CRÔNICA DE AMOR E SANGUE. ATO 27

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Arredores de Redys, 14 de maio de 1264.

Redys era a cidade estado do continente, a maior em medida de território; tinha natureza neutra e não se envolvia em guerras desnecessariamente, mas sempre fornecia equipamentos, armas, suprimentos e até soldados para os demais reinos que tivesse boa relação; com destaque para o quarteto que a cercava pelo Passo de Ziul, Aendrina, Keadrina, Olaria e Sanlário.

Redys se mantinha firme no continente, forte na economia, na cultura e na defesa. Era o local onde ficava a maior capital do continente, Meriavel, lugar onde se estabelecia a respeitável universidade de Audrixkar, entidade educacional onde os maiores gênios do continente se formavam.

Nas redondezas da cidade estado, muitas vilas, povoados e assentamentos se estendiam; da ponta norte de Meriavel até a região pantanosa no sul de Redys, Velian. Nesse extenso pedaço de terra fazendo fronteira com Aendrina, ficava o vilarejo de Gars Dilan; lugar cercado por florestas de salgueiros, enormes campos de bétulas e um lugar reconhecido pela pesca graças ao desvio do rio Pamay que sangrava por dentro de Olarina e seguia norte acima passando por Redys e Aendrina, essa faixa d'agua era conhecida como rio Pilani.

O sol era encoberto por muitas nuvens cinzas carregadas de chuva; era comum no final do outono e início do inverno essa região receber fortes pancadas de chuvas por toda a fronteira. Por entre as bétulas num caminho de terra batida, já era perceptível os traços da guerra.

Por todos os lados, corpos e mais corpos espalhados em valas, empalados em estacas e até mesmo enforcados em cercas ou árvores robustas nos cantos das estradas úmidas. Ao longo do caminho esburacado pelas carroças bélicas, três cadáveres jaziam pendurados pelo pescoço em cordas grossas presos a uma cerca de forquilhas enormes. Um rapazote de pouco mais de dezessete anos com um gibão azul e parte de uma armadura velha no lado esquerdo do trio, um homem de meia idade aparentemente, também com um gibão de tachas escuras nos ombros, e no meio, um homem mais velho, pouco mais de cinquenta anos, vestia uma armadura mais completa que os outros dois mas ainda assim enforcado igualmente. No entanto, ostentava um cartaz em seu peito preso por um pequeno punhal, o sangue não conseguiu manchar completamente o aviso que estava escrito com letras claras: "Aqui jaz mais uma vergonha de nossa nação, morte aos traidores e desertores de Aendrina que ousaram a abandonar sua terra natal nas mãos dos imperiais."

Ao longe, dois cavalos trotavam retilíneos, montados neles duas figuras caladas e olhando a frente, um homem de casaco cor de lodo e boina vermelha. Sua montaria carregava uma bolsa enorme cheia de quinquilharias. O outro cavaleiro vestia uma armadura negra, usava uma capa escura como penas de corvo e um capuz cobrindo a cabeça, seu cavalo negro carregava um alforje bem grande com duas espadas dentro, e acima uma bolsa escura de couro.

- Ayskar, - falou então Leonardo que passara boa parte da viagem calado – devíamos descansar nesse vilarejo, os cavalos estão cansados e eu também.

- Akilo consegue viajar ainda quase duas léguas tranquilamente. – Respondeu o Sorinter com voz fria.

- Não adianta ele chegar lá e morrer depois.

- Então sugere que fiquemos hoje aqui?

- Isso, - confirmou o poeta – comer uma comida agradável numa estalagem e não roedores, aves e suínos selvagens que você matou num canto de estrada perto de cadáveres da guerra.

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