2

644 57 0
                                    

POV :maiara

Voltar para casa naquele dia foi especialmente mais difícil do que nos outros, embora no restante daquela tarde eu tenha alternado meus pensamentos entre o que tinha acontecido no banheiro e como as coisas ficariam dali para frente.

No fim do expediente, caminhei com Luisa até a casa dela que ficava no mesmo caminho que a minha e depois fui sozinha até meu destino. a casa de Jardim mal cuidado e de aparência decadente, as flores mortas que não viam uma mão cuidadosa a anos, desde que minha mãe faleceu.
Ela ,amava flores, cuidar do jardim e acima de tudo, me amava. Ela sempre me desejou muito desde que soube da minha existência em seu ventre e cuidou de mim sendo a melhor mãe que eu poderia ter até meus 10 anos de idade, quando um câncer levou-a de mim muito precocemente, me deixando a mercê de um homem que infelizmente não desejava ser meu pai e me rejeitava por isso.
Minha mãe entendia meu jeito peculiar de ser, me dizia que aquilo me tornava especial e que nada a faria me amar menos ou deixar de cuidar de mim. mas aquilo era verdade apenas em nossa bolha de amor. Meu mundo simplesmente ruiu quando me vi sozinha com uma completa estranha debaixo do mesmo teto que eu alguns meses depois. Rose era uma mulher tão amarga quanto meu pai, não tinha um pingo de espírito materno e seu apelido preferido para mim era sempre "atraso"

Me acostumei a conviver com eles me escondendo cada vez mais, desde o primeiro dia em que meu pai me deu uma surra quando me viu deitada na minha cama abraça a um bicho de pelúcia e uma chupeta na boca, chorando de completa saudade da minha mãe. Naquele dia, enquanto deixava minha pele marcada pelo grosso cinto de couro, me fez uma ameaça eterna: se me visse fazendo aquilo de novo as surras seriam cada vez piores, pois ele não tinha criado uma filha retardada como costumava dizer.

Aquilo me feriu de formas que nem mesmo o tempo foi capaz de curar. Com os anos se passando tudo que eu mais queria era poder terminar de cursar minha faculdade, trabalhar com o que eu amava e ter meu próprio dinheiro para poder sumir da casa daquelas pessoas que eu não considerava minha família. Poder trabalhar entre as crianças me dava uma paz sem igual mas o final do dia era sempre um caminho de espinhos no qual eu precisava pisar descalço.
Passei pela porta trancando-a em seguida, dando de cara com rose preparando alguma coisa no fogão.

- não tranque a porta, Maiara, seu pai vai chegar logo. - com o passar do tempo e minha maioridade, rose começou a ter o mínimo respeito por mim me chamando pelo nome.

-tudo bem, eu já vou subir. aperto minha bolsa entre os dedos e subo as escadas rapidamente, me trancando no quarto e me jogando na cama antes mesmo de tirar as roupas.

Fecho os olhos e suspiro ao lembrar de Marília, mais uma vez, e da sensação esmagadora que me consumia para estar entre os braços dela de novo.

Quando eu já havia tomado banho e algumas horas já tinham se passado, ouvi vozes na cozinha e pouco depois rose gritou para que eu fosse jantar.

Me sentei a mesa sem dizer muitas palavras, meu pai apenas me direcionou olhares tortos enquanto sua esposa lhe contava do dia tediante que ela teve no trabalho.

Enquanto eu lavava os pratos, senti meu pai passar atrás de mim e ir em direção ao corredor que dava acesso aos quartos. Um frio percorrendo toda a minha espinha quando a voz grossa pronunciou meu nome em um tom nada bom.

- Maiara, o que é isso? - me tenciono antes de
enxaguar as mãos e me virar para trás, vendo que em suas mãos está a chupeta amarela que horas atrás estava no meu bolso. Droga, devo ter deixado cair enquanto subia as escadas. Meu corpo se arrepia em apreensão total.

-pai, eu trouxe sem querer para casa, uma das crianças colocou dentro do meu bolso. - suspirei fundo assim que ele chegou perto o suficiente de mim para segurar com força meu maxilar e vociferar aquelas palavras que viriam a seguir.

Minha Pequena Cor De MelOnde histórias criam vida. Descubra agora