UMA PONTA DE VERACIDADE. ATO 22

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Acordou algumas horas depois com gotas gélidas batendo em seu rosto, sentiu a mão macia de Liana apertando a sua e dormindo ao seu lado. Sentou-se ainda segurando a mão da moça e olhou para o horizonte. Uma enorme tempestade se aproximava. Era uma sensação completamente diferente de qualquer coisa que já tivesse sentido, naquele momento nenhuma relação do passado tinha o peso que aquela mão macia tinha apertando a dele, e sabia que isso era perigoso, para ambos.

Ayskar percebendo a chuva que se aproximava, pegou gentilmente Liana no colo, encostou sua cabeça no peito e foi em direção ao templo; passou por caminhos mais discretos para que nenhuma das noviças faladeiras pudesse dizer algo, chegou ao quarto da sacerdotisa e conseguiu abrir a porta. Era um quarto simples, uma pequena cômoda de madeira com um espelho na parede, uma caminha para uma pessoa muito bem arrumada, e uma janela com alguns jarrinhos de flores diversas.

Colocou-a na cama, tirou seus negros cabelos do rosto, o perfume de glicínias e jasmim era doce, o perseguia, o enfeitiçava. Ayskar tocou seu rosto com textura semelhante a veludo, mas cada carinho e segundo próximo a menina se mostrava uma encruzilhada que ele não poderia escapar, e isso aparentemente o assustava. Estava sentado ao lado da garota que já era de seu conhecimento ter um sono pesado. Pensava muito e de maneira tortuosa, as palavras de Liana mais cedo sobre ser real ou um capricho do destino também eram sua maior dúvida, não conseguia distinguir, era tudo novo para ele, e assustador. Olhou novamente para a garota que dormia tranquilamente, beijou-a na testa, colocou os lençóis sobre ela e deixou o quarto.

Caminhou normalmente na direção do quarto de Astrea, o templo estava estranhamente silencioso, e dessa vez Malina não estava no caminho até a jovem garota. Desfez o selo da porta e entrou rapidamente, Astrea estava deitada, com as costas apoiada numa almofada confortável bem mais inclinada, dando a sensação que estivesse sentada, lia um livro que Ayskar conhecia pela capa, era um livro de Gerolfo Andrewan, "Ascenção do continente sobre o sangue dos elfos"

- Ayskar?

- Astrea, - se aproximou ficando de pé ao seu lado – como você está?

- Me sinto melhor, mãe Malina me traz livros todos os dias, o tempo vem passando rápido assim, e você? Por que não veio mais me ver?

- Malina disse que poderia te fazer mal, então mantive distancia, mas hoje precisava ver você.

- Ah, - fez beicinho – não sei como sua presença me faria mal.

- Eu também não sei, - sorriu ele – mas ela é a profissional.

- Você está dizendo.

Astrea olhava Ayskar de cima a baixo despertando um olhar curioso dele, ela sorriu e se aconchegou na almofada.

- Já lhe falaram que você fica mais bonito e menos carrancudo sem armadura?

- Não, - sorriu novamente – mas os monstros com suas presas e garras não se importam com isso.

- Olha só, você tem um ponto. – A menina fez uma pausa breve como se procurasse um assunto, algo para impedir que ele saísse de lá – Já viu quantos livros eu li? – apontou para uma pilha de três livros e em seguida apontou para uma maior de pouco mais de vinte. – E essa eu ainda vou ler, mas pedi a ela um que falasse de Sorinters, ela disse que a maioria só fala besteiras.

- Ela tem razão, chega para lá. – Ayskar deitou-se ao lado de Astrea o que deixou a menina extremamente feliz, aconchegando a cabeça em seu peito. – Eu tenho um amigo chamado Leonardo, ele viajou comigo algumas vezes e escreveu alguns livros sobre nós Sorinters e também sobre mim, cheio de exageros e falácias, mas sem mentiras, inclusive ele está aqui no templo.

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