nessa foto — sussurro, saindo do transe e apontando para a menina latina fantasiada.

— Como? — franze a sobrancelha, pegando o porta retrato de cima da escrivaninha e aproximando do rosto — É na minha antiga escola.

Meu coração começa a palpitar, a boca secando pela ansiedade da sua resposta. Como era possível? Como estudávamos juntas quando me apaixonei pela menina mais bonita do sexto ano?

Tudo se clicou na minha cabeça, entendendo que a coincidência era maior do que imaginava.

Nós três estudávamos juntas.

— Você...brigou com a Eva? Por que? — perguntei, minha voz baixa.

— É uma longa história. Complicado — suspira.

— Me conta, por favor. Eu quero entender seu lado.

A loira encosta as pernas no peito enquanto se senta na cama. Me encarava com uma expressão diferente, parecia se questionar se deveria se abrir para mim.

— Bom. Nós estudávamos juntas — aponta para o quadro, revirando os olhos em seguida — Ela sempre me odiou. Eu não lembro um dia que não me chamava de feia, ou me empurrava do balanço para que eu caísse na frente de todo mundo...

Torci a boca ao ouvi-la, surpresa que Eva de todas as pessoas faria isso.

— Deve ter sido uma merda — me sento ao seu lado na cama.

— Minha mãe dizia que era inveja e que em alguns meses aquilo passaria — continua — Mas só piorou e em algum momento, ela convenceu todas as meninas da minha sala a me odiarem também. Foi aí que veio o apelido.

— Palitinha? — questiono, lembrando do que ouvi Eva chama-la.

— Eu sempre fui magra e baixinha, mas naquela idade as outras já tinham desenvolvido peitos e eu ainda não — confessa, soltando uma risada seca — Irônico o suficiente sendo que eu provavelmente tenho mais que todas elas hoje em dia.

Concordei com seu comentário, sorrindo enquanto esperava que continuasse.

— As coisas começaram a piorar muito. Ninguém me tratava bem na sala de aula. Ninguém queria falar comigo já que Eva era popular demais e dizia que não deveriam andar comigo — as lágrimas descem dos seus olhos novamente, parecendo conhecer o caminho da outra vez.

— Isso é ridículo — digo, irritada com o absurdo que me contava — Eu não sabia que ela era assim.

— Sempre foi. Pensei que mudaria conforme crescemos mas...bom, você viu — dá de ombros.

trinity // billie eilishOnde histórias criam vida. Descubra agora