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Wang Yibo

Estou prestes a chorar de medo, angústia, constrangimento e tristeza, tudo ao mesmo tempo, enquanto o padre celebra o meu casamento com Xiao Zhan.
Ele poderia disfarçar um pouco?

Desde o começo da cerimônia me olha com fúria, nojo, insatisfação. Como se fosse minha culpa ele estar casando comigo.

Xiao Zhan deveria saber que não estou feliz com esse casório também.
Casar com um alfa que te trata mal apenas porque não te acha atraente é deprimente.
Saio desses devaneios quando o padre pergunta se o mesmo me aceita como esposo e ele resmunga um sim, que parece mais um rosnado fazendo o padre o olhar meio confuso por uns segundos. Ao perceber que Xiao Zhan não falará mais nada acaba entendendo como um sim e fita-me de soslaio como se estivesse com pena.
Suspiro desalentado. A vida ao lado dele será terrível.

— Pode beijar o noivo — o padre profere solene após eu dizer que o aceito como marido quando me questiona a mesma pergunta que fez a ele.
Xiao Zhan me olha com desprezo, então eu penso que vai negar, porém abaixa a cabeça e encosta seus lábios nos meus de forma rápida. Ao levantar a cabeça me olha estranho, como se estivesse me acusando de algo.

Por um segundo me dá vontade de dizer que para mim não foi agradável também.

Minha garganta aperta com vontade de chorar, porém me seguro. Não posso chorar na frente de todos, principalmente na frente dele.
Enquanto saímos da igreja, ele pega meu braço com selvageria como se estivesse saindo com um estorvo ao seu lado. Meu Deus! Eu não tenho culpa se o rei nos uniu.

Será que não vê que a culpa não é minha? Que não estou o forçando a nada?

Começo a sentir que a tristeza se transforma em uma fúria imensa refletindo que o fato dele não me achar bonito é uma questão que entendo, pois muitos alfas falam abertamente que não acham agradável olhar para um ômega como eu, mas me desprezar assim?! Acho que é excessivo. Se está tão insatisfeito reclame com o rei, contudo ele sabe que não irá adiantar, visto que não foi um presente que poderá ser devolvido.
Ontem tive muita dificuldade para dormir, pensando sobre o comportamento de Xiao Zhan, sentindo medo do que poderá fazer comigo. Ele demonstra, abertamente, que se encontra com tanta ira em me ter como
esposo que... não gosto nem de pensar. Mas sei que não será delicado na nossa noite de núpcias. E isso amedronta-me em demasia. Se já é violento antes de consumarmos o casamento, imagina...?

Engulo em seco com a imagem tenebrosa que surgiu em minha mente, dele tirando minha inocência com uma violência que poderá me causar uma dor inimaginável.

Balanço a cabeça tentando tirar isso da mente, mas ao olhar meu marido, que agora me encara com os olhos brilhando como fogo em chamas, meu estômago embrulha. Nesse instante, estamos nos encaminhando para o castelo a pé, pois não é muito distante da igreja, e eu penso que a vida tranquila que tinha aqui irá terminar muito em breve e esse pensamento faz arrepios gelados perpassarem minha espinha.

A minha sorte foi que, mesmo que minha mãe não tenha vindo conversar comigo sobre a noite de núpcias para me preparar melhor, Isaura veio, porque já foi casada com um guerreiro que morreu em batalha, no começo do matrimônio, então não tiveram filhos.
Ela disse que tem homem que é carinhoso, delicado. Ocorre que possuem outros bem agressivos, e tem medo de ser esse o meu caso.
Pareceu-me bastante amedrontada ontem ao conversar sobre isso comigo.

Orientando-me para não questionar nada, que se ficar quieto pode ser que doa menos. Implorou para não ficar falando sem parar, visto que esse meu jeito pode fazer com que o conde fique mais raivoso.

Obviamente depois disso não dormi mais. Aterrorizado do que possa acontecer.
Quando chegamos ao castelo vejo que tem uma recepção preparada para nós. Após algum tempo que estamos lá, Xiao Zhan continua não me dirigindo a palavra.
Fazendo questão de me ignorar. Apenas o guerreiro dele, que conheci como SuShe, tem sido gentil comigo.

— Não tenha medo, menino. Ele parece bruto, no entanto quando o conhecer melhor verá que é uma pessoa maravilhosa e gentil — SuShe sussurra no meu ouvido assustando-me.

Estou encostado no canto do salão do castelo sozinho, uma vez que parece que ninguém me nota aqui.
Apesar dos pensamentos de como será minha vida terem me deixado deprimido, eu fico aliviado em estar sem ninguém por perto, porque não estava mais suportando o olhar de ódio do alfa. Em vista disso, quando o guerreiro vem falar comigo dessa forma meiga, eu viro para ele com lágrimas nos olhos.
Estava tentando segurar o pranto desde ontem, todavia ao ouvir esse tom amável sinto que ele soltou algo dentro de mim e isso me fez sentir mais falta ainda do meu pai.

Pois ele era assim como o SuShe, gentil, atencioso e amoroso.
Fisicamente, eles não têm nada a ver, enquanto meu pai era baixo com olhos escuros, esse guerreiro é moreno .
— Não chora, menino — pede, mansamente.

Faz carinho na minha cabeça, como meu pai fazia, então me emociono mais.

Engulo em seco. Mas não consigo dizer nada. Só fico olhando para aquele rosto já com algumas rugas, compreensivo e começo a sentir conforto.

— Vai ficar tudo bem — SuShe continua com a voz mansa.
Dou um pequeno sorriso de agradecimento e, por incrível que pareça, ao olhar em seus olhos eu confio que tudo ficará bem.

Ele põe a mão em meu ombro com doçura.
— Irei cuidar de você — promete com a voz emocionada. Seus olhos brilham. — Você lembra meu filho que... — interrompe-se e não termina.

Viro-me para ele, esquecendo dos meus receios.
— Seu filho? — pergunto carinhosamente.

Ele me olha com tanta dor que compreendo.
— Sinto muito — exprimo de coração. — Sei como é perder uma pessoa tão amada.

SuShe me olha com lágrimas nos olhos, mas sorri.

— Obrigado, querido.

(....)

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