NanFah
A ligação cai na caixa postal mais uma vez, eu desligo e bato com o celular na cabeça, já está na hora do meu irmão parar com esse tratamento silencioso, ele sempre faz isso quando fica muito irritado comigo.
Olho para o horário e são 15 horas, não tenho para onde ir, não tenho com quem conversar, não vou falar sobre o meu irmão com os Jungles. Fecho os olhos, eu sei quem me ouviria agora, ou talvez não já que não nos vemos há dez dias, desde que ele saiu por aquela porta.
Eu me levanto e pego as chaves do meu carro, eu tenho que ir para algum lugar, qualquer lugar, só preciso ocupar a minha cabeça. Vou dirigindo, pego a estrada e continuo seguindo sem destino, sem prestar atenção ao redor, apenas olhando a estrada que parece não ter fim.
Depois de um tempo eu começo a ver algumas coisas familiares, um formigueiro enorme que me chamou atenção, uma árvore muito antiga que parece um bonsai, uma placa de boas vindas. Eu sei onde estou e não devia estar aqui.
Paro o carro na frente do campo e sem nem mesmo procurar eu consigo encontrar ele, percebo que era aqui que ele estava no período que sumiu do clube. Ele está longe mexendo em uma espingarda, aponta para o céu, atira e volta a mexer.
Eu seguro a chave para ligar o carro, mas não consigo, fecho os olhos e encosto a cabeça no volante.
- Eu estou aqui por causa do meu irmão! Só estou aqui porque preciso falar sobre ele com alguém! Eu estou aqui por causa do meu irmão!
Quando me afasto do volante e olho para fora vejo ele na frente do carro olhando para mim, respiro fundo e saio, paro na frente dele, encosto na carro e não consigo dizer nada.
Ele dá um passo para frente e toca o meu rosto, sinto a minha pele queimando sob o seu toque.- Porque você está aqui, NanFah?
Eu olho nos seus olhos e não sei o que dizer, na verdade eu sei, eu estou aqui por causa do meu irmão, porque eu não consigo simplesmente dizer isso? Ele se aproxima mais e eu sinto o meu corpo inteiro ficando em alerta.
- Porque você está aqui?
O seu rosto do meu está cada vez mais próximo, eu sinto o seu cheiro e inconscientemente eu fecho os olhos.
- O que você quer, NanFah?
- Você!
Sem dizer mais nada ele me beija. Não acredito que eu disse isso! Não acredito que estou deixando ele me beijar, isso não devia acontecer mais, o meu irmão sabe que ele não é o Kong, ele já não tem utilidade pra mim, mesmo assim aqui estamos nós.
Ele para de me beijar e encosta a testa na minha.
- Vai embora, Nanfah!
Ele dá um passo para trás e eu sei que tenho que ir, mas não consigo me mover. Sinto os meus lábios formigando e olho para a boca dele. Maldita hora que eu inventei de beijar esses lábios!
- E se eu não quiser ir, Pakorn?
Ele fecha os olhos, suspira, vira e começa a andar, vai até o meio do campo, senta no chão e depois deita. Fico olhando para ele enquanto falo para mim mesmo.
- Vai embora, NanFah, só vai embora!
Eu dou um soco no carro e começo a andar, sento ao seu lado e fico olhando ele de olhos fechados. Me inclino e sinto a sua respiração acelerar, mas ele não abre os olhos, quando o meu nariz toca o dele eu fecho os meus olhos também e fico parado, não sei o que fazer agora. Ele inspira e expira algumas vezes, então fala tão baixo que se eu não estivesse tão próximo eu não teria escutado.
- O que você quer, NanFah?
- Você!
Eu beijo ele e sei que essa é a verdade, não entendo porque, mas sei que é por isso que eu vim até aqui e é por isso que eu não consigo partir, porque eu quero ele, é confuso e estranho, mas é a verdade.
