Capítulo 09 - Um ato de Coragem

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Oliver correu até o estábulo, um criado celou seu cavalo e ele montou rapidamente. Ele galopou pelas ruas da cidade seguido por quatro cavaleiros de sua escolta. Os moradores se assustaram com tamanha movimentação, muitos tiveram que sair do caminho para não serem pisoteados pelos cavalos.
Lucy e frade Harmon estavam em casa quando ouviram os galopes dos cavalos e saíram para ver o quê estava acontecendo.
- Sr. Oliver - chamou Harmon quando o mesmo passava a sua frente. - O quê há?
Oliver puxou bruscamente as rédeas de seu cavalo.
- Fora da cidade, frade. - Oliver não entrou em detalhes, mas o seu olhar foi o bastante para que Harmon pudesse entender o que estava havendo.
- Devo ir a igreja imediatamente. - disse ele virando-se para Lucy que estava atrás dele. - Entre em casa e não saia de lá até que eu volte.
- Algo errado? - ela olhou para Oliver e depois para o seu pai.
- Apenas me obedeça. Vá - ordenou o frade.
Lucy não perguntou mais nada e obedeceu seu pai.
- Mandarei guardas para cuidar dela quando eu retornar - disse Oliver.
- Obrigado - agradeceu. - Deve ir agora.
Oliver assentiu e pôs seu cavalo a correr novamente.
Lucy esperou alguns minutos dentro de casa, depois olhou por uma fresta na porta e, ao não ver seu pai ou Oliver, abriu a porta e saiu. A garota viu que ainda haviam pessoas empolvorosas na rua. Na esquina, Lucy pôde avistar o rosto de um velho conhecido, Sr Samuel, um senhor de idade que andava de bengala e mancava de uma perna. O homem era um comerciante que vendia brinquedos por toda a cidade. Assim que o viu, Lucy logo tratou de chamá-lo.

- Senhor Samuel - ela acenou para ele.
O velho olhou na direção da moça e começou a andar lentamente na direção dela. Lucy, rapidamente, fechou a porta de casa e correu até ele. Ela não deixaria que senhor Samuel andasse até ela, quando ela mesma podia ir até ele.
- Senhor Samuel - ela o segurou pelo braço. - O senhor sabe o que está havendo?
- Inquietação, minha criança - ele respondeu com a voz arrastada. - Eles estão de volta. Muitos dizem que não, que sou um velho tolo, mas eu sei a verdade. Eles se aproximam de nós, criança.
- Eles? - Lucy perguntou, mesmo sabendo, lá no fundo, do que o senhor falava.
- Os vampiros, menina. O cavalariço espalhou para todos que quisessem ouvir, que há vampiros próximos de Paris. Aquele nobre que veio para cá, não veio para visitar, veio porque estamos em perigo novamente.
Lucy engoliu seco. Senhor Samuel era velho, mas não era caduca. Ele falava com muita serenidade e clareza para ser mentira.
- Tome cuidado, menina. Muito cuidado.
- Eu tomarei - disse ela.
Antes de ir embora, Lucy tirou uma moeda de prata de sua bolsa que carregava no cinto.
- Para Evangeline - disse ela dando a moeda para o Senhor Samuel. - Compre algo para ela.
Senhor Samuel sorriu para a menina.
- Deus a abençoe, minha querida amiga - ele agradeceu.
Lucy despediu-se dele e voltou correndo para sua casa.

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Frade Harmon chegou ofegante a igreja. Os outros membros já estavam na sacristia, seus semblantes demonstravam apreensão.

