capítulo 1

953 110 11
                                    

Pov Mon

- Peço desculpa, senhora, mas os pais das crianças estão reclamando...- disse o diretor para a minha avó.

Estamos sentados na sala do diretor, minha avó foi chamada de novo, vou levar outro sermão, estou sendo expulsa pelas mesmas razões, acho que já me habituei.

- Certo, de qualquer forma eu já estava querendo tirar ela dessa escola - minha avó se levantou - Vamos Mon!

O caminho até casa é silencioso, já nem tenho medo disso. Costumava ter medo quando fazia alguma coisa de errado, minha avó é severa, acho que por causa de eu lhe lembrar minha mãe. Minha mãe...

Chegamos a casa.

- Mon... eu já não sei o que fazer contigo, é a terceira vez! Eu te disse para parar com isso, porque você continua se metendo em confusão?

A mesma conversa, o mesmo tom de voz, estou cansada disso.

Vou direto para o meu quarto sem querer ouvir mais nada, me tranco para não ser incomodada. Coloco meus fones de ouvido e uma música enquanto tento relaxar. Mas esses pensamentos não param, eu realmente pareço minha mãe? Nem cheguei a conhecer ela... se entregou quando eu era bebê e me deixou com a minha avó. As únicas coisas que sei da minha mãe é o que se encontra na internet já que minha avó não gosta de falar sobre.

Lembro quando era criança, a primeira vez que sofri bullying por ser filha da "Ripper Woman"... eu era apenas uma criança. Nesse dia minha melhor amiga não falava comigo, todo mundo começou a me chamar de aberração, fui confrontar ela e perguntar se tinha começado esses rumores, ela debochou de mim e não me controlei, soquei a cara dela e fui embora deixando ela lá chorando. Quando cheguei a casa minha avó já sabia do ocorrido, gritou comigo e me trancou do lado de fora de casa, estava chovendo nesse dia.

Depois disso aconteceu mais duas vezes, sendo uma delas esta que aconteceu essa manhã. Odeio que digam que sou assassina ou uma aberração, não me controlo, aprendi a me defender sozinha e sempre que alguém tenta fazer alguma gracinha comigo eu acabo surtando.
17 anos de vida e 11 deles sofrendo por ser filha de quem sou, qualquer um na minha pele surtaria e faria alguma coisa.

- MON, VEM AQUI, TENHO QUE CONVERSAR COM VOCÊ - minha avó grita lá no andar debaixo, certeza que é sobre a próxima escola que vou frequentar, sinceramente nem tenho mais vontade.

Desço as escadas e vou para a sala de jantar, a comida já pronta na mesa, tem um cheiro bom, não tinha reparado que estava com tanta fome. Me sento de frente para minha avó e espero ela falar.

- Já encontrei uma nova escola, e espero que não haja problemas outra vez, tive que subornar um pouquinho a diretora... garanti que desta vez ia ser diferente, então não me envergonha.

"Não me envergonha" é tudo sobre ela... tenho certeza que ela nem queria que eu estivesse aqui, mas ela não teve escolha...

Como em silêncio, minha avó nada falou depois disso, melhor assim, não quero estar me chateando de novo. Estou farta de andar de escola em escola, mas também não me esforço para me controlar, talvez eu devesse acabar com minha vida logo, assim minha avó seria feliz.

Subi para o meu quarto, amanhã iria conhecer a nova escola, apenas uma breve apresentação que a diretora ia me fazer, no dia seguinte vou começar nas aulas.
Tomei um banho relaxante, tenho uns hematomas na barriga,no lado direito, por causa da confusão em que me meti.

- Merda - esbravejei quando encostei no hematoma.

Com o banho tomado fui dormir, amanhã seria um longo dia.

✩₊˚.⋆☾⋆⁺₊✧

Acordo de manhã com o celular tocando, era meu alarme. Levantei e fui fazer minha higiene. Como ainda não tenho meu uniforme coloquei um moletom simples preto com umas calças pretas, no pé meu all star vermelho todo surrado.

Desci, minha avó já tomava o café da manhã. Me sentei e ela logo falou:

- Mon, vou te levar na escola para a diretora te fazer a visita guiada, e você trata do uniforme com ela e o resto da papelada, eu vou ter que ir visitar uma pessoa, depois eu volto para te buscar, não venha para casa sozinha, me espera no portão.

- Tá.

- E nada de gracinhas ouviu? Nem é seu primeiro dia, se você fizer alguma coisa não vou mais tolerar, haverá graves consequências. Estamos entendidas?

- Tá...

Ela continuou a falar algumas coisas que eu não fiz questão de ouvir. Acabei meu café da manhã e esperei ela na sala para me levar.

Entramos no carro e seguimos para a escola.
A escola ficava 1h30min de casa, percebi que não era uma escola normal, tinha dormitórios e era bastante grande, as escolas que eu frequentei eram sempre mais pequenas e com poucos estudantes.
Saí do carro e fui direto para o portão, a diretora já estava esperando por mim.

Passámos 1h dando uma volta à escola para quando vier amanhã saber mais ou menos para onde ir, pelo que percebi, a escola tinha sim dormitórios, você conseguia um dormitório se pagasse por ele ou tivesse notas altas. Mas eu não estava interessada nisso.

Fui levada para a sala da diretora e ela me mostrou um uniforme, era um pouco largo em mim, mas não importa, eu preferia assim mesmo. Tinha dois uniformes, um para o inverno e outro para o verão. O de inverno era azul, um azul clarinho, bonitinho até, o de verão era vermelho, pessoalmente gostei mais do de verão, ficava melhor em mim, já que está calor irei usar esse amanhã.
A diretora disse que eu tinha que assinar um documento especialmente feito para mim, em que se eu criar confusão as culpas iriam diretamente para mim e a escola não pensaria duas vezes em me expulsar. Não tive escolha a não ser assinar. Ou seria isso ou desistir de vez da escola, não que essa ideia não fosse má, mas não quero desistir só porque as pessoas me acham uma aberração. De qualquer forma, pelo que percebi ninguém aqui sabe que eu sou filha da Ripper Woman, sem ser a diretora, ela me assegurou sigilo, também para que a reputação da escola não fosse manchada. Mas estava grata por isso, irei esconder ao máximo quem sou, se preciso até à minha morte.

Estava saindo da escola, alguns estudantes estavam passeando por lá, tinha umas meninas passando por mim, mas meus olhos foram parar em uma em específico, essa também estava olhando para mim, olhos castanhos amêndoa, cabelos lisos também castanhos, ela se destacava entre as outras. Desviei meu olhar para o chão e passei reto, será melhor não fazer amizades aqui, assim não irá acabar em confusão de novo.

Corri para o portão e o carro da minha avó já estava lá, entrei.

- Correu tudo bem? - minha avó perguntou enquanto dava sinal ao motorista para dirigir

- Sim... a escola até que não é má...

- Ainda bem, pode ser que assim você não crie mais brigas...

Como se as brigas que aconteceram fossem porque eu quis... eles mereciam, e se não tivesse consequências teria feito pior.

Cheguei em casa e fui logo para o meu quarto, coloquei meus uniformes no closet e fiquei olhando para eles.

- Será que desta vez vai ser diferente?... não importa, tentarei não fazer amizade com ninguém, mesmo se alguém se aproximar irei ignorar... isso, assim pode ser que resulte.

I'm not like her ● [Monsam] ●Onde histórias criam vida. Descubra agora