Eram duas da manhã. Estava deitada na minha cama, o braço cobrindo a lâmpada amarelada do quarto e ouvindo minha colega de monitoria ter um surto a cada segundo.Billie andava de um lado para o outro a horas. Não sei como não abriu um buraco no chão. As vezes suas mãos agarravam o cabelo de estresse, e pequenos gemidos de frustração saíam da sua boca.
Tentei me explicar dentro do possível. Contei que era fofoca, que eu não poderia dar certeza da veracidade daqueles fatos.
Mas Coraline era sua melhor amiga, e pelo jeito que parecia estar caindo em uma espiral de desespero, era probabilidade que a fofoca fosse verdade.
Billie gritou comigo, me xingou. Depois passou um tempo pedindo desculpas. Logo em seguida começou a murmurar coisas para si mesma que eu não entendia, apenas via a frustração no seu rosto.
Não queria ir dormir e deixá-la enlouquecendo sozinha. Até porque a loira arranjou seu próprio quarto, e poderia estar lá, mas resolveu surtar no meu. Eu não sei bem o que aquilo significava.
Era complicado passar por tantas emoções em tão poucos tempo. Lilian tinha razão — a linha entre o amor e o ódio é tênue. Estava vivendo isso na pele, passando pelas variações de humor que a loira proporcionava.
Olhei por debaixo do meu braço, observando se continuava com aquele comportamento repetitivo.
Ela finalmente parou, tirando um elástico de dentro da sua mochila e amarrando seus fios loiros em um coque. Se aproxima de mim, e logo desfaço qualquer impedimento de vê-la.
— Meli — Apenas me chama pelo apelido, e vejo seus olhos azuis marejados. A cena quebra meu coração, e imediatamente sinto a onda de culpa tomar meu corpo.
Billie deita ao meu lado, me empurrando de leve e passa o braço por cima da minha barriga. A abraço de volta, encostando a cabeça no seu cabelo e sentindo o cheiro doce do seu shampoo.
— Desculpa — peço — Eu não deveria te contar se não tivesse certeza.
Ela balança a cabeça contra o meu pescoço, concordando comigo.
Elancheirava tão familiar. Eu poderia sentir esse aroma para o resto da vida, todos os dias, que estaria mais que satisfeita.
Nosso relacionamento se encontrava em dois estados: ou discutíamos ou estávamos prestes a transar. Não que eu esteja reclamando, porque a segunda parte me agradava e muito. Mas esse era um estado novo. Em paz, em silêncio, abraçadas, apenas confortáveis com a presença da outra.
Meu peito aperta, sentindo todo o agrado que aquele momento em proporcionava. Era isso — isso que procurei nesses últimos meses entender. Eu poderia me enganar, tentar me convencer que Billie era só mais uma, que minha atração por ela é puramente física. Mas o que eu realmente queria, era isso.
Eu queria que ela me procurasse para lhe dar apoio. Que se aninhasse comigo sem motivo. Que fosse minha.
— Ela...— começa a murmurar, levantando a cabeça para me olhar — Eu sei que ela fez isso. Só ela sabia.
— Sabia...? — perguntei, tomando cuidado para não afetá-la.
Antes que Kayla aparecesse no corredor, tive a impressão que me falaria que o boato era verdade.
— Eu nunca conversei isso com mais ninguém — explica — E outra coisa: a Cora realmente ficou um tempo com essa tal de Alicia.
Fico triste com sua realização porque sabia o quanto se importava com sua melhor amiga.
— Então...— começo, não querendo ser invasiva — É verdade?
Seus olhos me encaram, indecifráveis.
— Não — responde — Não mais.
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trinity // billie eilish
RomanceSer forçada a trabalhar com a menina que mais odiava em todo o internato não estava nos planos do último ano escolar de Amélia.