- O que aconteceu? - perguntou Harmon tentando normalizar sua respiracão.
- Fazendeiros relataram terem visto vampiros próximos dos limites da cidade. - Explicou Gerard. - Sr. Oliver foi para lá ver qual a real situação.
- A cidade já está comentando, especulando... - relatou Harmon. - Devemos nos posicionar?
- Por hora, deixem que especulem. Não há motivos para alardes - disse Frederic sentando-se em uma cadeira de madeira no canto da sala. - O povo tem muita imaginação, deixe-os imaginar, por enquanto.
- E se vierem até nós? - perguntou Julian.
- Que venham, o silêncio será a nossa resposta. Não falaremos sobre isso com ninguém.
Nem todos concordaram com aquela decisão, fazendo um silêncio duvidoso dominar o ambiente.

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Lucy estava inquieta em casa. Andava de um lado para o outro com a boca contraída. Ela pensava se o vampiro nos arredores de Paris seria Anthony e, se não fosse, será que ele sabia dos vampiros nas catacumbas?
Ela não conseguia controlar seus pensamentos, estava preocupada e não conseguia evitar.
"Porque estou tão preocupada?" Ela se perguntava. A garota decidiu então fazer algo ousado e muito perigoso, mas ela sentia em seu coração que aquilo precisava ser feito.
Estava entardecendo e os feirantes estavam recolhendo suas mercadorias. Frade Harmon ainda estava na igreja e Oliver ainda não havia retornado à cidade. Lucy julgou ser o momento perfeito para sair. Ela colocou sua capa e saiu furtivamente de sua casa em direção ao cemitério. A menina cortou caminho pelos becos mal iluminados, desejando que ninguém a visse ali. Até aquele momento, Lucy estava sendo movida por sua adrenalina, mas ao chegar a cripta, um vento gélido abalou seu espírito repleto de coragem. Por um momento, pensou em dar meia volta e retornar a sua casa, mas o seu coração e instinto a fizeram prosseguir. Ela desceu as escadas com cautela e seguiu pela catacumba amedrontada até avistar o portão de ferro.
Sthephan estava sentado em um dos túneis jogando pedrinhas na parede a sua frente que faziam eco.
- Porque o dia demora tanto a passar? - resmungou enquanto jogava outra pedrinha.
- Pare com este barulho - pediu Anthony sentado ao seu lado. - Está jogando essas pedrinhas há horas.
- Você não é mais divertido - disse Sthephan preparando-se para outro arremesso. - Além do mais, elas me distraem da fome. Preciso sair logo desse lugar e comer.
Sthephan largou as pedrinhas e respirou fundo.
- Por Deus, estou com tanta fome que estou sentindo cheiro de sangue humano.
- Eu também sinto - disse Benjamin um pouco mais afastado deles. - E está aumentando.
- Lucy! - exclamou Anthony levantando-se rapidamente e indo em direção ao portão.
- Como ele sabe? - Indagou Sthephan. - Só a viu duas vezes e já decorou o cheiro dela?
- Esqueça isso - disse Benjamin. - Mexa-se.
Anthony correu e encontrou Lucy próxima ao portão. Ele o abriu e se aproximou dela.
- O que faz aqui? - ele tentou não parecer inquieto.
- Preciso lhe dizer algo importante - disse ela mais aliviada vendo que não era ele o vampiro nos arredores de Paris. - Desculpe-me aparecer assim, mas...
- Você precisa ir - disse ele pegando sua mão e a levando dali.
- Anthony - uma voz surgiu do túnel. - Solte a moça e afaste-se.
Anthony soltou a mão de Lucy e ao virar-se viu Vincent aproximando-se do portão com outros vampiros atrás dele. Lucy se estremeceu ao ver todos aqueles rostos pálidos e lindos a fitando.
- Ela já estava de saída - disse Anthony. - Deixe-a ir, Vincent. Por favor.
- Eu a ouvi falar que tem algo importante a dizer - disse Vincent calmamente. - Quero saber o que ela tem a dizer. Aproxime-se, criança.
Lucy relutou em fazer o que Vincent pediu e olhou para Anthony com os olhos transparecendo desespero. Anthony saiu do caminho dela e deu a entender que ela devia prosseguir. A garota andou até o vampiro que a aguardava no portão. Vincent estendeu a mão num ato de tentar deixá-la mais calma. A mão da menina estava fria e trêmula, ela sentiu um frio na espinha ao tocar na mão de Vincent.
- Não tenha medo - disse ele. - Agora diga-nos, porque veio até aqui?
- Eu... - parecia que as palavras haviam desaperecido de sua mente. - Eu vim avisá-los. Os caçadores... Eles foram atrás de um vampiro nos arredores da cidade. Todos estão comentando sobre isso nas ruas. Devem ter cuidado.
- E como saberemos que não é um truque para nos enganar? - a voz de Lucca soou grosseira entre os outros.
- Eu não...
- Ela arriscou a vida para vir até aqui e nos avisar sobre o perigo que estamos correndo - disse Vincent. - Essa jovem não nos deve nada e mesmo assim ela veio.
Lucca ainda estava desconfiado e olhava feio para a menina.
- No entanto, - o tom de voz de Vincent mudou. - eu preciso perguntar o porquê de ter feito isso.
- Eu não sei, senhor - a boca de Lucy ficou seca. - Senti que precisava vir e contar o que estava acontecendo.
- Mas porque se arriscaria por nós, vampiros? Somos inimigos naturais. - disse Vincent. - Diga-me, senhorita.
- Porque não quero que nada de ruim aconteça com vocês - sua voz saiu baixa, quase como um sussurro. - Algo dentro de mim não quer que isso aconteça.
Vincent sorriu de modo reconfortante, pousando a mão sobre a cabeça da garota. -Tem um bom coração, minha criança. Seremos eternamente gratos a ti.
Lucy sorriu de volta com uma certa timidez. Anthony sentiu-se aliviado.
-Leve-a para casa em segurança, Anthony. - disse Vincent. - Que um dia possamos recompensá-la pelo que fez.
- Obrigada, mas eu posso... - Lucy foi interrompida.
- Não me negue este prazer. Deixe-me levá-la.
Lucy assentiu ao pedido de Anthony. Eles saíram das catacumbas e andaram pelo cemitério em direção às ruas até chegarem à casa da menina. A rua estava escura e nenhuma pessoa podia ser vista naquele lugar. Antes que Lucy pudesse entrar em casa, Anthony pegou sua mão.
-O que fez hoje foi muito perigoso - ele disse. - prometa-me que não tornarar a fazer tal coisa, eu não suportaria se algo lhe acontecesse.
- Eu prometo que não tentarei nada disso novamente, mas não irei hesitar em ajudá-los novamente.
Anthony sorriu.
-É boa por natureza, Lucy. Jamais conheci uma donzela com tamanho coração como o teu. Permita-me uma singela demonstração de agradecimento.
Anthony levou os lábios até a delicada superfície das costas das mãos de Lucy. As mãos dela estavam tremendo levemente, mas Anthony não ligou para isso, aquelas eram as mãos de Lucy e era só isso que importava para ele. A boca gélida dele encostou na pele de Lucy, fazendo seu coração acelerar. Por alguma razão, ele a fazia se sentir diferente, fazia com que ela se sentisse bem apesar de um pouco apreensiva.
-Boa noite, doce Lucy. - ele disse elevando sua cabeça para olhar bem nos olhos dela.
- Boa noite, Anthony.

- É a primeira vez que fala o meu nome. - ele ressaltou com uma certa surpresa boa em sua voz.
Lucy sorriu meio encabulada. Anthony conseguia fazê-la corar sem nenhum esforço. Ele sempre sabia dizer as coisas certas nos momentos mais propícios. Após se despedirem, Lucy entrou em casa e observou de sua janela, Anthony desaparecer pela noite. Ela podia sentir que sua vida nunca mais seria a mesma e, apesar disso a assustar, isso era algo que a dava esperanças. Esperança de que sua vida não seria monótona como sempre temeu, mas talvez fosse mais perigosa do que imaginou.

Sangue Profano (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora