Ela acordou em sua cama, ouvindo os sons dos sinos da Catedral ao longe. Há dias Lucy não conseguia dormir por completo, pois seu corpo estava em constante estado de alerta. Quando abriu seus olhos, teve a felicidade de ver que estava em sua casa. No entanto, mesmo de volta a sua casa e ao lado de seu pai novamente, Lucy sentia ainda uma sombra negra pairando sobre ela. A constante lembrança de que Oliver estava por perto a angustiava, pois ele sempre fazia questão de lembrá-la de sua presença. O Lorde havia designado um soldado para vigiá-la, ele ficava de pé na porta da casa e, quando a menina saia, ele a seguia de longe. Oliver havia convencido Harmon de que aquilo era para proteger Lucy de qualquer perigo, mesmo que ele não existisse, e o frade concordou, pois também queria que sua filha estivesse protegida. Ao levantar naquela manhã fria, a menina sentiu um frio em sua espinha, como um sopro subindo pelas suas costas e terminando em sua nuca. Percebeu que estava sendo feita refém dentro de sua própria casa, dentro de seu lar. Oliver havia conseguido lhe arrancar a liberdade antes mesmo do casamento. No dia anterior, o rapaz havia anunciado uma festa de noivado em duas semanas e adiantou o casamento em um mês. Aquilo desesperou Lucy profundamente.
Apesar de tudo, ela não teve coragem de contar a ninguém sobre o que havia sofrido no Lago dos Lírios. Ninguém acreditaria nela, pois a palavra de Oliver contra a dela era imbatível. Sua figura apática fora questionada muitas vezes naqueles poucos dias, mas Oliver sempre tinha uma resposta na ponta da língua e ela não tinha forças para contradizê-lo, mesmo que desejasse isso. Ela conseguiu esconder bem os hematomas em seus braços, usando apenas vestidos com mangas compridas. Tentava disfarçar as olheiras de semanas de noites mal dormidas, mas sem sucesso.
Seu desespero apenas sumia quando o rosto de Anthony vinha em seus pensamentos. O olhar gentil e acolhedor dele, de alguma maneira, a fazia sentir que havia uma felicidade possível para ela. Lucy queria vê-lo, desejava isso no fundo de sua alma. Seu corpo necessitava do toque de Anthony quase tanto precisava de ar em seus pulmões. Mas como poderia ir ao encontro dele, com o tormento de Oliver em seu calcanhar, seguindo-a aonde quer que fosse? Era um beco sem saída. O destino estava brincando com ela e isso a irritava profundamente.━───────⊹⊱✙⊰⊹───────━
Os vampiros retornaram à Paris naquela noite. Junto a comitiva vieram Sir Vladimir e Louis, seu servo e amigo mais íntimo. Ao voltarem para o moinho, tiveram a impressão de que nunca haviam saído de lá. Tudo estava exatamente igual a como estava quando partiram.
-Senhores, - Vincent disse com um tom firme. - Este é Sir Vladimir, chefe da aldeia de vampiros para a qual fomos. Ele veio para nos ajudar em nossa situação.
- Estou grato por estar aqui. - Disse Vladimir com um ar imponente. - Farei o possível para que tudo se resolva da melhor maneira possível.
De certa forma, a presença de Sir Vladimir os dava uma boa sensação. Uma sensação que não sentiam há muito tempo.
-Tudo correu bem na nossa ausência, Violet? - Perguntou o líder da rebelião.
- Tudo calmo e monótono como sempre, senhor. - Ela sorriu sem entusiasmo. - Todos em segurança.
- Isso me acalma. - Ele suspirou. - Temi que houvesse uma certa resistência a sua autoridade. Mas vejo que se saiu bem.
- Obrigada.
Vincent acomodou Vladimir no andar de cima. Um pequeno mezanino, coberto de feno e poeira. Ao contrário do que Vincent imaginou, Vladimir não se incomodou com a situação precária do lugar. Vincent admirava aquele vampiro. Ele era imponente, a verdadeira definição da palavra "vampiro". Gostaria de ser como ele um dia.
Benjamin, Sthephan e Anthony foram para fora do moinho. Sentaram-se perto da construção velha e desgastada pelo tempo.
-Enfim estamos em casa. - Comemorou Sthephan.
- Preferiria estar no vilarejo. - Disse Benjamin. - Este lugar é melancólico demais para o meu gosto.
- Você gostava daqui. - Declarou Sthephan.
- Até estar em um lugar melhor.
- Não se preocupem. - Uma voz masculina um tanto desconhecida surgiu entre eles. - Vão ser muito bem-vindos em nosso vilarejo quando tudo for resolvido por aqui.
Os três vampiros viram Louis de pé próximo a eles.
-E, se me permitem dizer, - Disse em um tom suave. - Será um imenso prazer tê-los por perto.
Louis se afastou deles, mas não antes de dar uma piscadela sugestiva na direção dos três amigos.