Ele passa a mão pelo meu rosto, vai até o meu cabelo e me puxa para mais perto, sinto os seus lábios nos meus, a sua língua na minha, os seus dentes que sempre prendem o meu lábio inferior e me deixam com tesão. Percebo que tentando ir longe demais com ele por causa do meu plano, eu acabei indo longe demais e me perdi no caminho, isso não devia ter acontecido, mas aconteceu e agora eu não sei como voltar atrás.
Quando paramos eu me afasto e fico olhando, ele continua de olhos fechados e quando inspira e expira lentamente, ficamos em silêncio por vários minutos, então olha pra mim.
- Quem é Kong, NanFah?
Eu sei que é simples, eu só preciso mentir pra ele, isso é tão fácil quanto respirar pra mim. É só mentir, NanFah!
- É alguém que está envolvido com o meu irmão, não sei exatamente como, mas com certeza eles estão juntos.
- Porque vocês acharam que eu era ele?
- Vocês são muito parecidos.
- Parecidos?
- Tanto quanto eu e o meu irmão.
Ele me olha surpreso.
- Porque você foi atrás de mim, NanFah?
- Podemos não falar sobre isso?
Ele fica em silêncio e espera, eu passo a mão pelo cabelo e fecho os olhos.
- Eu queria te usar para afastar o meu irmão do Kong, mas nada saiu como eu planejei, nem com ele e nem com você, eu acabei ultrapassando algum limite e... Eu não sei...
- Você está confuso porque nunca sentiu isso e nunca pensou que poderia sentir. Você quer ficar longe, mas não consegue, sabe que isso é errado, mesmo assim está aqui. Sabe que não deveria, mas se sente atraído, mas não é só físico, é algo mais forte. Agora mesmo você quer ir embora, mas não consegue partir.
Eu olho para ele sem saber o que dizer, é exatamente isso, é o que está acontecendo comigo.
- É assim que eu me sinto, NanFah. Nesse exato momento eu estou muito confuso, tudo isso que você fez, acende vários alertas avisando que você é perigoso e que é melhor eu ficar longe, eu saí de um relacionamento que nem era um relacionamento, mas algo era confuso e cheio de mentiras, vingança e armações, não quero passar por algo assim outra vez, mesmo assim eu não consigo me afastar, eu quero você aqui.
- E o que você vai fazer, Pakorn?
Ele fecha os olhos e passa a mão pelos cabelos.
- Eu não sei.
Kong
Fico observando ele lendo o jornal e isso me trás tantas lembranças, como pode uma fase tão sombria da minha vida me trazer vários bons momentos? Ele me olha e sorri.
- Você tem que focar na sua tese, Lobinho.
- Alguém se ofereceu para ser o meu orientador, mas ao invés de me ajudar fica me distraindo.
Ele pega a caneca de café e bebe.
- Estou falando sério, continua, você está em cima do prazo.
Eu aceno e releio o que estava digitando para lembrar o que estava escrevendo.
Eu paro de digitar quando os meus dedos começam a doer, fecho os olhos e me alongo, sinto aquela energia que passa entre nós quando ele se aproxima, abro os olhos e ele está em pé ao meu lado lendo o que eu escrevi, então vira o rosto e me beija.
- Está muito bom!
Se afasta, pega mais café e volta a sentar no seu lugar. Queria entender o que aconteceu, o que fez ele começar a agir assim. Um dia eu cheguei em casa e antes mesmo de eu perceber o que estava acontecendo ele já estava me abraçando e me beijando, depois disso ele voltou a ser o NanNam da época que estavamos juntos, o que me deixa preocupado, porque aquele NanNam era uma mentira, ou será que aquele era o verdadeiro NanNam e todo o resto é uma mentira?
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Selvagem
FanfictionUma aposta e dois corações partidos. Um jogo perigoso que não se pode voltar atras. O presente e o passado se chocam trazendo dor, sofrimento, redenção e duas lindas histórias de amor. _________________ Para começar a ler Selvagem é preciso entend...