29

509 93 9
                                    

    29

       Xiao Zhan

  Desço as escadas sentindo uma dor dilacerante no peito. Não pelo fato da criada de Yibo ter matado meu inimigo, irei agradecê-la eternamente por ter chegado antes de mim e ter impedido o pior, mas sim porque eu me distraí como nunca antes e me sinto indigno do meu ômega.
. O meu amor por ele é tão leve, reconfortante e intenso que sinto ódio por não ter cuidado dele como merece.
Além desses sentimentos, sinto uma vergonha me corroer por dentro. O que meus guerreiros irão pensar de mim?
— Quer ajuda, milorde? — Kennan questiona-me solícito tirando-me desses devaneios.

Eu não digo nada, mas ele vem atrás de mim. Logo após, SuShe também vem quando chegamos ao pátio. Vamos caminhando em silêncio absoluto até o meio da floresta. Escavamos a terra funda o suficiente para caber o corpo de Alexander.

Quando terminamos de enterrá-lo voltamos sem proferir nenhuma palavra até eu me pronunciar com um tom incomum na minha voz.
— Peço desculpas por não ter treinado vocês como devia, peço perdão por ter estado desatento, peço... — interrompo quando minha voz embarga.

SuShe segura meu ombro esquerdo como sinal de apoio e compreensão.
— Ninguém te culpa, por esse motivo não peça desculpas. Além disso, nós ficamos apreensivos demais por causa de Yibo, todos sentimos um apreço enorme por ele, então fica difícil pensar com coerência.  Kennan balança a cabeça concordando com ele.

— Milorde sabe que quando aconteceu... aquele incidente... com minha família... eu me culpo, mas...  com o tempo eu percebi que foi inevitável. Eles usaram a minha fraqueza para conseguir o que queriam e... conseguiram.
Alexander fez a mesma coisa. Utilizou do seu sentimento pela sua esposa para conseguir te dominar.
Coloco as mãos no cabelo sentindo-me um fracassado.

— E por causa disso, ele... encostou aquelas mãos sujas... em Yibo!

SuShe respira fundo antes de retrucar:
— Sim, infelizmente.

— Eu sou uma farsa! Você não entende?
— Fito-o arrasado, sentindo um gosto amargo na boca. — Não protegi meu castelo e o ômega que amo.

— Você protegeu sim! — ele diz convicto.

— Como? Eles ficaram sozinhos... — Não consigo terminar, pois a imagem do que ele pode ter feito  faz com que eu veja tudo vermelho e meu sangue borbulha no peito de ódio, sentimento esse direcionado a mim por ter permitido isso acontecer com ela.
— Mas Isaura... — ele tenta falar, mas eu solto um rosnado o impedindo.
— Quem devia tê-lo protegido era eu e não a criada dele!

— Você não entende, Zhan! — SuShe berra e nós paramos sobressaltados olhando para ele. — Alexander pode ter conseguido entrar, mas nunca, em hipótese alguma, teria conseguido dominar seu castelo.
Aposto que seria muito pior se você tivesse morrido e deixado a seu esposo nas mãos dele.
Franzo o cenho sem entender o que quer dizer, pois para mim tudo foi um fracasso. Portanto, SuShe solta o ar impaciente antes de prosseguir: — Sabe quantos de nossos homens morreram?

Balanço a cabeça em sinal negativo, já que em todo momento a única coisa que me importava era chegar a tempo do Alexander não violentar Yibo como o pai dele fez com minha mãe. Dessa forma, eu lutava matando quem estava à minha frente sem ver direito quem eu estava eliminando do meu caminho.

— Nenhum! — replica quando percebe que não vou responder.

Arregalo os olhos acreditando ser impossível.
SuShe solta uma risada e com os olhos brilhando continua:
— Você nos treina para vencer. Não tem como prevenir do mal nos alcançar, mas milorde tem a capacidade e habilidades o suficiente para acabar com qualquer batalha.

Para de sorrir e fita-me sério. — Na vida, não temos o poder de impedir que a desgraça nos atinja, Zhan. Mas a maneira como vamos lidar com ela é o que nos torna fortes. Entende?

— Sim. — Um leve sorriso transparece em minha face e olho para os dois com orgulho.
— Quer dizer que nenhum dos meus guerreiros morreu?
— indago feliz com essa notícia.

— Não. Poucos se feriram, mas nada que alguns dias de repouso não resolva. — Olha para o castelo onde estão meus guerreiros e os de Alexander. — Poucos homens do seu inimigo sobreviveram à batalha, porém os que ficaram... reflita com carinho se não vale a pena mantê-los aqui. Quanto mais guerreiros protegendo o castelo melhor.

— Irei pensar, meu amigo.

SuShe fita-me emocionado por chamá-lo assim e voltamos sentindo uma leveza diferente, no entanto, ao ver um cabelo escuro ao longe me recordo da traíra da minha ex-amante, e pergunto ao Kennan e SuShe o que fizeram com ela.

— Não podíamos matá-la, ela é mulher e ômega.
Com muito custo concordei com Kennan.

— Estávamos esperando o que irá decidir, entretanto, eu ponderei que levá-la para bem longe e conferir se ficará por lá será a melhor coisa. Junto com a criada, obviamente.

— Boa decisão, Kennan. — Ele abre um sorriso satisfeito. — Você pode escolher alguns homens para ir nessa jornada. Deixa ambas em um lugar que seja bem difícil de voltarem. — Abro um sorriso de lado.

— Aliás, poderiam fazer a viagem com os olhos de ambas vendadas para não saberem como retornar.
Nós três rimos e refleti que eu sou um felizardo por ter homens tão fiéis ao meu lado.

Saber que quem me traiu foi MianMian, faz com que sinta um alívio no coração por ter escolhido os melhores guerreiros para trabalharem comigo.

Feliz por ter seguido meu coração quando escolhi todos eles antes de eu vir para esse castelo ser o que minha família nunca teria imaginado: um conde.
Olho para cima, onde fica o meu quarto com Yibo, voltando a sentir um remorso intenso no peito, me questionando se Yibo, algum dia, irá me perdoar por ter sido distraído o suficiente para ter-me deixado, quase, ser abatido em sua frente e ter sido quase violentado pelo homem que atormentou minha vida. .

A amargura consome meu coração ao relembrar que naquele dia que queimei o lar do Alexander para vingar a morte da minha família, matando todos dentro da casa, não consegui deixar meu inimigo morrer, pois era uma criança que gritava por ajuda porque estava na entrada da casa querendo salvar sua mãe e irmãos.
Lembro-me de que, quando o peguei no colo para salvá-lo, ele fitou-me com ódio e mesmo tendo apenas dez anos disse que iria se vingar de mim.
E após cinco anos, eu com vinte e ele com quinze anos, ele tentava me
matar em qualquer oportunidade.

Se eu não tivesse tido pena dele, Alexander poderia estar morto e Yibo não teria passado por momentos de terror.

Engulo em seco sentindo a culpa me consumir. Será que por causa disso perdi todas as minhas chances de fazer Yibo me amar?

(....)

Não escolhi você Onde histórias criam vida. Descubra agora