Oliver voltava com sua comitiva a cidade. A alvorada já se mostrava pronta, enquanto a madrugada se esvaia, uma densa neblina cobria as ruas, tornando quase impossível ver alguém a um metro de distância.
Naquela altura eles tinham que ser rápidos e sorrateiros para que ninguém que não devia os visse. Dirigiam-se ao palácio da justiça, onde o juiz Bernard os aguardava. Eles não iriam para a igreja, pois consigo levavam um corpo. Na traseira de seu cavalo, Oliver trazia alguém embaixo de um pano sujo onde já havia vestígios de gostas de sangue, se estava vivo ou morto ninguém saberia dizer.
Nas escadarias do palácio da justiça, o juiz Bernard já os aguardava, juntamente com o padre Frederic, Gerard e os frades Jullian e Harmon. Oliver foi surgindo pela neblina, montado em seu cavalo e seguido por seus cavaleiros.
- Graças a Deus estão aqui. - disse padre Frederic. - alguém os viu chegando?
- Não senhor - afirmou Oliver.
- Ainda bem. - disse Frederic aliviado. - Vamos, entrem logo antes que amanheça.
Os cavaleiros de Oliver tiraram o corpo da traseira de sua montaria e levaram até o calabouço. Era algum tipo de prisão escura, com correntes enferrujadas presas nas paredes. O homem trazido foi colocados em uma dessas correntes, ficando quase suspenso do chão. Agora dava para vê-lo melhor, era um vampiro de cabelos louros, ele estava visivelmente debilitado e quase desacordado, todo o seu corpo estava ferido, como se tivesse sido chicoteado por mil homens. Todos os presentes o olhavam com repulsa e, talvez, ódio.
- Ele estava escondido em uma fazenda abandonada - disse Oliver. - Mas um rato nunca anda sozinho, onde tem um, há vários.
- Existem mais como você? - gritou Frederic para o vampiro.- Responda, criatura imunda!
O vampiro mal se moveu. Respirava com dificuldade e não conseguia deixar os olhos abertos. Mesmo assim, Frederic ainda o indagava, a espera de uma resposta.
- Não adianta - disse Jullian. - Está quase morto, não nos falará nada.
- Ele vai falar - disse Frederic retirando um crucifixo de dentro de seu manto. - Fale agora, Deus o ordena!
O vampiro se contorceu ao sentir o crucifixo queimar em sua pele já tão debilitada.
- Por favor... - ele suplicou num sussurro. - Pare...
- Agora você fala. Diga-me onde estao os outros!
O vampiro não falou, seu corpo se contraia de dor e agonia, mas ele permanecia calado.
- Diga!
Frederic colocou a cruz em sua testa, o fazendo gritar de agonia.
- Ca... - ele tentava fazer sua voz sair. - Ca...Tacum...
- Catacumbas! - disse Harmon. - Estão em nossas catacumbas.
Frederic abaixou o crucifixo, o vampiro deu um longo suspiro e em seguida desmaiou.
- Malditos - disse Gerard. - Estavam escondidos bem embaixo de nossos narizes.
- Acalme-se, bom amigo - disse Jullian. - não sabemos se o que ele disse é verdade.
- Tem razão - disse Frederic - mas ainda assim é algo a se considerar, pois nunca os procuramos nas catacumbas. - seu semblante ficou assustador, parecia pensar em algo cruel. - Eles morrerão, meus amigos. Mas para que isso aconteça é preciso uma preparação prévia para que não hajam falhas.
**************************************Lucy não havia conseguido dormir tão bem naquela noite. As ondas de ansiedade e adrenalina ainda percorriam todo o seu corpo como uma corrente elétrica. Havia se arriscado demais naquela noite e ela nem mesmo conseguia entender o porquê de ter feito aquilo. Anthony lhe despertava afeição? Não poderia ser. Ele era um vampiro. Vampiro. Aqueles que não pertencem ao mundo dos homens, criaturas sanguinárias e terríveis que matam indiscriminadamente. Mas eles não a machucaram! Pelo contrário, foram corteses, pelo menos, alguns deles. E Anthony parecia se importar com ela. Ele havia lhe contado o seu segredo obscuro e ela não entendia o que o levou a fazer tal coisa, mas tinha certeza absoluta de uma única coisa: Anthony não a faria mal e nem permitiria que alguém a fizesse mal, fosse ele vampiro ou humano. Mas ela não poderia mais se arriscar daquele jeito. De jeito nenhum. No entanto, não conseguia conceder a ideia de não encontrar mais com Anthony. Porque ela queria encontrá-lo de novo? Lucy começou a se sentir tonta com tantos pensamentos que iam e vinham de sua mente de forma desenfreada. Ela levantou-se de sua cama indo em direção a cozinha, seu pai nao estava em casa e la logo percebeu isso. As vezes Lucy gostava de ficar sozinha em casa, ela amava seu pai, amava de todo seu coração, mas sua presença as vezes a deixava desconfortável. Ela não sabia explicar porque se sentia daquele jeito, mas podia ter algo haver com seus sermões insistentes e sua frieza para com certas coisas.