- Amigos, é impressão minha ou aquele homem estava nos galanteando? - Sthephan franziu as sobrancelhas com uma singela feição de confusão.
- Não foi impressão sua - afirmou Anthony. - Mas não foi conosco, só com Benjamin.
Um sorriso maroto surgiu nos lábios de Benjamin. Ele olhou para Anthony e Sthephan com um olhar sugestivo que parecia brilhar.
- E eu estava galanteando ele também. - disse Benjamin sorrindo.
- E porque você faria isso? - Sthephan ainda permanecia confuso.
Anthony e Benjamin se entreolharam e o riso mais sincero veio fácil aos lábios deles.
- Porque estão rindo?
- Não é possível que você não saiba! - Anthony ria com mais fervor.
- Não saiba do quê?
Os dois amigos ainda riam de forma contida, mas cada vez mais entusiasmados e com uma visível diversão com aquilo que estava acontecendo.
- Parem de rir, seus malditos - a voz de Sthephan se tornou rude. - Digam logo o que diabos eu não sei!
- Está bem, fique calmo - Benjamin pigarreou. - Eu sou um homem que... prefere a companhia de outros homens. Entendeu?
Sthephan ainda parecia confuso.
- Preste atenção, a mesma atração que você sente pelas mulheres, eu sinto pelos homens.
Fez-se um minuto de silêncio. Anthony segurava a risada enquanto Sthephan parecia ainda assimilar aquilo que lhe foi revelado com um semblante de um belo bobalhão.
- O que está havendo? - Violet apareceu por entre os arbustos. - Pude ouvir vocês lá de dentro do moinho. O que é tão engraçado?
- Sthephan acabou de descobrir que gosto de homens - Benjamin riu.
- Está brincando - O tom de Violet era de completa surpresa. - Como assim você não sabia?
- Isso não é algo que se percebe. Tenho certeza de que muitos não sabem disso.
- Todo mundo sabe. Eu nunca escondi isso.
- Isso não pode ser... Quer dizer... Não que eu tenha algo contra isso, longe de mim, mas... eu nunca tinha percebido.
- Você é mesmo um idiota - Anthony não aguentou mais segurar a risada e riu alto, contagiando Violet e Benjamin.
- Imagina o que mais ele não sabe até hoje - galhofou Violet.
- Ora... - Sthephan parecia irritado. - Eu não tenho culpa disso. Ele sempre escondeu muito bem de mim.
- Essa é a questão: ele nunca escondeu isso de você e nem de ninguém. - Anthony falou. - Lembra-se de quando íamos ao bordel e ele nunca entrava conosco? Porque você acha que ele fazia isso?
- Eu sempre achei que ele não queria beber o sangue das mulheres conosco.
- Eu ficava em outro lugar - Esclareceu Benjamin. - Ficava com os homens. Fazia o mesmo que vocês, mas com homens.
Os três amigos riam como crianças histéricas, se divertindo com o olhar confuso de Sthephan. Em sua mente, muita coisa não fazia sentido, mas passou a fazer quando ele pensou mais no assunto. Era algo que ele realmente nunca tinha percebido, a preferência de Benjamin por homens não lhe incomodava, o que realmente lhe incomodava era o fato dele nunca ter percebido isso. Ele se sentia o maior bobo de toda a Europa.
- Ele ainda está pensando sobre isso - Disse Violet rindo ainda mais. - Meu Deus, como alguém pode ser tão desatento?
Sthephan franziu as sobrancelhas e respirou fundo.
- Tudo bem, tudo bem. Podem me ridicularizar - ele afirmou. - Sou mesmo um bobo.
- Ainda bem que você sabe - Falou Anthony lhe dando um tapa nas costas.
Violet se aproximou e tocou no ombro de Anthony e sussurrou em seu ouvido:
-Preciso lhe falar. É sobre Lucy.
- Diga-me. - Ele ficou ansioso.
- Ela retornou da casa Dauphin.
- Isso é uma ótima notícia. - Ele comemorou.
- Não ficaria tão feliz se fosse você.
- Porque? - Ele franziu o cenho. - Ela está bem?
- Eu não sei. Não é possível saber. - O tom de Violet era sério. - Há um guarda a vigiando, dia e noite. Onde ela vai, ele a segue como uma sombra.
- Isso não é um bom sinal. Tem algo de errado acontecendo.
- Eu sei que não serei capaz de persuadi-lo a não ir até ela. - Violet estava bastante compenetrada. - Peço que tenha o máximo de cuidado. Não deixe que sua paixão o cegue e guie suas ações de maneira errônea. Prometa-me que tomará cuidado.
- Eu prometo. - Ele afirmou com a voz firme. - Não se preocupe, serei cauteloso.
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Sangue Profano (FINALIZADO)
Romance*Plágio é CRIME previsto no artigo 184 do Código Penal 3 que possui punição que vai desde o pagamento de multa até a reclusão de quatro anos, dependendo da extensão e da forma como o direito do autor foi violado.* Capa por @xxxpersephone ♡ Sinopse:...