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     Wang Yibo


Não consigo crer que depois do susto na floresta com aquele homem sombrio, eu ainda sou acusado de adultério. Será que não terei paz nunca na vida?

Apesar de no castelo da minha família eu sentir que me desprezavam, nunca fui tratado com tanto desrespeito. Uma lágrima cai em meu rosto e meu peito aperta tanto que sinto dor no coração.
Entro no meu quarto, vou até a janela sentindo necessidade de ar puro, pois parece que não consigo respirar direito. Solto um soluço sofrido quando a porta abre abruptamente. Eu nem me assusto, à medida que tenho ciência de que é o ogro do meu marido. Não me viro em sua direção, apenas observo o horizonte querendo sumir.

— Como teve a coragem de...?

Ele não continua, como se fosse difícil proferir algo insano que passou pela sua cabeça. Engulo sentindo um gosto amargo na boca, sem acreditar que depois de ser maltratado, humilhado, ainda sofro mais ataques por
alguma coisa que não fiz.

Xiao Zhan pega no meu braço para me virar à força, choro mais ao sentir dor pela intensidade exagerada que me aperta. Fito seus olhos em súplica, porém ele parece estar ensandecido e apenas encara-me com ódio.

— Diga alguma coisa, por que se encontrou com SuShe na floresta?
Acreditei por um segundo que estava magoado com as humilhações, mas não...
De novo, ele interrompe e faz uma careta de ódio, agonia e ressentimento.

— Você... está me... machucando. — Meu tom sai tão embargado que ele me solta com um brilho de remorso.

Levanto meu rosto e encaro-o seriamente. Mesmo que as lágrimas não parem de cair vislumbro-o com o queixo erguido, com o mínimo de dignidade que me resta.
— Milorde, sinto-me ofendido por pensar... algo assim de mim.

Ao lembrar de sua amante, ondas de mágoa e ira passam em meu corpo.

— Acredito que não lhe devo explicações, pois se dei liberdades a outro homem ou não você não tem nenhum direito de reclamar, já que desfila e demonstra abertamente que tem uma amante e prefere-a para esquentar sua cama — embora tenha dito em tom baixo, minha voz saiu tensa e dura.

Meu marido, por um segundo, parece constrangido, contudo avança ficando muito perto, contanto que seu hálito bate em meu rosto quando fala de forma cruel:
— Eu posso ter o ômega que quiser! Você não tem que questionar isso.
Suas palavras cortam-me tão profundamente que vou para trás e começo a ver tudo embaçado, pois minhas lágrimas descem em abundância agora.
— Nesse sentido, você tem que me obedecer e me respeitar.

Subitamente, sinto que perco as forças, porque não foi só o que falou e, sim, a maneira que foi dito, demonstrando claramente que minha vontade, desejos e felicidade não lhe importam nem um pouco. Nas entrelinhas compreendi que para ele o fato de sentir-me desconfortável com a situação, não é problema dele e que devo engolir tudo como um esposo obediente.
Dessa forma, quase caio no chão, só não caí porque ele me segurou em seus braços.
Ouço ao longe ele me chamando, mas não respondo porque sinto uma fraqueza enorme. Cheguei ao meu limite, depois de uma vida de humilhações e de pessoas que me odeiam só por eu ser quem sou, foi demais ouvir isso dele, principalmente depois da nossa noite de núpcias, que imaginei que tivesse sido especial para ele também. Pensei que houvesse mudado, mas em minha vida nunca ninguém se arrependeu de me maltratar, por que isso iria acontecer agora?

O homem que se deitou comigo só foi gentil e carinhoso porque imaginava outra, nunca teria agido daquela forma se sua atenção estivesse focada apenas em mim.
Não deveria machucar tanto, mas machuca e muito. Uma depressão me consome ao constatar que amo um homem que nunca irá retribuir meus sentimentos, e viver ao seu lado sabendo e vendo que prefere outra será doloroso em demasia.
Por um momento sinto que a força que possuía antes se perdeu, ficando um desalento sem fim. A perda do meu pai já foi dolorosa demais porque ele era a segunda pessoa nesse mundo que me amava do jeito que eu sou, e as pessoas não me humilhavam abertamente, fizeram isso só depois de sua morte.
Gostaria que o meu marido não tivesse atingido meu coração em cheio tornando-o apenas dele. O que sinto é intenso demais para acreditar que irei lidar com suas agressões por muito tempo.

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