Após o desjejum, Lucy resolveu que sairia um pouco para tomar ar fresco. Ela precisava deixar a mente mais leve e o dia estava perfeito para ela caminhar lá fora. Lucy escovou e trançou seus cabelos, colocou seu vestido verde musgo e saiu de casa. A manhã não podia estar mais perfeita, o sol brilhava intensamente, não haviam nuvens no céu, mas não estava muito quente, na verdade estava bem agradável. Ela andava despreocupadamente, acenando para os feirantes que a cumprimentavam, passou pela barraca da senhora Petit, que acenou com um sorriso gentil. Ela se viu quase saindo de seu caminho habitual e indo em direção ao cemitério. Não era nada demais, Lucy já frequentava o cemitério antes mesmo de conhecer Anthony, mas naquele momento, ela não tinha intenção de ir ate lá, não naquele dia.
**************************************Anthony estava sentado sozinho em um dos túneis. Não era sempre que ele ficava sozinho, mas depois de tudo o que aconteceu ele sentiu mais confortável sozinho com seus pensamentos. Olhava para a parede de tijolos da qual escorria água da parte superior. Tinha que admitir que não estava pensando racionalmente desde que conheceu Lucy, havia a colocado em perigo e colocado seus companheiros em perigo também. Era algo que não conseguia tirar de sua mente. Ele jamais se perdoaria se algo acontecesse de ruim por sua culpa, por culpa de seu egoísmo.
Violet vinha andando pelo mesmo túnel quando viu Anthony sentado pensativo.
- Não consegue dormir? - ela perguntou.
Anthony olhou para ela com o olhar vazio e deu de ombros.
- É, eu também não - ela sentou ao lado dele.
Fez- se um silêncio de vozes, quebrado apenas pelo barulho das gotas d'água escorrendo das paredes e caindo rapidamente no chão de tijolos.
- Está pensando nela, não é? - ela disse.
Anthony arqueou as sobrancelhas e olhou para Violet, havia um pouco de surpresa em seu olhar. Ele já não conseguia mais disfarçar, se bem que ele nunca conseguiu esconder nada, era um livro aberto a qualquer um que interessasse.
- Ora, não me olhe dessa maneira - disse ela revelando um lisonjeiro sorriso de canto. - Não é preciso ser uma vidente ou cigana para perceber isso, está nítido em seu olhar.
Ela olhou para ele como uma irmã olha para seu irmão mais novo antes de confrontá-lo.
- Não é exatamente nela em que estou pensando - suas palavras pareciam pesadas. - Mas no que eu fiz por causa dela.
- Fala de quando a trouxe aqui, não é?
- Sim. Fui um tolo e inconsequente. Eu não me perdoaria se algo tivesse acontecido com vocês ou com ela.
- Há algo mais nisso tudo. Eu sei. Conte-me.
- Acho que é complicado demais para fazê-la entender.
- Tente.
Anthony suspirou colocando sua cabeça encostada na parede úmida de tijolos.
- Na noite em que estava fugindo dos guardas, entrei na casa dela como sempre fiz, sorrateiro e cuidadoso. De uma forma que nenhum humano perceberia a minha presença, mas... - ele respirou fundo. - De alguma forma, ela percebeu que eu estava lá e isso não me sai da cabeça. Um humano jamais teria notado minha presença em sua casa, mas ela notou. Lucy é diferente, ela...
- Não está sugerindo que ela seja como nós, não é?
- Claro que não, seria uma sandice. Mas é por isso que não consigo me afastar dela. Ela é intrigante para mim, ela me fascina e...
- Está apaixonado por ela.
Anthony assentiu. Violet conseguia tirar das pessoas o mais profundo de seus sentimentos sem o menor esforço e assim ela fez com ele. Anthony sempre a considerou como uma irmã, embora ambos tivessem desavenças, ele jamais deixaria de vê-la como uma boa amiga. Violet era uma mulher corajosa e irreverente. Sua vida não tinha sido fácil e, ao contrário da maioria daqueles que pertenciam a rebelião, ela havia nascido humana, mas não via o vampirismo como uma maldição.
- Anthony, você só me trás trabalho. - ela riu. - Escute com atenção, não serei eu aquela que te condenará porque ama a menina humana, mas tenha cuidado. Por favor, não se arrisque mais como vem fazendo. Arrume uma maneira mais segura de estar com aquela que você ama.
Anthony riu.
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Sangue Profano (FINALIZADO)
Romance*Plágio é CRIME previsto no artigo 184 do Código Penal 3 que possui punição que vai desde o pagamento de multa até a reclusão de quatro anos, dependendo da extensão e da forma como o direito do autor foi violado.* Capa por @xxxpersephone ♡ Sinopse:...