Enlace do Destino

ENCRUZILHADA PREDESTINADA. ATO 37

Astrea estava parada diante dele, seus olhos dourados marejados e seu pequeno corpo estático, não conseguia se mover, ainda assim chamava por Ayskar pedindo ajuda, assustada e paralisada.

Ayskar tentou andar, mas seu corpo não se movia, podia sentir uma magia totalmente diferente prendendo-o, restringindo cada movimento, nem as mãos para alcançar a espada ele conseguia mover. A cabana era velha, fedia a mofo e fungos, o casebre de madeira podre rangia com o peso do corpo de Ayskar tentando se mover e o caldeirão borbulhava.

- Que delicia, - disse uma voz feminina do mais puro vazio – o enlace do destino é formidável. Duas almas, ou melhor, três almas compartilhando a mesa encruzilhada do destino. Três personalidades diferentes, três caminhos que levaram ao mesmo lugar, isso é um deleite para mim.

- Moira! – Gritou Ayskar. – Apareça sua maldita!

- E para que? Para você cortar minha cabeça com sua lâmina?

- O que quer...

- Trazendo Astrea aqui? – A moira completou a frase de Ayskar antes do próprio – Não é obvio?

- Desgraçada.

- Eu sou a Tecelã do destino, seu caminho com essas duas não passa de um tricô que eu fiz quando estava entediada. – Parou de falar por um momento, bocejou e depois continuou – Minha irmã, a Pintora, ela queria que seu destino fosse com a feiticeira loira lá atrás, mas achamos isso muito sem graça, estava tudo muito no começo. Já minha outra irmã, a Escultora, teve a brilhante ideia de colocar seu destino entrelaçado com a sacerdotisa, e pensei: "Por que não?".

- Fala como se moldasse nosso destino a seu bel prazer.

- E de fato fazemos isso. – Sorriu a voz oculta – A ideia de colocar uma garotinha no seu destino foi minha.

Ayskar permanecia calado, não queria acreditar que todo seu caminho, cada passo que deu, cada pensamento e sentimento que sentiu por Liana e Astrea foi obra de um destino moldado por moiras.

- O destino é cruel, jovem? – Debochava a voz vinda das paredes, telhado e piso. – Não, somos superiores a isso, o que essa menina sente por você não é real, o que a sacerdotisa sente não é também. Você é um mutante, nasceu no meio do cólera do deus Eclipse e com sua maldição. Seu corpo tomado pelas mutações magicas criadas do eclipse fizeram de você um monstro. Quando Eygor de Montecorvo apareceu em sua casa, sua mãe o vendeu como uma mercadoria barata. Sete cruzadas de ouro, foi esse o preço, você valia menos que um cesto de milhos. Eygor o levou pois precisava de soldados, de Sorinters. Ele não é seu pai, Lehallys não é sua irmã, nem Weskey, Vetto, Evellyn, Coen, ou Emil. Nenhum são seus irmãos. Você é sozinho e para sempre será.

Ayskar se mantinha em silêncio encarando profundamente Astrea que chorava calada.

- Você não tem ninguém! – Gargalhava a voz da moira – Para sempre amaldiçoado. Nós moldamos cada passo, brincamos de fazer você sonhar em ter uma família! A sacerdotisa nunca será sua! A garota Astrea morrerá hoje por sua espada! Nós costuramos, pintamos e esculpimos seu destino do dia que você nasceu até o dia que você morrerá, que é hoje!