UMA SEMENTE DE RANCOR. ATO 1

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A noite estava fria e solitária. O homem com um manto negro encapuzado seguia montado no seu garanhão negro, cavalgando devagar como uma sombra vagante dentre a escuridão. Os altos pinheiros em torno da estrada pareciam chegar ao céu devido suas copas não serem alcançadas pela vista naquela escuridão. A neve caia timidamente, mas ainda pintava boa parte da estrada de branco. O vento uivava de forma assustadora, sibilando por entre as arvores intimidando os que ousavam se aventurar naquele caminho deserto. Ecoava a orquestra natural e noturna de corujas solitárias que isoladamente emitiam seu canto, uma vez ou outra aos arredores na floresta.

Ayskar mantinha as rédeas de seu cavalo firme nas mãos, seguia pela estrada escura a qual não se podia ver um palmo a frente para um humano comum, mas para um Sorinter era como se tivesse num entardecer. Graças as alterações mágicas em seu metabolismo e órgãos internos desde seu nascimento, ele podia ativar travas mágicas em seu corpo que ajudava a apurar os sentidos, aumentar sua resistência e até mesmo mudar a forma que seus órgãos funcionam. Naquela escuridão, os olhos azuis do Sorinter se destacavam, a coloração cor do oceano, agora estava quase brilhante, devido a ativação da trava, o selo Xidogan de modo passivo, apenas concedendo uma visão de maior alcance, mais apurada e enxergando com muito mais clareza em meio a escuridão.


A viagem já se estendia por algumas horas quando já se era possível visualizar as luzes que cercavam os muros da grande cidade de Darah, a capital de Deilara. Ayskar apressou Akilo, fez com que o trotar do cavalo acelerasse com esporadas leves mas de fácil entendimento pela montaria. Como um relâmpago negro, o alazão seguiu pelo caminho estreito, que tinha mais neve do que vegetação a seu redor. O trotar do cavalo foi logo reduzido ao se aproximar dos portões da cidade, que mesmo naquele momento da madrugada estavam abertos recebendo uma patrulha que chegava junto ao Sorinter na entrada da cidade.

- Alto! – Bradou um dos soldados com armadura completa e elmo fechado segurando uma longa alabarda que estava de guarda nos portões, enquanto a patrulha adentrava a cidade observando o forasteiro. – O que queres aqui estranho?

- Apenas entrar na cidade, preciso de algum salvo-conduto? – Perguntou olhando nos olhos do soldado.

- Sim, precisa, além disso, a entrada de forasteiros na cidade só pode se dar início a partir do nascer do sol...

Um outro soldado também de armadura completa e alabarda em mãos, que fazia a guarda e observava a conversa, interrompeu o companheiro.

- Porra Eidren, és cego caralho? Olhe os olhos dele, é um Sorinter.

- Sorinter? Como eu ia saber? Nunca vi um desse, porra!

- Quem mais teria olhos azuis e brilhantes no escuro como um lobo da neve? Sua mãe? Deixe-o Entrar!

- Porra Daniel! Virou-se repentinamente ao companheiro. – Ficou doido? E desde quando podemos abrir os portões em plena madrugada para estranhos, mesmo sendo um Sorinter?

- Além de cego, vejo que também és burro. – O soldado se apoiou no cabo da alabarda balançando a cabeça. – Estamos a uma semana com ordens de assim que avistar um Sorinter ou algum paladino ou sacerdote, de manda-los imediatamente falar com o capitão de dia. Entre mestre Sorinter, precisa falar com o capitão. Ei você, Duan! Venha aqui moleque!

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