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Cecília Albuquerque

Não acredito que já passou das 9h e eu ainda tava dormindo. Por que esse alarme não tocou?

Tá... Ok! Não tenho tempo pra ficar me questionando.

Vou cursar Psicologia e hoje vai ser o meu primeiro dia.

    Inclusive, já era pra eu estar terminando de assistir o primeiro horário nesse exato momento.

Tomei um banho super rápido e vesti a primeira roupa que vi pela frente.

Arranquei em direção à USP, sem nem tomar café.

Confesso que faltava pouco pro carro voar comigo dentro, devo ter tomado umas três multas por excesso de velocidade.

    Só percebi o quão rápido eu tava dirigindo quando, sem querer, bati em um carro dentro do estacionamento da faculdade.

    Pronto, era tudo que eu precisava mesmo. Meu dia acaba de acabar.

    Desci do carro toda sem graça e vi que o dono do carro também desceu, com a cara toda fechada.

— Moço, mil desculpas. Eu to tão atrasada que nem vi o seu ca... - Tentei dizer antes de ser interrompida.

— Tinha que ser loira mesmo. - Respondeu abrindo os braços aparentando estar muito puto.

— Cara, eu sei que você tem motivos pra estar furioso e eu te garanto que vou arcar com o prejuízo, mas não precisa falar desse jeito. - Respondi tentando controlar minha língua afiada, me colocando no lugar dele — To querendo resolver essa situação pacificamente.

— É claro que eu preciso, pô. Eu também to atrasado e nem por isso saí batendo no carro dos outros. - Disse cruzando os braços, me fazendo reparar no quão musculoso eles eram.

Parecia que os músculos iam rasgar a blusa a qualquer momento.

— Não to falando que eu to certa, pelo contrário. - Cruzei os braços também — Tem como você me passar a droga do teu número pra gente resolver isso mais tarde? - Pedi ficando nervosa, talvez pela leve impressão que tive dos músculos dele me encarar, e ele soltou uma risada fraca.

— Mais tarde não, nós vamos resolver isso agora. - Disse com um tom de voz autoritário enquanto se aproximava, me olhando dentro dos olhos.

— Agora não dá, preciso pegar o segundo tempo. - Respondi olhando as horas no celular pra quebrar o contato visual, me afastando um pouco dele.

— Não quero nem saber, loira. Se quisesse realmente assistir o segundo tempo, não tinha batido no meu carro. - Deu as costas entrando no carro dele, me impedindo de responder qualquer coisa.

Bufei enquanto batia a porta do meu carro pra seguir o abençoado, provavelmente em direção à uma oficina.

Ótimo primeiro dia de aula, Cecília. Parabéns! Sempre conseguindo superar o "pior do que tá, não fica".
                                        [...]

Assim que o carro dele parou em uma oficina, parei o meu logo ao lado.

    Aproveitei pra olhar meu celular rapidamente, que por sinal eu só tinha pegado pra ver as horas até agora.

WhatsApp

Amandinha 💜

Amandinha 💜: É hojeee porra 7h23
Amandinha 💜: Primeiro dia em
Amandinha 💜: To entrando agr na facul, assim que chegar me avisa
Amandinha 💜: Amiga??? 9h17
Amandinha 💜: Responde maluca
Você: Amiga 10h03
Você: Desculpa não ter respondido
Você: Aconteceu mil coisas e não consegui ir pra faculdade
Você: Vamos almoçar no lugar de sempre, aí te conto toda a confusão com calma

Bloqueei o celular, peguei minha bolsa e desci do carro.

    Percebi que o abençoado tava me encarando de cara feia e braços cruzados.

— Que foi? Virou estátua? - Perguntei trancando o carro, jogando o cabelo pra trás.

— Mó engraçadinha você. - Respondeu irônico com os olhos estreitos.

Apenas revirei os olhos e entrei na oficina, ouvindo os passos dele logo atrás de mim.






Enzo Martins

Tanta coisa pra acontecer em início de semestre e vem logo uma doida bater no meu carro.

Passei a manhã toda na oficina ao invés de ter assistido as aulas. Essas coisas só acontecem comigo, papo reto.

E é óbvio que eu arrastei a loira comigo. Se eu tive que perder o primeiro dia de aula por culpa dela, nada mais justo do que ela perder também.

                                        [...]

— Aqui, senhor. - Disse o mecânico me entregando a chave do carro.

— Obrigado, irmão. O acerto de contas vai ser com a mocinha ali. - Apontei com a cabeça pra loira, que revirou os olhos pra mim, se levantando e vindo na nossa direção.

— Vai ser no débito, moço. - Ela falou educada, enquanto mexia na bolsa.

— Sim, senhora. Vou buscar a maquininha. - O homem disse se retirando.

— Não adianta me olhar com essa cara, não fui eu que bati no seu carro. - Falei vendo que ela não tava com uma cara boa pra mim.

— Você tá falando como se eu tivesse acordado determinada a bater no seu carro. - A loira respondeu revirando os olhos, novamente.

— Pelo jeito que tudo aconteceu, to achando que sim. - Respondi segurando um sorriso divertido, implicando com ela.

— Não to te entendendo, cara. - Franziu a testa — Até umas horas tava todo bravinho e agora tá achando engraçado?

— Aqui senhora, só aproximar. - Disse o mecânico segurando a maquininha, encerrando o nosso assunto automaticamente.

Aquela PessoaOnde histórias criam vida. Descubra agora