Caminhei devagar ao lado de Eva, sentindo os olhos verdes de Lilian me queimarem viva conforme me afastava.Ela para perto de um poste cinza, encostando.
— Desculpa incomodar vocês — sorri — Claramente a sua amiga não vai muito com a minha cara, né?
Os cabelos pretos voam com o vento, os lábios inferiores rosados sendo pressionados com seu dente, parecia incomodada.
Engoli seco, nervosa na sua presença. Não entendi bem o por quê, já que a morena não fazia ideia do quanto foi importante para mim, mas ainda sim sentia o suor descendo nas palmas das minhas mãos.
— Ela não é muito sociável — menti.
Seu dedo mindinho se aproxima, esfregando-se contra o meu em um ato de carinho. Torci para que não notasse quantas voltas meu estômago dava ao sentir aquilo.
Não estava nervosa porquê gostava dela, mas ainda sim não poderia evitar a nostalgia que me agarrava quando a via.
— Então, eu preciso conversar com você — começa, e tento focar no que fala e não em nossas mãos juntas — Eu deveria ter te contado uma coisa quando nos encontramos a primeira vez, e não contei.
Me surpreendo, meu coração acelerando apenas de considerar que guarda nossas memórias juntas com tanto amor quanto eu.
— Eu também — admito.
Seus olhos azuis arregalam, e abre um sorriso bonito em seguida.
— Então conta primeiro, Amélia — respira fundo, apertando mais minha mão — Por favor, eu estou um pouco nervosa.
Enquanto encarava os detalhes do seu rosto, cogitei que talvez aquela intimidade toda era estranha. Ela só estaria nervosa se fosse me contar o mesmo; paixão na infância. Na nossa infância.
Puxo o ar com dificuldade, usando minha visão periférica para observar minha melhor amiga. As mesas do pátio do refeitório ainda davam visão privilegiada para nossa silhueta, mesmo que impossível de ouvir a conversa. Seus lábios estão pressionados, e conheço aquela expressão muito bem: ela está irritada.
Entendi. Não vou achar apoio na loira naquele momento. Mal entendo o por quê ainda não se levantou e veio em nossa direção para tirar satisfação.
— Bom...— mordo o canto da boca — É que eu não lembrava de você antes de me contar seu nome. Acontece que...não sei se você tinha noção do quanto eu gostava de você quando estudavamos juntas.
— Gostar...tipo, mais que amigas?
— Sim. Bem mais que amigas — me esforço a normalizar minhas respiração — Na verdade, você foi a primeira mulher que eu me apaixonei.
Eva parece surpresa, abrindo e fechando a boca algumas vezes. Noto pequenos detalhes como batom carmim falhado nas laterais dos seus lábios e as pequenas sardas na sua bochecha quase imperceptíveis enquanto torço para que lembre de mim.
— Caramba, Amélia — finalmente responde — Eu não sabia...que você gostava tanto assim.
Sinto uma leva pontada no coração, sabendo que é culpa minha ter criado a esperança de que a morena fosse recíproca. Mesmo assim havia prometido a mim mesma que lhe contaria, significando algo ou não.
De qualquer maneira, aquilo era um ato inocente. Seria muito legal se aproximar e eventualmente nos tornarmos amigas. Eu não estou mais confusa, eu sei quem eu quero.
Mas não posso mentir, gostaria que ela se importasse tanto quanto eu.
— Eu também gostava de você — aperta nossas mãos juntas, agora completamente inter laçadas — Talvez não tanto, mas gostava. É que você não parecia...não achei que era eu que você gostava, para ser honesta.
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trinity // billie eilish
RomanceSer forçada a trabalhar com a menina que mais odiava em todo o internato não estava nos planos do último ano escolar de Amélia.