Capítulo 17 - Futuro Incerto

5 1 0
                                    

- Senhores, devo informar a minha partida para o lago dos lírios em breve - Oliver anunciou. - Acredito que já fiquei longe de casa há demasiado tempo, sem mencionar a ansiedade de minha mãe pela minha volta.
- Irá nos deixar, senhor Oliver? - Questionou padre Julian.
- Por pouco tempo, senhor padre. Acredito que voltarei para o meu casamento.
- Deixará Lucy até o dia do casamento, meu Lorde? - Harmon franziu o cenho.
- Não, senhor. De forma alguma. - Oliver explicou. - Na verdade, gostaria de expressar minha vontade de levar a senhorita Lucy para minha propriedade, minha mãe deixou bem claro em uma de suas cartas que gostaria de conhecê-la antes que o casamento acontecesse.
A expressão de Harmon ao ouvir o pedido de Oliver foi de repreensão. Estava desconcertado com aquilo, deixar sua filha partir sozinha para a casa dele, por mais que ele o conhecesse, achava aquilo sem o menor cabimento.
- Eu sei que não é muito apropriado...
- É bom ver que o senhor não perdeu completamente o juízo - ele disse rudemente.
- Antes que me censure, escute-me. - Oliver pediu. - Mandarei uma carruagem buscá-la em alguns dias, ela não ficará desacompanhada nem por um minuto, uma criada sempre estará ao lado dela e, confie em mim, não haverão liberdades de qualquer natureza. Tudo o que peço ao senhor, é que me deixe levar minha noiva, sua filha, para conhecer minha mãe e conhecer a propriedade que muito em breve também será dela. Ela terá todo o conforto e toda a hospitalidade que pode ser dada. Eu prometo.
Apesar das palavras, Harmon não parecia muito convencido. Ele tinha receio de deixar Lucy sozinha com Oliver em um lugar estranho. Aquilo era culpa dele, de certa forma, pois não a ensinou como se portar perto dos homens, pois nunca pensou que ela se casaria um dia. Ela não foi educada como uma dama da nobreza, ela sabia o mais superficial sobre as relações românticas entre as pessoas, mas nada além disso.
- Harmon, - chamou Frederic. - Posso falar-lhe um minuto em particular?
O frade assentiu e saiu da sacristia junto com padre Frederic. Eles andaram um pouco pelo corredor escuro e vazio da igreja até sentarem-se em um banco de madeira de carvalho posicionado na parede.
- Fale-me o que se passa em sua mente - disse Frederic.
- Acho isso tudo muito inapropriado, se quer saber. Lucy é apenas uma criança e deixá-la ir sozinha para a casa dos Dauphin é uma ideia absurda demais para aceitar.
- Meu caro amigo, escute-me - Frederic pôs a mão nas costas do frade. - Lucy não será uma criança para sempre, na verdade, muitas moças da idade dela já são mãe. Além disso, essa visita é uma ótima oportunidade para que ela se familiarize com sua nova vida e para que os jovens noivos possam usufruir um pouco da companhia um do outro.
- É isso que eu temo - Harmon suspirou. - Que alguma coisa inapropriada acontece entre eles. Você sabe tão bem quanto eu, que a nova juventude está corrompida com os maus e prazeres mundanos. Lucy não foi criada dessa forma.
- E é por isso que você deve deixar que ela vá. Para que ela aprenda por si mesma como se portar diante disso.
- E quanto a ele? Que tipo de pensamentos não devem percorrer naquela mente jovem.
- Não diga isso em voz alta, pois irá ofendê-lo.
- Na verdade, toda esta situação é culpa sua.
- Minha culpa? - sua voz pareceu cínica.
- Não se faça de inocente, pois foi você quem mandou cartas a respeito de minha filha para ele. Meu desejo era que Lucy se tornasse freira quando ficasse mais velha.
- Fiz isso visando o melhor para sua filha e para você também.
- E porque isso o interessa tanto?
- Porque... - ele parecia estar procurando alguma boa explicação. - Porque me importo com ela, é como se fosse minha filha também.
- Sabe o que é melhor para ela? Mais do que eu que sou o pai dela?
- Não me interprete mal, meu amigo. Ninguém mais a teria criado tão bem quanto você. Eu só estou dizendo que ela é uma moça e deve ter sonhos maiores do que se tornar uma freira e, convenhamos, você não é muito bom em lidar com assuntos do coração.
- Eu...
- Dê-lhe um voto de confiança. Não pense somente em você, pense em Lucy também. Lembre-se de que não ficará vivo para sempre e, um dia, irá para a graça de nosso Senhor. Tenha em mente de que quando esse dia chegar, sua filha estará segura com um homem que pode lhe dar alegria e segurança pelo resto de sua vida.
- Acredito que esteja certo. - ele bufou. - Eu só quero o melhor para minha menina e acredito que esteja sendo egoísta.
- Eu sempre estou certo. - ele disse de maneira convencida. - Mas fico feliz que a luz do juízo clareou sua mente.
- Não me provoque...
- Eu nem sonharia com isso.
Eles levantaram do banco e caminharam de volta à sacristia. Ao abrirem a porta, viram os demais sentados com feições preocupadas, especialmente Oliver. O olhar dele parecia distante e sua fisionomia era de descontentamento.
- Bem, - Harmon começou a falar, mas Oliver não parecia ter percebido a volta deles à sala. - Senhor Oliver? - ele chamou.
Oliver voltou a si e olhou confuso à sua volta.
- Perdão, senhores. Acho que meus pensamentos voaram para longe. - Ele sorriu sem graça.
- Como eu ia dizendo, - Harmon retomou a palavra. - Eu dou minha permissão para que Lucy vá até sua propriedade.
O rosto de Oliver se iluminou. O sorriso tomou forma em seus lábios e um brilho tomou conta de seus olhos, que também pareciam sorrir.
- Eu agradeço imensamente, senhor Frade - ele disse, pegando a mão de Harmon e a apertando com alegria.
- Acalme-se, meu rapaz - ele tocou a mão de Oliver com cautela, tentando passar sua calma para ele com esse gesto. - Espero que cuide bem de minha menina.
- Não precisa se preocupar, senhor. Ela estará bem segura no lago dos lírios, tem a minha palavra..

Sangue Profano (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora