Capítulo 35 - Família

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Os cavalos galopavam como o vento, dois soldados vinham logo atrás de Lucy, com espadas levantadas contra ela.
Lucy tinha a vantagem de seu cavalo ser mais veloz, mas os cavaleiros vinham fervor atrás dela e em algum momento, eles a alcançariam.
Sthephan estava sentado ao lado de Benjamin e Violet do lado de fora do moinho. Os três estavam apreensivos, Anthony estava demorando para voltar, a madrugada se aproximava e nenhuma sombra de Anthony foi vista por nenhum deles.
- Fui uma tola em concordar com isso - disse Violet roendo uma de suas unhas.
- Você sabe que mesmo que não concordasse, ele iria naquele baile de qualquer maneira. - respondeu Benjamin.
- Anthony tornou-se um tolo depois que conheceu a menina - Sthephan parecia mais preocupado do que seus dois companheiros. - Não devia ter deixado ele ir sozinho. Ele é muito imprudente.
- Veja só quem fala - debochou Violet. - O mais imprudente dentre todos nós.
Sthephan lhe respondeu com uma cara de deboche.
- Mas você tem razão - ela disse. - Um de nós deveria ter ido com ele.
Os três escutaram os galopes dos cavalos se aproximando rapidamente. Olharam para o breu depois da cidade e viram os dois cavaleiros com suas espadas perseguindo Lucy.
- Aquela não é...
- É a Lucy - gritou Sthephan. - Rápido.
Benjamin e Sthephan montaram em dois cavalos que estavam perto deles e correram ao auxílio de Lucy. Por um segundo, Lucy passou por eles, parecia que os quatro se chocariam, mas Sthephan e Benjamin foram mais rápidos do que um raio, decapitando os cavaleiros quase que ao mesmo tempo.
Lucy puxou as rédeas de seu cavalo e aos poucos ele trotou e começou a andar até que finalmente parou. Benjamin e Sthephan vieram logo em seguida. Os três desceram de seus cavalos, Lucy parecia que iria desmaiar a qualquer momento, sua respiração estava acelerada, seu coração parecia que ia explodir dentro de seu peito e seu rosto estava vermelho. Ela foi amparada por Benjamin, que a carregou nos braços.
- O que aconteceu? - Perguntou Violet inquieta.
- Calma. - Repreendeu Benjamin. - Vamos para dentro.
Violet e Sthephan entraram como um furacão dentro do moinho, causando espanto nos demais vampiros que ali estavam. Benjamin passou pela porta segurando Lucy em seus braços, foi nesse momento que a atenção de todos os vampiros se voltaram para aquela cena.
- O que uma humana faz aqui? - Questionou um vampiro mais adiante.
Vincent veio andando com uma rapidez descomunal, atravessando todos aqueles que estavam em seu caminho com facilidade e destreza.
- Venha criança. - Ele acolheu Lucy, ajudando-a a sair dos braços de Benjamin e a colocando sentada num monte de feno. - Respire fundo antes de começar a falar.
Lucy tremia e hiperventilava, parecia que ia desmaiar. Até aquele momento, foi como se nada fosse real, ainda não parecia real.
- Estávamos no jardim, Anthony pediu mais uma vez que eu fugisse com ele... - Sua voz era trêmula e vacilante, como se ela estivesse fazendo um grande esforço para não chorar. - Eu declinei seu pedido, foi então que Oliver nos encontrou... Ele ia matá-lo. Ia matá-lo... Então eu o matei.
- Por Deus, você matou Anthony? - Perguntou Sthephan com surpresa e pavor.
- Sthephan. - Violet e Benjamin o repreenderam em uníssono.
- Me desculpem. - Ele pediu. - Eu não sei lidar com o nervosismo. Perdoem minha tolice.
- Não... - Ela continuou com a voz embargada. - Eu matei Oliver. Ele ia matar Anthony e eu não podia permitir isso. Os guardas nos encontraram e agora ele será executado...
Enfim, as lágrimas que Lucy teimava em prender explodiram através de seus olhos. Ela chorava tal qual uma criança desesperada e desamparada, aguardando o consolo da mãe. As mãos da menina estavam sobre seu rosto, numa tentativa vã de controle.
Vincent a envolveu em seus braços num abraço acolhedor.
- É tudo minha culpa. - Ela sussurrou com desespero na voz.
- Não, não é. - Disse Vincent serenamente. - Anthony é um homem adulto. Ele sabia dos riscos de ir até você e mesmo assim ele foi. Nem você, nem eu e nem ninguém seria capaz de para seu ímpeto e sua vontade. Ele foi até você apesar dos perigos pois a ama. Não existem palavras que possam mensurar o tamanho do amor que ele sente por você Lucy. E esse amor que vai salvá-lo.
A jovem olhou para Vincent. Seus olhos azuis estavam muito mais ressaltados do que antes, os olhos vermelhos e inchados pelo choro fitaram os olhos vermelhos escuro de Vincent. Ela conseguiu ver certeza nos olhos do vampiro que a acudia. Ele não estava falando tudo aquilo para fazê-la sentir-se melhor ou menos culpada. Ele estava falando com completa convicção. Estava seguro de todas as palavras que havia dito.
- Não se desespere. - Ele tirou uma mecha loira que caia sobre o rosto levemente avermelhado de Lucy. - Nós vamos trazê-lo de volta.
Lucy não perguntou como, ainda que essa pergunta ecoasse dentro de sua cabeça. Ela acreditou na certeza de Vincent, pois era tudo que ela precisava naquele momento.
- Venha comigo. - Disse Violet. - Você precisa se limpar e descansar um pouco.
Lucy segurou a mão de Violet e a seguiu por entre os vampiros amontoados próximos dela. A jovem subiu a escada fina de madeira apoiada no mezanino do piso superior. Violet tirou seu vestido, deixando-a apenas com a roupa debaixo. Normalmente ela se sentiria envergonhado por estar apenas de trajes íntimos na frente de uma estranha, mas não havia espaço para aquele sentimento dentro dela. Sua mente estava uma confusão incessante e a única coisa na qual ela pensava, era em Anthony.
Ela sentou-se em um pequeno banco de madeira levemente desgastado pelo tempo. Uma sombra invadiu seu campo de visão, fazendo-a assustarsse ao ver que não estava sozinha ali.
- Perdoe-me, senhor. - Ela disse sentindo-se embaraçada. - Sinto muito se o incomodei. Não sabia que havia mais alguém aqui em cima.
- Não incomodou. - Disse o homem com um tom suave e aveludado.
Lucy assentiu e seu olhar voltou a ficar vazio.
- Perdoe-me pela intromissão, mas não pude deixar de ouvir o que dizia lá embaixo. - Ele se aproximou. - A sua história me lembra a de uma jovem que conheci.
Sir Vladimir tentou esconder sua inquietação. Estar ali, tão perto da imagem e semelhança de sua tão amada filha, do sangue de seu sangue, o fazia sentir uma ansiedade incomum para um vampiro tão velho.
Lucy o olhou com um brilho proveniente das lágrimas que ainda se faziam presente em seu globo ocular.
- Ela também estava assustada com o destino de seu amado.
- E o que ela fez? - Perguntou quase que sussurrando.
- Ela enfrentou todas as adversidades e incertezas para estar ao lado dele. - Disse olhando-a com ternura. - Sabe, o amor é a maior prova de coragem que existe. Pois é necessário abrir mão de tantas coisas por ele e enfrentar tantas dificuldades por ele, mas, no fim, tudo isso valerá a pena. Pois tudo vale a pena quando se ama verdadeiramente.
- Valeu a pena para ela? A moça da sua história?
- Eu tenho certeza que sim. - Declarou com um sorriso singelo e tímido em seus lábios. - O amor dela por ele transformou-se na mais singela feição e criação. Um bebê. Elizabeth teve um bebê, uma extensão do amor que sentia pelo homem que amava.
- Elizabeth? - Sua expressão foi de surpresa.
- Sim.
- O senhor a conheceu?
- Conhecer? Minha criança, eu lhe dei todo o amor e devoção que são possíveis a um pai. Eu a amei até o fim.
- Então, o senhor é o pai da minha mãe? Isso significa... - Seu rosto parecia ter se iluminado com a descoberta tão aparente em sua face.
- Você é minha neta, querida.
Os dois levantaram-se quase que no mesmo instante. Um silêncio se fez entre os dois e, em um impulso impensado, Lucy o abraçou com afeição. O vampiro correspondeu o abraço, a envolvendo em seus longos e fortes braços, como se a protegesse de tudo ao seu redor.
- Sangue do meu sangue. - Ele disse com um tom sutil. - Carne da minha carne. Eu lamento tanto que tenhamos nos conhecido nestas circunstâncias.
- Eu não lamento. - Ela disse, afastando-se dele com suavidade. - Pois até ontem, eu achava que havia sido abandonada pela minha mãe e pelo meu pai. No entanto, descobri que eles me amaram até o fim de suas vidas e agora descobri que tenho um avô. Nem em meus melhores sonhos eu poderia esperar por isso.
- Minha querida. - Ele passou delicadamente os dedos pelas bochechas avermelhadas de Lucy. - Não imagina a felicidade que há dentro de mim neste momento. Você é tão parecida com a sua mãe. Eu sei que ela a amou mais do que qualquer outra coisa em sua vida e eu amo mais do que qualquer outra coisa.
Ela sorriu docemente.
- Seu amor será salvo. - Ele afirmou. - Eu prometo isso a você, minha querida.

Sangue Profano (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora