ENTRE A MORAL E A RAZÃO. ATO 16

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A vila de Blakonis não era grande, comportava pouco mais de cento e cinquenta pessoas; era um lugar tranquilo e pacato como qualquer outra vila dentre as florestas e montanhas de Keadrina. Por ser pequena, não foi difícil evacua-la e concentrar os moradores, mercadorias e animais na vila vizinha que tinha o dobro de tamanho e se localizava a poucas milhas de lá.

Ayskar ficou surpreso com a agilidade das pessoas de se locomoverem em tão pouco tempo, em menos de um dia a cidade estava deserta, nenhuma vivalma andava por ali, seja as pessoas, cães ou cabritos que transitavam com frequência no vilarejo de clima um tanto frio mesmo com o final do inverno já ocorrido alguns meses atrás.

Caminhou por todo o local, estudou cada casa, taverna e beco da vila; passou horas admirando o céu, tateando o solo, desenhando símbolos em pergaminhos, inclusive no que receberá de Simon. Se alimentou em uma taverna, a mesma que encontrou Lehallys no dia anterior; almoçou uma truta defumada que para seu espanto estiva preparada apenas esperando a hora de ser servida, certamente o ultimo pedido de um cliente antes da ordem de evacuação. Bebeu cervejas de todos os tipos, sejam as fortes bebidas de Trotador a qual o taverneiro tinha um bom estoque, cervejas de Olarina, vinhos de Elares que estavam muito bem guardado e no final, desabou embriagado sobre uma mesa dormindo por horas.

Acordou sem nenhum resquício de ressaca; tomou um demorado banho e lustrou sua armadura, levou Akilo para o curral onde o alimentou com feno novo e lhe deu água limpa do poço. O sol já começava a demonstrar que iria se retirar em breve, e apenas um lugar daquela cidadezinha Ayskar ainda não tinha visitado, a igreja de Elara. Pensou por alguns minutos, refletiu bastante sobre a conversa anterior; pensou sobre Lehallys, sobre Simon e sobre o que deveria fazer de verdade, se seu plano, se ele realmente tivesse um, iria funcionar. Ayskar mandou seus pensamentos embora com uma golada na caneca de cerveja que carregava consigo, jogou o que restou no chão, e quando percebeu, estava parado de frente a enorme igreja de Elara, deusa do amor, da maternidade e da vida.

Adentrou a igreja vazia, olhou cada estátua de Elara e cada vitral bem desenhado. Caminhou para os fundos do lugar e não demorou a achar uma entrada oculta dentre as inúmeras estantes de livros da biblioteca da igreja. O caminho dava acesso a um longo corredor mal iluminado, mas não fazia diferença para ele, Ayskar tinha uma visão clara naquela penumbra. Desceu o jogo de escada o mais rápido que pôde até se ver de frente a uma porta muito bem reforçada, totalmente confeccionada em aço, com pequenos toques de dourado nas extremidades, sua empunhadura estava cercada por correntes finas que se ligavam a uma maior que prendia a porta e se envolviam em uma redoma no meio da porta, comum emaranhado de ligações que logo formavam formas geométricas. Ayskar não teve dificuldade para resolver o enigma da porta que se mostrou mais idiota do que difícil, pois se constituía de formar o símbolo de uma estrela de oito lados onde brilhava uma menor de cinco no meio, uma estrela que de acordo com as lendas Elara era apaixonada.

Ayskar hesitou algumas vezes antes de abrir a porta, mas resolveu fazer isso, empurrou a pesada e maciça porta e entrou num quarto escuro, abafado e com um cheiro de morte insuportável. Diante dele estava sentada ao solo frio uma menina, cabelos longos e loiros claro cobriam seu rosto, usava um vestido azul em trapos, estava tão desgastado e fino que podia se analisar a silhueta da menina pelo lado de dentro do vestido, a criança estava presa pelos braços e pernas por correntes de ouro e âmbar, pedra preciosa necessária para reprimir os poderes malignos. A menina percebeu sua entrada na sala, rapidamente seus enormes e lindos olhos rapineiros, amarelos como de uma águia fintaram o Sorinter e se encheram de desespero; a menina cambaleou, se arrastando para o fundo do recinto.

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